30/01/2023

CRÍTICA | OS BANSHEES DE INISHERIN


Até onde vai uma amizade? É preciso preservá-la mesmo que nos puxe para baixo, ou é melhor encerrá-la para que cada um siga seu caminho? Estas são questões difíceis abordadas de maneira singular e interessante no novo filme de Martin McDonagh, "Os Banshees de Inisherin"

Os Banshees de Inisherin se passa na ilha fictícia de Inisherin, em 1923, durante a Guerra Civil Irlandesa.  Pádraic (Colin Farrell) é um homem extremamente gentil cujo ser inteiro é abalado depois de experimentar a crueldade de Colm (Breendan Gleeson), dois amigos de longa data cuja amizade é quebrada de forma abrupta por decisão de Colm, essa decisão consequências alarmantes para ambos e para toda a pequena ilha de inisherin,  Pádraic  faz de tudo para reatar a amizade com Colm contando com  o apoio de sua irmã Siobhan (Kerry Condon), de Dominic (Barry Keoghan), filho do policial local, e toda a vizinhança até que Colm toma decisões extremas sobre o fim dessa Amizade. 

A Ilha
Um dos pontos fortes do filme é a habilidade de imersão na ilha fictícia de Inisherin. O espectador consegue facilmente se familiarizar com a localização, graças à discrição detalhada da ilha. A forma como o roteiro se desenvolve faz com que nos sintamos próximos das pessoas e da rotina da ilha, permitindo que compreendamos a vida dos moradores e como eles vivem suas vidas. Em pouco tempo de filme, já temos uma visão clara de tudo o que acontece em Inisherin, o que contribui para a imersão no universo dessa fábula. 



Melancolia evidente
A fotografia do filme trabalha bem com a ambientação criando uma atmosfera sombria e melancólica que reflete o sofrimento de Pádraic em sua luta para reatar sua amizade com Colm. A habilidade de Ben Davis em capturar a tristeza da ilha de Inisherin enriquece a história e transmite a profundidade necessária ao tema central, tudo é mais frio, triste e sem cor, assim como a falta dessa amizade longínqua.

Farrel, Gleeson e os Oscars
A performance de Colin Farrell é impressionante, ele consegue transmitir com eficiência a dor e angústia de seu personagem. Sua jornada para reatar a amizade com Colm é tocante e emocionante, mostrando a importância desse laço para que a vida de Pádric tenha significado. Brendan Gleeson também se destaca, com sua atuação cheia de nuances e complexidade, mesmo nas ações mais cruéis de Colm, Gleeson nos faz entender e acreditar nas motivações do personagem. A química entre os dois é incrível e é provável que pelo menos um Oscar venha para um dos atores.

Comovente e poderoso
Em uma visão macro, Martin McDonagh traz nesse filme sua versão mais madura, tanto como diretor quanto como roteirista, todo o texto de Os Banshees de Inisherin é chamativo, engraçado, comovente e poderoso, trazendo reflexões sobre amizades e como elas podem te puxar para baixo ou te impulsionar.

Os Banshees de Inisherin é um filme tocante, intimista e reflexivo que aborda temas importantes como amizade, lealdade e até o impacto de uma guerra na vida das pessoas. É um filme obrigatório para aqueles que apreciam uma boa história acompanhada de atuações marcantes.

Nota 4.5/5.0

25/01/2023

CRÍTICA | TÁR

 


Tár, novo filme de Todd Field estralado por Cate Blanchett nos coloca vividamente ao lado de uma mulher artisticamente completa com um alto poder e nos deixa ainda mais pensativos sobre a veracidade do ditado: "Quer conhecer o carácter de uma pessoa? Dê-lhe poder!"
Tendo alcançado uma carreira invejável com a qual poucos poderiam sonhar, a renomada maestrina/compositora Lydia Tár (Cate Blanchett), a primeira diretora musical feminina da Filarmônica de Berlim, está no topo do mundo. Como regente, Lydia não apenas orquestra, mas também manipula. Como uma pioneira, a virtuosa apaixonada lidera o caminho na indústria da música clássica dominada por homens. Além disso, Lydia se prepara para o lançamento de suas memórias enquanto concilia trabalho e família. Ela também está disposta a enfrentar um de seus desafios mais significativos: uma gravação ao vivo da Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler. No entanto, forças que nem mesmo ela pode controlar lentamente destroem a elaborada fachada de Lydia, revelando segredos sujos e a natureza corrosiva do poder.


