30/08/2023

Crítica | O Porteiro


"O Porteiro" é uma comédia nacional que chega aos cinema no dia 31 de agosto e que cativa o público ao trazer à vida as confusões e situações do cotidiano de um prédio residencial, com um elenco talentoso e um enredo que valoriza a autenticidade. Baseado na peça de teatro homônima, o filme mergulha nas peripécias do protagonista Waldisney, interpretado com carisma e autenticidade por Alexandre Lino. Sua dedicação em trazer o personagem à vida de maneira palpável e real é evidente, o que contribui para a empatia que o público sente pelo protagonista desde o início.

A trama se desenrola em torno do prédio onde Waldisney trabalha como porteiro, cenário perfeito para as confusões e desentendimentos entre os moradores. A química entre os personagens, especialmente entre Waldisney e a zeladora Rosivalda (Cacau Protásio), é um dos pontos fortes do filme, mantendo a bagunça quase "organizada" e dando ritmo às situações hilárias. A adição de situações bem reais por incriveis que pareçam ao roteiro proporcionam um senso de identificação para o público, tornando a história ainda mais legal de ser acompanhada.


A participação especial de José Aldo acrescenta um toque interessante, oferecendo um elemento surpresa e divertido. Além disso, a personagem Laurizete, esposa de Waldisney, adiciona um humor cativante que garante risadas toda vez que aparece em cena. A química entre o elenco chama atenção e contribui para a atmosfera descontraída e alegre do filme.

A abordagem sobre o orgulho de Waldisney em sua identidade nordestina e sua determinação em superar dificuldades e levar uma vida honesta e justa adiciona uma camada de profundidade ao personagem, tornando-o ainda mais interessante. Esse aspecto enriquece a narrativa ao abordar temas de identidade e superação pessoal de maneira sutil e eficaz.

O roteiro, claramente derivado da peça teatral, preserva alguns elementos teatrais que se traduzem bem para a tela, como as situações cômicas que se desenrolam em um espaço limitado. No entanto, o filme mantém uma sensação cinematográfica e aproveita a linguagem visual para expandir os cenários e criar um ambiente mais dinâmico.


Com uma duração de aproximadamente uma hora e vinte minutos, "O Porteiro" é uma comédia que entrega uma história simples e resolutiva. O filme evita se alongar desnecessariamente, o que contribui para a sua agilidade e ritmo. No entanto, o final deixa um gostinho de "quero mais", o que é um sinal positivo da sua capacidade de envolver e entreter o público.

"O Porteiro" é uma comédia nacional que merece ser vista. Com um elenco carismático, situações cotidianas reais, humor autêntico e uma pitada de reflexão sobre identidade e superação, o filme oferece uma experiência agradável e divertida. A adaptação da peça teatral para a tela é bem-sucedida em capturar a essência da história original enquanto aproveita os recursos do cinema. Se você procura uma comédia leve e genuína que celebra a vida cotidiana com um toque especial, "O Porteiro" é uma boa escolha.

27/08/2023

Crítica | TOC TOC TOC - Ecos do Além


"TOC TOC TOC - Ecos do Além" leva os espectadores em um intrigante cenário de suspense e mistério, apresentando uma trama que promete mergulhar nas profundezas do terror psicológico. A história gira em torno de Peter, um jovem atormentado por problemas de bullying e abusos psicológicos, vivendo uma vida de isolamento ao lado de seus pais, Mark e Carol. A narrativa inicialmente se concentra nas relações familiares tensas, com o filme explorando de maneira perspicaz a dinâmica entre escola, família e desenvolvimento infantil, trazendo à tona questões sociais importantes.

A atuação de Woody Norman como Peter é notável por sua capacidade de transmitir a angústia e a vulnerabilidade do personagem. O ator traz uma inocência tocante aos olhos do jovem, capturando a audiência com sua atuação convincente. No entanto, é Antony Starr, conhecido por seu papel em "The Boys", que realmente se destaca como Mark. Ele empresta sua habilidade de retratar personagens perturbados e ameaçadores, misturando essa característica com uma aura de normalidade. Infelizmente, o filme não aproveita totalmente o potencial de seu talento, já que sua personagem não é explorada a fundo, deixando um gosto de desperdício.

A atmosfera sombria e tensa é habilmente construída, com a casa antiga e a plantação de abóboras criando uma sensação de isolamento e inquietação. As cenas iniciais de Peter ouvindo batidas misteriosas nas paredes amplificam a sensação de mistério, alimentando as expectativas do público por respostas. A relação entre Peter e a voz oculta que ele começa a interagir também adiciona uma camada intrigante à narrativa, à medida que segredos sobre seus pais são revelados lentamente.