Lydia Tár ou Cate Blanchett
Não é de hoje que todos falam que Tár é o filme de Blanchett, vou tentar não chover no molhado mas Blanchett realmente brilha interpretando Lydia Tár, o papel que foi escrito para a atriz cai como uma luva e é usada com Maestria por Blanchett. Desde os primeiros minutos de filme somos convidados a nos aproximar de Lydia Tár com closes em seu rosto que passam a percepção de superioridade necessária ao filme e que vão nos guiar em toda jornada de conhecimento e revelação por trás do poder de Lydia Tár. Blanchett consegue conversar com espectador através do olhar, do corpo, do tom de voz e até das ações que realiza ao longo do filme, tudo de uma forma bem intimista e calma, quanto mais o filme avança mais entendemos a personalidade da oculta da personagem, terminamos o filme quase como um integrante da família Tár.

A difícil arte de falar de arte
Além de nos aproximar da personalidade oculta de Lydia Tár e nos mostrar que o poder dela veio de uma forma não muito limpa, o filme tem um papel importante de usar a arte para falar de arte, nesse caso o cinema falando de música e é aqui que temos um dos pontos complexos de serem aceitos por qualquer tipo de público, o roteiro é cheio de falas técnicas e que podem parecer confusas principalmente para que não entende nada de música, os personagens citam com velocidade vários termos como se o espectador já o conhecesse, alguns termos são explicados e outros não, mas essa dualidade de entender sobre música e conhecer a verdadeira Lydia Tár e complexa ou você foca em um ou em outro, eu preferi conhecer Tár do que entender como reger uma orquestra.

A aula
Lydia é professora de uma renomada escola de música, essa escola tem uma peça fundamental no desenvolvimento do filme e em uma das aulas de Lydia Tár temos uma mescla perfeita do que é cinema e seus detalhes. Todd Field nos coloca como alunos de Lydia Tár em uma passagem de mais ou menos 15 minutos onde temos uma aula íntima e rígida com a professora, essa aula é feita em um plano sequência com diálogos extremamente complexos sobre música, vida e pressão sobre os alunos, essa cena mostra a qualidade da arte cinematográfica impressa em Tár impressiona em diversos aspectos técnicos, é de longe uma cenas mais bem feitas dos últimos tempos.


Conhecer alguém de verdade leva tempo
Entender como Lydia Tár chegou onde chegou leva tempo e precisa de calma, o roteiro vai nos contado a história ao poucos e de forma bem interpretativa, se nos trailers tínhamos a impressão que teríamos um filme linear e dinâmico, aqui temos fragmentos soltos e lúdicos que vão nos auxiliando a entender a personalidade complexa da protagonista mas nada é entregue de forma precisa, tudo é interpretativo, cada um vai entender de um forma e alguns não vão entender nada. Isso faz com que o filme infelizmente seja para poucos, não é qualquer um que vai conseguir acompanhar fragmentos lúdicos por quase 3 horas, pela primeira vez eu vi várias pessoas desistindo de um filme no cinema.

A questão
Como tudo aqui é aberto demais, o diretor acaba deixando algumas dúvidas que devem ser resolvidas em conversas com amigos cinéfilos, afinal cada um examinou o filme sob uma ótica e cada um terá uma percepção. O propósito é amplo e temas como abuso de poder, assédio, cancelamento e onde é o limite da busca por perfeição vão surgir em debates após assistir ao filme.

Tár é cinema em seu estado puro, é um filme que deve ser examinado minuciosamente para ser compreendido.
Nota: 4.0/5.0

22/01/2023

CRÍTICA | O PIOR VIZINHO DO MUNDO

 


Tom Hanks é um ator que em praticamente todos os seus filmes tende a ser uma pessoa bondosa e disposta a tudo para ajudar as pessoas, até mesmo quem ele mal conhece, isso fez com que o ator fosse reconhecido de longe pelas suas atuações, desde "Forest Gump" até "Um Lindo Dia Na Vizinhança". Seguindo esse estilo e reforçando ainda mais o jeito Tom Hanks gentil de ser, chega ao cinemas no dia 26 de janeiro o filme "O pior vizinho do mundo" que é uma adaptação do livro "Um Homem Chamado Otto" e uma releitura do filme sueco de mesmo nome.