No entanto, o filme começa a perder sua firmeza narrativa à medida que se aproxima do terceiro ato. A transição abrupta para um tipo diferente de terror, com a introdução de uma entidade semelhante à 'Momo', é onde o enredo começa a tropeçar. Essa mudança desajeitada de foco tira o peso do suspense psicológico construído anteriormente, transformando a história em um filme de monstros genérico. O roteiro, embora comece com promessa, falha em sustentar a tensão inicial, deixando pontas soltas e questões sem respostas satisfatórias.

O filme também enfrenta problemas técnicos, principalmente em suas cenas escuras. A falta de clareza visual em alguns momentos prejudica a experiência do espectador, interferindo na apreciação das atuações e na compreensão da trama. Essa escolha estética, apesar de talvez visar maximizar recursos limitados, acaba afetando negativamente a atmosfera geral do filme.

"TOC TOC TOC - Ecos do Além" é um filme que começa com grande potencial ao explorar questões sociais relevantes e construir uma atmosfera inquietante. As atuações sólidas de Woody Norman e Antony Starr contribuem para essa experiência, oferecendo momentos genuinamente angustiantes. No entanto, o filme tropeça em sua transição de suspense psicológico para um terror de monstros mais genérico, resultando em uma narrativa desigual e decepcionante.

Nota: 2.0/5.0

23/08/2023

Crítica | A Chamada


"A Chamada" traz consigo a promessa de tensão e adrenalina, combinando a presença marcante de Liam Neeson e uma premissa que já se tornou um clichê no cinema: um homem encurralado em um carro com uma bomba prestes a explodir. No entanto, embora o filme se esforce para adicionar um fôlego de originalidade a esse enredo familiar, ele acaba se perdendo em uma fórmula já explorada, resultando em uma experiência cinematográfica que oscila entre momentos intrigantes e uma sensação de déjà vu.

O filme começa com um ritmo acelerado, mergulhando o espectador na vida de Matt Turner, interpretado por um carismático Liam Neeson. A ameaça iminente da bomba sob o assento do protagonista é o suficiente para manter a atenção da audiência, criando um senso urgente de perigo que permeia toda a narrativa. No entanto, é nesse ponto que a trama começa a balançar entre a inovação e a previsibilidade.


A adição de um plot twist inesperado, um dos pontos positivos do filme, tenta revitalizar a narrativa, jogando luz sobre os motivos por trás do ataque. Essa reviravolta dá um fôlego momentâneo à história, oferecendo uma nova camada de complexidade aos eventos em curso. No entanto, essa lufada de originalidade não é suficiente para afastar a sensação de familiaridade que o filme inevitavelmente carrega.

O desenrolar da trama e a busca de Matt por respostas sobre sua situação proporcionam momentos de suspense e tensão bem executados, destacando a habilidade de Liam Neeson em interpretar personagens em situações de risco extremo. No entanto, a falta de profundidade na exploração dos motivos do antagonista e a falta de desenvolvimento dos personagens secundários resultam em uma narrativa superficial.

"A Chamada" parece se contentar em seguir os passos de produções anteriores que exploraram a mesma premissa, não ousando ir além dos limites conhecidos. O filme tenta equilibrar entre a convenção e a inovação, mas acaba caindo na armadilha de se tornar uma mescla de elementos familiares, sem se destacar verdadeiramente.

Em última análise, "A Chamada" é um filme que se beneficia de momentos emocionantes e de um protagonista carismático, mas que não consegue escapar da sombra de outros filmes que já abordaram o mesmo tema. A tentativa de adicionar uma reviravolta surpreendente é louvável, mas não é suficiente para elevar o filme acima do status de mediano. Assim, "A Chamada" é recomendado para uma noite de entretenimento despretensioso em casa, onde a sensação de déjà vu no cinema pode ser mais facilmente tolerada.

CRÍTICA | A Última Viagem de Demeter


Eis que somos apresentados a mais uma história envolvendo o grande Conde Drácula em "A Última Viagem de Deméter". Mas será que esta é realmente uma história sobre Drácula? Baseado em um capítulo do livro "Drácula" de Bram Stoker, o filme nos introduz aos tripulantes do Deméter, um navio cargueiro que transporta mercadorias para Londres, incluindo uma misteriosa caixa adornada com símbolos de dragões.