Neste filme acompanhamos um viúvo sistemático, reservado, e que é responsável pelos cuidados da vizinhança onde vive, e acaba incomodando os vizinhos por conta disso, mas tudo acaba mudando quando uma nova família se muda para a casa da frente, o casal Marisol (Mariana Treviño) e Tommy (Manuel Garcia-Rulfo), são um tanto quanto energéticos e exóticos que começa a ter diversas interações com o Otto, interpretado por Tom Hanks. 


O longa é básico e emocionante em muitos aspectos do roteiro a execução, e toda essa simplicidade passa a sensação de cairmos em um clichê gostoso e prático, Otto insiste em se isolar do mundo exterior e morrer em paz para voltar para sua amada, que já está falecida, ele acaba sempre sendo "salvo" e retirado do seu exílio, por mais impactante que pareça ser, a simplicidade na execução traz a emoção necessária para o filme. 
Embora tudo seja simples temos aqui uma ótima direção e montagem realizada por Marc Forster, que mescla o passado e o presente de Otto, alternando entre suas memórias ao lado de sua antiga amada e a sua vida atual e solitária. Todo o elenco se entrega no projeto com atuações impecáveis, os personagens apresentados dão relevância a história, ninguém está ali só por estar, tudo faz sentido o tempo todo.

O roteiro de David Magee é simplesmente a melhor parte do filme, completamente carregado de emoções, desde as mais felizes até as mais tristes, o filme trata o luto e a superação de maneira delicada, explorando bem o talento cômico e dramático do elenco sendo praticamente uma verdadeira sessão de terapia.
 


Assim como na adaptação sueca, o filme tem muito humor em cenas que deveriam ser trágicas, em muitas cenas, Otto tenta tirar sua própria vida, e sempre falha por algum motivo cômico, embora não seja muito agradável ver o protagonista a beira de um suicídio, todas essas cenas acabam com algo otimista e encantador, que acaba servindo como um gancho para impedir que Otto tente o ato novamente, uma verdadeira lição de vida.

"O pior vizinho do mundo" é uma obra que se destaca por sua abordagem emocionalmente intensa, superando a lógica racional. Um dos seus principais méritos é justamente não tentar forçar uma imagem de maior intelectualidade do que realmente possui, mantendo-se autêntico em sua proposta de transmitir sentimentos e sensações.  Emocionante, simples e bem executado, o filme abraça a proposta original da obra em confortar o público, e não solucionar o problema insolúvel envolvendo o luto. 

Nota: 5.0/5.0

PS Store começa o ano com ofertas imperdíveis

Nessa nova promoção temos vários jogos para PS4 e PS5, incluindo jogos consagrados da Sony como God of War, Days Gone, Spider-Man.

Confira abaixo algumas das principais ofertas na PS Store, aqui você confere a lista completa.

 

Nome do Jogo

Valor com Desconto

 Assassin's Creed ChronicleTrilogy

R$ 37,35

 Death's Door

R$ 52,45

 Batman: Arkham Knight

R$ 11,99

 Kena: Bridge of Spirits Digital

 Deluxe PS4 & PS5

R$ 105,96

 Horizon Chase Turbo - Edição

 Ayrton Senna

R$ 23,72

 God of War III Remastered

R$ 49,99

 Resident Evil 2

R$ 49,87

 God of War Digital Deluxe Edition

R$ 74,75

 Mega Man 11

R$ 49,49

 Dying Light Definitive Edition

R$ 32,98

 DOOM Eternal Deluxe Edition PS4

 & PS5

R$ 87,47

 Marvel's Spider-Man: Game of the

 Year Edition

R$ 99,75

 Detroit: Become Human

R$ 35,75

 Dragon Ball FighterZ

R$ 37,48

 Ultimate Chicken Horse

R$ 35,95

 Days Gone

R$ 79,80

 Battlefield 1

R$ 27,64

Kaze and The Wild Masks - Deluxe Edition

R$ 52,6

 

Se você for adquirir algum dos jogos com desconto, verifique para qual plataforma é o título que está comprando, pois a PlayStation vende jogos em versões de PS4 ou PS5, e também multi- gerações. Confira abaixo a lista com os principais jogos de terror com desconto na loja da Sony.