Sob a direção de André Ovredal, o filme emana uma aura verdadeiramente aterrorizante. No entanto, essa sensação de terror não surge dos perigos intrínsecos de estar aprisionado em um velho navio no vasto oceano, nem mesmo da atuação do lendário ator de filmes de terror, Javier Botet, no papel do próprio Drácula. O que realmente torna essa experiência aterradora é a sua banalidade.

Essa banalidade retira os personagens da brutalidade dos pesadelos que escondem um grande mistério e deixa o elenco um tanto desorientado. Apesar do elenco, com Corey Hawkins no papel principal, entregar performances dedicadas, o roteiro falha em aprofundar os personagens, deixando-nos com pouca conexão emocional com eles, exceto talvez com o jovem Toby.

O filme faz uso de sombras e cenas escuras de forma considerável, tentando criar um ambiente sombrio. Conforme a trama se desenrola, a luz revela gradualmente seus segredos em algumas cenas, mas, ao invés de criar um ambiente sombrio, isso gera uma sensação de suspense, já que fica claro que os personagens enxergam algo nas sombras que o espectador dificilmente percebe.


O roteiro introduz um toque de humor nos sinais de mau agouro, com personagens quase anunciando a chegada do mal a bordo, antecipando não apenas os perigos iminentes, mas também a repetição monótona de como esses eventos se desenrolam. A força inicial do filme reside nos atores, que injetam dinamismo mesmo quando o roteiro não o faz, principalmente o personagem principal, o médico Clemens (Corey Hawkins), e Toby (Woody Norman), neto do capitão do navio. O subaproveitamento de personagens como a misteriosa Anna (interpretada por Aisling Franciosi) é um erro notável, considerando o talento da atriz e a importância da personagem. Embora o filme a relegue a uma função expositiva, a atuação de Franciosi a torna cativante.

Apesar de seguir uma fórmula, o roteiro toma algumas ações inesperadas e arrisca fazer coisas que os filmes que seguem essa fórmula geralmente evitam. A interação de Drácula com a tripulação, transformando o jogo de "toc-toc" em algo mais sinistramente divertido, adiciona uma camada intrigante ao filme. Embora as mortes sejam previsíveis, a tensão é habilmente mantida.

O filme começa sua jornada em direção ao terror predefinido, revelando sua trama de forma gradual. Após a introdução de outros personagens, muitos dos quais permanecem em segundo plano até o encontro com Drácula, o filme estabelece algumas regras básicas, embora tente dar um toque original à fórmula tradicional dos vampiros. No entanto, o filme carece de autenticidade no terror, muitas vezes recorrendo a truques convencionais para criar uma sensação de medo. O uso excessivo de jump-scares enfraquece o impacto e a experiência. Diferentemente de outros filmes de terror inovadores que desafiam a linguagem visual do medo, "A Última Viagem de Deméter" recicla padrões familiares, resultando em mais do mesmo no gênero de terror, apesar de conter níveis elevados de violência em comparação com outros filmes do gênero.

O clímax final não sustenta o suspense, já que o público está sempre um passo à frente dos personagens. A falta de impacto transforma o desfecho em algo mais tolo do que aterrorizante. Apesar dos esforços do elenco, o filme é marcado não apenas pelas mortes dos personagens, mas também pela falta de originalidade.

Crítica | As Tartarugas Ninja: Caos Mutante


"As Tartarugas Ninja: Caos Mutante" chega revivendo com força total a icônica franquia das Tartarugas Ninja. Com uma abordagem inovadora e criativa, o filme se destaca ao trazer uma narrativa conhecida de forma renovada e envolvente. A decisão de adotar um estilo visual mais cartunesco e menos realista se mostra acertada, proporcionando ao público uma experiência que remete a uma autêntica pintura animada na tela do cinema.

Desde sua origem até os momentos de ação, o filme captura a essência das quatro tartarugas heróicas - Donatello, Leonardo, Michelangelo e Raphael - de maneira cativante. A introdução das tartarugas bebês sendo afetadas por uma misteriosa gosma, seguida por seu crescimento e jornada de autodescoberta ao longo de 15 anos, é habilmente construída e traz uma sensação de conexão com os personagens. A trama 
se desenrola em uma aventura divertida e engraçada, à medida que os protagonistas embarcam na missão de enfrentar um super-vilão mutante também afetado pela mesma gosma, cuja história está entrelaçada com os eventos passados.