 

Gostou da lista de jogos de PlayStation 4 e PlayStation 5 em oferta durante as festas deste fim  de ano? Pretende adquirir algum dos jogos da lista? Participe nos comentários com a sua opinião!

18/01/2023

CRÍTICA | M3GAN

O Trailer de M3gan explodiu nas redes sociais e desde seu lançamento muito tem se especulado principalmente o "porque ela dança tão... estranho?" Pois estamos a apenas um dia de descobri todos os segredos por trás da boneca robô que promete proteger sua amiga a "todo custo".

M3gan, interpretada pela talentosíssima Amie Donald, é uma boneca realista programada para ser melhor amiga de Cady, interpretada pela pequena e talentosa Violet McGraw, que devido a trágicos acontecimentos, vai morar com sua tia Gemma (Allison Williams), que trabalha para um grande empresa de brinquedos eletrônicos. Mas a máquina logo se revela agressiva, e uma série de acontecimentos ruins acontece. Sim, essa premissa é um tanto quanto clichê e batida, onde algo diferente que aparentava ser inofensivo, acaba se tornando violento e deve ser combatido pelos protagonistas.

Do renomado James Wan

M3gan é mais um filme do famoso diretor James Wan, conhecido mundialmente por "Anabelle", "Invocação do mal" e por "Jogos Mortais", e mais uma vez, Wan brinca com a mescla de terror e comédia, como havia feito superficialmente em "Maligno", seu último filme. Em M3gan, James acaba usando até demais do elemento comedia, esquecendo da parte do terror em alguns momentos.

O roteiro acaba pecando na parte do terror, as cenas de morte acontecendo fora de tela, e mesmo as cenas de perseguição não passam uma grande sensação de medo e tensão, afinal, a boneca M3GAN apresenta um fator de perigo apenas para algumas pessoas, nada que algum policial por exemplo, não conseguisse resolver.

E por falar em James Wan, neste filme, o diretor acaba por não inovar, ele aposta no clássico e básico de qualquer filme de terror, usando paleta de cores amarelas e filmagens distante dos personagens, o que acaba sendo um grande erro por sua parte, tornando o filme em apenas mais um filme do gênero.


Amie Donald, A estrela do filme

O filme conta com uma ótima maquiagem e efeitos práticos, conseguindo deixar a atriz Amie Donald igualzinha a uma boneca robótica, e cá entre nós, que atuação boa! A atriz mirim brilha no papel, ela capricha nos movimentos robóticos e reproduz fielmente uma boneca andróide. Amie com certeza se destaca sempre que entra em cena.

Violet McGraw também convence muito bem entregando uma criança que está sofrendo e é incrível ver como ela passa essa sensação de dor em forma de medo, raiva e até agressiva.

Temas importantes vêm à tona

O longa-metragem acaba passando superficialmente pelos seus subtemas enquanto o foco é todo da boneca M3gan, mas consegue de desenvolver bem alguns assuntos mais pesados e discutidos, como o luto e a perda de familiares, e a relevância do quanto o apoio de alguém ajuda nos momentos de aceitação e superação.

M3gan aborda e desenvolve temas interessantes e necessários, difícil sair do cinema sem ficar preocupado caso você tenha uma Inteligência Artifical em casa em casa.

Nota: 4.0/5.0


15/01/2023

CRÍTICA | BABILÔNIA

 


Babilônia, novo filme do vencedor do Oscar Damien Chazelle chega aos cinemas no dia 19 de janeiro de 2023 com um elenco de primeira, muito estilo, uma trilha sonora marcante e obviamente uma confusão sem precedentes, afinal esse é o real significado da palavra Babilônia.   