Uma das maiores forças do filme reside em sua rica teia de referências. Desde heróis consagrados até celebridades e músicas populares, esses elementos acrescentam humor e charme que ressoam tanto com as gerações que cresceram com as Tartarugas Ninja quanto com o público mais jovem. Além disso, a audaciosa inclusão de trechos de filmes live action no meio da animação demonstra a confiança dos criadores em desafiar as fronteiras do gênero.

"Caos Mutante" não se limita ao público infantil. A trama lida com questões relevantes, como solidão, bullying, fake news, raiva e a busca por pertencimento. Esses temas são habilmente explorados, proporcionando momentos de reflexão para espectadores de todas as idades. A profundidade emocional se combina de maneira inteligente com a narrativa, resultando em uma história mais rica e satisfatória.

A escolha de elenco para a dublagem é um acerto. Tanto na versão original quanto na dublada, vozes reconhecíveis dão vida aos personagens de forma convincente, utilizando gírias e referências que ressoam com a cultura jovem brasileira, temos até o "Mineirês" embutido na dublagem e isso cria uma conexão mais próxima entre os espectadores e os personagens, proporcionando um envolvimento ainda mais profundo com a narrativa.


O desfecho do filme é uma celebração do espírito das Tartarugas Ninja, com a vitória sobre a ameaça e a união dos mutantes como uma família nos esgotos. A jornada de crescimento e aprendizado de Splinter, o pai e mentor das tartarugas, acrescenta uma camada emocional tocante à história.

A cena após os créditos animados insinua uma possível continuação, deixando os fãs animados com as possibilidades futuras. A referência ao vilão icônico do universo das Tartarugas Ninja deixa um gostinho de expectativa e entusiasmo para o que está por vir.

"As Tartarugas Ninja: Caos Mutante" é uma animação inteligente, visualmente encantadora e repleta de humor e coração. Ao modernizar uma narrativa clássica, o filme consegue atrair públicos de diversas idades, proporcionando uma experiência cinematográfica divertida e memorável. Com uma abordagem criativa e temas relevantes, este filme certamente deixa uma marca duradoura na história das Tartarugas Ninja. Uma visita ao cinema para conferir essa aventura valerá a pena, independentemente da idade.

Nota: 5.0/5.0

17/08/2023

CRÍTICA | BESOURO AZUL


No cenário "saturado" de filmes de super-heróis, "Besouro Azul" consegue se destacar ao entregar uma experiência de origem divertida, leve e despretensiosa. Com um protagonista cativante e uma imersão bem-vinda na cultura latino-americana, o filme traz um fôlego refrescante ao gênero, explorando uma história de herói que é tanto uma jornada de autodescoberta quanto um mergulho cômico nas suas tradições familiares.

A narrativa começa com a história de Jaime Reyes (Xolo Maridueña), um jovem latino recém-formado que retorna à sua cidade natal, Palmera. A cidade, com suas luzes vibrantes e estética cyberpunk, cria um cenário visualmente atraente, que cativa os espectadores e os faz desejar uma visita a esse ambiente único, ("Uma pena que essa visita é impossível, já que a cidade é fictícia"). Ao se deparar com desafios familiares, Jaime é lançado em uma jornada improvável de heroísmo quando se torna o hospedeiro de um escaravelho azul alienígena, concedendo-lhe um traje superpoderoso e habilidades extraordinárias.


O filme acerta ao explorar a rica cultura latina de maneira autêntica, homenageando tradições e referências, incluindo a icônica figura de "Chapolin Colorado" e uma novela bem conhecida por nós brasileiros a famosa "Maria do Bairro". Além disso, a cidade fictícia de Palmera serve como um ambiente vivo e atrativo, adicionando uma camada adicional de carisma ao filme.

A dinâmica da família Reyes é um dos pontos altos da história. Com diálogos carregados de piadas que podem parecer forçadas, mas que ainda conseguem trazer o sorriso, a comédia é uma parte bem presente no filme. Essa abordagem acaba sobressaindo as partes mais intensas da trama, criando uma atmosfera mais cômica do que sombria, esse ponto pode desagradar alguns que esperavam mais batalhas ou lutas épicas, a dinâmica da família Reyes sobressai as próprias batalhas do herói contra o vilão, mostrando a força do núcleo familiar na trama.


Xolo Maridueña entrega uma performance inocente como Jaime Reyes, trazendo um toque de autenticidade à sua jornada de autodescoberta. Sua química com Bruna Marquezine, que interpreta Jenny Kord, é palpável e adiciona uma dimensão curiosa ao enredo. Por falar em Marquezine, a atriz brasileira manda super bem, com um papel importante para a trama ela proporciona uma representatividade importante aos brasileiros e contribui para a diversidade latina do elenco.

Se o filme tem como base uma cultura latina a trilha sonora não poderia ficar de fora, repleta de boas músicas, ela contribui para o ritmo empolgante do filme, elevando as cenas de ação e os momentos mais emocionais, obviamente assistir o filme em uma boa sala de cinema faz toda a diferença, cada detalhe de som é meticulosamente projetado para proporcionar uma imersão completa na experiência.

"Besouro Azul" é um triunfo em muitos aspectos. Com uma abordagem descontraída e repleta de referências culturais, ele entrega uma narrativa de super-herói divertida e emocionalmente envolvente. O filme não só celebra a cultura latina, mas também introduz um herói latino-americano há muito aguardado, proporcionando uma representatividade necessária no gênero. Com seu elenco carismático, estética vibrante e mensagem positiva sobre a importância da família, "Besouro Azul" voa alto e dá um fôlego ao universo de super-heróis.

15/08/2023

Crítica | Gran Turismo: De Jogador a Corredor


Como transformar um jogo que se concentra em simular corridas, sem uma narrativa ou personagem central em um filme? Essa pergunta pairou no ar quando a notícia sobre a adaptação de Gran Turismo em filme surgiu. Agora, com o filme chegando aos cinemas, essa questão é respondida. A abordagem encontrada é surpreendentemente perspicaz: se o jogo carece de uma trama ou personagem central, por que não explorar uma história real de um gamer viciado em Gran Turismo que sofreu e lutou bastante para se transformar em um piloto profissional? E é assim que Gran Turismo oferece uma solução engenhosa, transformando o que poderia ser apenas o universo "vazio" do jogo em um enredo real e instigante.

Toda a trama gira em torno de Jann Mardenborough, interpretado por Archie Madekwe, um jovem talentoso no renomado jogo de PlayStation, Gran Turismo que vê a sua vida mudar ao receber um convite para participar da GT Academy, um programa de competição criado pelas empresas Nissan e Polyphony Digital, que busca transformar jogadores habilidosos de Gran Turismo em pilotos de corrida profissionais.

"Gran Turismo: De Jogador a Corredor" representa uma virada de página significativa no universo das adaptações de videogames para o cinema, trazendo consigo não apenas uma narrativa inspiradora, mas também uma experiência cinematográfica agitada e emocionante que abre novas portas para adaptações. Neill Blomkamp assume a direção, conhecido por sua habilidade em criar mundos distópicos e futurísticos, o diretor mostra sua versatilidade ao trazer uma história baseada em eventos reais, mergulhando nas aspirações de um jovem gamer que transformou um sonho em realidade.


De longe um dos principais méritos do filme é redefinir o significado da expressão: "Te prende do início ao fim". Ao longo das duas horas de duração, somos imersos em um turbilhão de emoções, adrenalina e intensidade que realmente se equipara a estar pilotando um Nissan GT-R. A habilidade de Blomkamp em criar cenas frenéticas e momentos de tensão é notável, levando o público a sentir o ronco dos motores, o vento na pista e a pressão de cada curva. É impressionante como o filme realmente prende o público do início ao fim, sem pausas nem para pegar um fôlego. vale ressaltar que, desde "Vingadores: Ultimato" eu não via reações tão intensas de um público no cinema, e essa é uma experiência reservada a poucos filmes. 

O elenco abraça o projeto e se destaca ao trazer autenticidade aos personagens. A performance de Archie Madekwe como Jann Mardenborough captura a inocência e a paixão de um jogador adolescente que se vê no centro de um sonho improvável. David Harbour interpreta Jack Salter, um ex-piloto fundamental na jornada de Jann, trazendo a profundidade e a orientação necessárias ao personagem, pesando a mão no momento certo e inspirando técnicos por ai com seu jeito único. A presença de Orlando Bloom como Danny Moore e Djimon Hounsou como o pai de Jann contribuem para a complexidade emocional do protagonista.

O roteiro habilmente costura a narrativa, mantendo o ritmo acelerado e dinâmico, ao mesmo tempo em que presta homenagem ao universo dos jogos Gran Turismo e Playstation por meio de referências sutis e inteligentes. A transformação de um gamer em um piloto de elite é transmitida com emoção genuína, deixando a mensagem de que sonhos podem virar realidade, mesmo quando parecem impossíveis.