Artistas de Hollywood passam pelas mudanças dos anos 20, como a passagem do cinema mudo para os filmes falados. No mundo dos sonhadores ambiciosos da sétima arte, a jovem Nellie LaRoy (Margot Robbie) se torna uma grande estrela da indústria, ascendendo ao migrar de modelo cinematográfico com sucesso. Porém, nesse período marcado por depravação e excessos escandalosos, há outros artistas que vivem sua decadência profissional, como Jack (Brad Pitt).

O Prólogo
Logo no início Chazelle nos introduz ao caos que estamos prestes a vivenciar, ao longo de 30 minutos temos o maior prólogo que eu me lembro de ter visto desde quando eu viciei em cinema, e esse prólogo não está para brincadeira, temos uma verdadeira loucura em tela, enquanto somos apresentados as três principais historias que acompanharemos ao longo do filme vemos um verdadeiro Bacanal, com diversos planos sequências e regado a uma trilha sonora frenética temos milhares de coisas acontecendo ao mesmo tempo, e nem de longe isso é ruim,  Chazelle arranca risadas, surpreende e deixa o espectador com nojo em poucos segundos, tudo isso em um frenesi cinematográfico bem feito e que resgata a essência adquirida em outros filmes do diretor tais como Whiplash e La La Land.



Depois da tempestade vem a calmaria
Passado o frenesi inicial que realmente deixa o público agitado e querendo mais, temos uma certa calmaria que alguns vão interpretar como uma quebra de ritmo enorme, e é nesse ritmo que vamos acompanhado o desenrolar do roteiro, hora frenético em excesso e que prende atenção do espectador e outra hora lento demais para dar voz aos seus protagonistas e ai repete o ciclo... por 3 horas e 10 minutos.    

A estrela em ascensão
Margot Robbie interpreta Nellie LaRoy, uma mulher que tem um passado sofrido e que se diz já ser um estrela que ainda não foi descoberta, acompanhar a ascensão de Nellie em hollywood é algo que chama atenção, Margot Robbie se joga no papel na medida certa e entrega a beleza, a loucura,  o humor e a excentricidade pedida pela personagem, acredito que essa entrega renderá atriz no mínimo uma indicação ao Oscar. 

A estrela em decadência
Se por um lado acompanhamos uma uma estrela surgindo, por outro acompanhamos uma estrela tendo que lidar com a decadência. Jack é interpretado por Brad Pitt que mais uma vez não brinca em serviço e ressalta a sua vitalidade em Hollywood, Pitt passa o carisma e interpreta um ator em fim de carreira com maestria do início ao fim, sem falar que o ator nos dá o gostinho da nostalgia ao tentar falar diversas línguas ao longo do filme, impossível ouvir aquele sotaque e não se lembrar de Bastardos Inglórios.


Do nada ao tudo e do tudo ao nada
Como uma terceira vertente dessa história, temos Manny Torres interpretado por Diego Calva que tem em seu personagem o desejo e a dedicação de deixar um legado para o mundo, Calva demostra a resiliência que o papel pede e em tela busca a atenção merecida do seu personagem indo do oito ao oitenta tanto como ator como personagem. 

Babilonia é a hollywood
Mas onde essa bagunça nos leva? nos leva a entender um pedacinho da história do cinema, e nesse recorte temos a passagem do cinema mudo para o cinema falado com todas as suas dificuldades e também as novas oportunidades. No background temos nas entrelinhas uma critica a loucura que é ser um astro de Hollywood, uma hora surgindo do nada, outra hora decaindo pelo fim de uma carreira e tudo isso cercado de escândalos, bagunça, drogas, divórcios, festas e ganância.

A técnica perfeita
Embora tenha como principal problema o ritmo de altos e baixos e o seu tamanho, é importante ressaltar que Babilônia tem uma técnica inquestionável sendo cinema em sua essência, os figurinos nos levam pra 1920, a fotografia ressalta a confusão com seus tons avermelhados, os planos sequencias aumentam a sensação de confusão e a trilha sonora de Justin Hurwit merece o Oscar e não sai da minha playlist.    

Fazendo jus ao significado real da palavra Babilônia que é "Cidade grande e confusa" Damien Chazelle traz para o seu filme uma loucura divertida, pesada e extensa demais. Demonstrando a transição do cinema mudo para o falado, Babilônia é cheio de referências a história do cinema, conta com uma trilha sonora digna de Oscar, atuações incontestáveis e planos sequências extremamente bem feitos. 

Nota: 4.0/5.0


12/01/2023

CRÍTICA | I WANNA DANCE WITH SOMEBODY


Encantador, talvez essa seja a melhor descrição para I Wanna Dance with Somebody. Que Whitney Houston foi uma das pessoas mais influentes no mundo musical e no mundo da luta pelos direitos das mulheres, isso a maioria sabe, mas contar toda sua história e trajetória sofrida é algo que só este filme irá conseguir te contar.

Mais uma cinebiografia, depois do enorme sucesso de "Bohemian Rhapsody’" que conta com maestria a vida de Freddie Mercury e de "Elvis" relatando a história de Elvis Presley, chegou a hora de conhecer a cantora que muitas pessoas reconhecem pela voz ou pela simples letra, afinal, suas músicas foram tão famosas e bombaram tanto que ela chegou a passar os Beatles na época.

O filme conta o enorme percurso de Whitney Houston, interpretado por Naomi Ackie, acompanhando-a desde sua fase de cantora no coral da igreja, passando por sua relação extremamente controladora com seu pai John Houston (Clarke Peters), até sua decadência para as drogas e ascensão ao final de sua vida. Ao longo de sua jornada, Whitney encontrará pessoas importantíssimas para sua carreira e vida pessoal, como o produtor Clive Davis (Stanley Tucci) e sua melhor amiga e ex-parceira romântica Robyn Crawford (Nafessa Williams).


Bem no começo do filme somos apresentados aos diversos conflitos da personagem que percorrem e se desenrolam por todo o filme, como sua insistência em sempre querer fazer os tons mais altos e difíceis em suas músicas, e sua difícil relação familiar, que era cercada por violência e controle.

Uma das principais, se não a principal característica de cinebiografias de artistas musicais é a mistura de eventos importantes para a carreira do artista enquanto no fundo, ouvimos seus maiores sucessos músicas mais trilha sonora, o que não é diferente neste filme, que apresenta uma coletânea das músicas mais famosas de Whitney enquanto diversas conquistas de sua carreira são exploradas e mostradas com maestria pela diretora e roteirista do longa, um verdadeiro prato cheio para os fãs da cantora.

Além de nos transportar para mais perto da cantora, o filme se destaca com seu jogo de luzes, que favorece ao máximo as cenas, e evidenciam como foi árdua a luta de Whitney contra o preconceito e até mesmo indo contra quem alegava que sua música não era "negra" o bastante.



Naomi Ackie faz um papel difícil, mas brilha de maneira perfeita, parece que foi feita para esse papel, consegue nós encantar e comprar a ideia de que ela é a própria Whitney, e junto de Clarke Peters, exalta ainda mais a sua atuação, exibindo uma relação frágil e abusiva entre pai e filha. 


O filme exibe um lado sensível da cantora com maestria, nos mostrando com foi lidar com o vício em drogas desde antes do início de sua carreira, o quão debilitada a cantora ficou até o fim de sua vida, que se deu pelo vicio, e também sua relação abusiva com seu pai, que muitas vezes a expunha ao seu limite apenas para possuir mais lucros. 

O filme nos prende do início ao fim, com uma trilha sonora de tocar o coração, apresentando as várias faces da cantora a uma geração que não conhecia Whitney do jeito que deveriam. De longe, uma das minhas cinebiografias favoritas, superando o lugar ocupado por Judy.

Nota 4.5/5.0

CRÍTICA | OS FABELMANS



De tempos em tempos Hollywood gosta de recontar a história do cinema nos cinemas, em 2011 por exemplo tivemos “O Artista” e “A invenção de Hugo Cabret” dois filmes que permeiam um pedaço da história do cinema e que são essenciais para um bom entendimento da sétima arte, eis que em 2023 temos um novo ciclo de recontagem dessa história com o excelente “Babilônia” e em uma versão mais intimista e sobre a ótica de um diretor temos também “Os Fabelmans”.


Em Os Fabelmans, o jovem Sammy Fabelman crescendo no Arizona pós-Segunda Guerra Mundial, se apaixona por filmes depois que seus pais o levam para ver "O Maior Espetáculo da Terra". Armado com uma câmera, Sammy começa a fazer seus próprios filmes em casa, para o deleite de sua mãe solidária. Porém, quando o jovem descobre um segredo de família devastador, ele decide explorar como o poder dos filmes nos ajuda a ver a verdade uns sobre os outros e sobre nós mesmos. Os Fabelmans é uma história vagamente baseada na própria infância do diretor Steven Spielberg, com um jovem aspirante a cineasta no centro da história.


Spielberg além dos filmes 
Escrito e dirigido por Spielberg, Os Fabelmans é a história de como Sammy ou melhor dizendo, Sam Fabelman se apaixonou pelo cinema e como ele foi aprendendo a fazer filmes com o que tinha na mão, porém o que realmente chama atenção além da criatividade do jovem cineasta é a relação dele com sua família e como problemas familiares são comuns independente do nicho em que você vive, e por mais clichê que se pareça a lição que Os Fabelmans deixam ao longo do filme é use seus problemas como aprendizado e corra atrás do seus sonhos.



É um trabalho, não um hobby 

Sam Fabelman visivelmente tem talento para fazer filmes e na década de 60 sendo filho de uma família tradicional transformar o hobby em trabalho é uma ideia difícil de ser digerida, principalmente pelo seu pai interpretado com maestria por Paul Dano. O pai de Sammy por mais tranquilo que transparece ser insiste que o filho deveria fazer uma faculdade e estudar bastante para ser alguém na vida e deixar a paixão de fazer filmes apenas como um hobby. Tratar desses assunto sobre o que fazer da vida tendo que lidar com os pais que as vezes querem tomar a decisão pelos filhos é um problema eterno, e o filme reforça isso ao demonstrar que até um diretor renomado passou por isso na sua juventude, o roteiro se encarrega de ir desconstruindo essa opinião chata e antiquada do pai aos poucos, diálogo após diálogo, demonstrando a dificuldade que é mudar uma opinião formada.


A Mãe e a ligação com a arte
Enquanto o Pai de Sammy tem um trabalho formal, a mãe possui uma relação maior com a arte, pianista e interpretada pela belíssima Michelle Williams, a Mãe de Sammy embora não diga abertamente para o filho seguir a carreira de cineasta deixa nas entrelinhas e na atuação que o filho deve seguir o seu coração e não se importar com a opinião dos outros. Como uma das maiores inspirações para Sammy a mãe é o ponto chave do caos instaurado na família Fabelman, caos esse que Sam descobre justamente fazendo um filme dos momentos mais íntimos de sua família.



O Jovem Sam
Gabriel LaBelle protagoniza o Jovem Sam Fabelman de uma forma interessante, talvez esse seja o papel mais intenso e difícil da sua carreira, o aprendizado é grande mas em tela LaBelle consegue conversar com o espectador através do olhar e das expressões faciais, evidenciando ainda mais os medos, a raiva e os problemas passados pelo Sam Fabelman.


Tecnicamente Spielberg 
Por mais pessoal que seja o projeto Spielberg imprime não só a sua essência jovem como faz um misto com toda sua bagagem adquirida ao longo dos anos, sem duvidas esse é um dos filmes mais diferentes de sua cine biografia e de fato a bagagem conta, principalmente nos aspectos técnicos, o figurino te leva para os anos 60 e quando se juntam a ambientação, ao estilo de fotografia e a trilha sonora temos a sensação de estarmos de volta ao passado. Além da beleza Spielberg faz a quebra da quarta parede por duas vezes de uma forma bem diferente, o diretor conversa com o público arrancando aquele sorriso de canto de boca do espectador, a chance de Oscar é grande.


Os Fabelmans nos leva para um passeio intimista e delicado pelo sonho de um jovem talentoso em busca de fazer o que ama, quebrando paradigmas e seguindo seu coração temos espelhado no jovem Sam Fabelman a real história de Steven Spielberg.

Nota 5.0/5.0