Outro grande trunfo é a trilha sonora que desempenha um papel vital na intensificação das emoções do filme. Desde os momentos de corrida até os momentos de alívio cômico, a escolha musical é astuta e ajuda a construir a atmosfera do filme. A inclusão do saxofonista Kenny G no enredo se torna um elemento chave, e demonstra a importância de músicas como parte integral da narrativa. E obviamente existe um fanservice com os sons clássicos do game que vão fazer os mais fãs mais íntimos de Gran Turismo se arrepiarem.

Mas saindo dos games e indo para a vida real, as cenas de corrida são um triunfo visual, capturando perfeitamente a sensação de velocidade e o êxtase de dominar um carro de corrida. Os efeitos especiais são empregados com maestria para transmitir as emoções de Jann, conectando o público não apenas à ação, mas também à jornada pessoal do protagonista.

"Gran Turismo: De Jogador a Corredor" transcende as barreiras dos jogos de videogame e alcança uma audiência mais ampla, oferecendo uma história de determinação, superação e paixão. O filme inspira tanto fãs de videogames quanto aqueles que não estão familiarizados com o mundo virtual, com sua narrativa emocionante e impactante. Neill Blomkamp, sai de sua zona de conforto e demonstra sua habilidade como um diretor versátil, proporcionando uma experiência que fica gravada na memória e instiga sua curiosidade ao pesquisar sobre Jann Mardenborough.

Nota: 5.0/5.0

14/08/2023

CRÍTICA | FALE COMIGO


"Fale comigo" chega aos cinemas no dia 17/08,  rodeado de um hype absurdo com a promessa de uma abordagem refinada do terror de possessão, aliada a uma atmosfera envolvente e um enfoque único no luto. Fugindo completamente dos clichês o filme tem tudo para ser o melhor terror do ano.

O filme possui uma singela abordagem do terror clássico da possessão. A narrativa é sutilmente construída, em conjunto com grandes detalhes visuais, como personagens que surgem e encaram tela, iluminação suave e closes sugestivos, criando uma atmosfera desconcertante. A trilha sonora é utilizada com maestria, com momentos de silêncio misterioso seguidos por uma mistura crescente de vozes, estrondos e efeitos sonoros, culminando em cenas realmente impactantes. Toda essa boa mescla de sons e detalhes visuais fazem com que o filme explore nuances diferentes do terror e esse é o principal mérito do longa. 

"Fale comigo" não recorre aos sustos usuais do gênero, em vez disso, gera suspense através de uma atmosfera intrinsecamente inquietante. A narrativa é inteligente: quando um grupo de colegas de classe de Mia personagem principal se envolve em uma trend viral relacionada a espíritos conjurados através de uma mão embalsamada, a possibilidade de algo dar ruim é facilmente perceptível. No entanto, são os detalhes sutis que revelam uma trama subjacente, enriquecendo o comportamento autodestrutivo. Sophie Wilde traz com maestria a angústia de Mia, que após a dolorosa perda de sua mãe, busca desesperadamente uma conexão para preencher o vazio. A interpretação contida de Wilde e sua busca por companhia retratam de forma complexa o processo de luto.

O elenco como um todo oferece performances impressionantes. Alexandra Jensen e Joe Bird têm uma dinâmica de atritos como irmãos na tela, Jade e Riley, com a rivalidade típica entre irmãos. Miranda Otto, familiarizada com o gênero de terror, desempenha o papel de Sue, mãe de Riley e Jade, mantendo-se em grande parte afastada dos eventos sobrenaturais. No entanto, seu retrato de uma figura paterna autoritária é notável, com momentos de emoção genuína e piadas pontuais que evidenciam diferentes facetas da dor, proporcionando um contraponto necessário à atmosfera do filme.

Centrando-se na exploração do processo de luto e nos perigos do escapismo através de comportamentos viciantes. A jornada de Mia serve como uma metáfora habilidosa para essa mensagem, e mesmo quando um encontro apavorante com um espírito conspirador se desenrola de maneira previsível, o impacto emocional permanece forte. Seja através de momentos subliminares ou de horror explícito, o filme oferece diversas nuances para apreciar.

"Fale comigo" é um equilíbrio entre uma experiência assustadora e uma exploração profunda dos medos internos. A direção inteligente e a narrativa bem construída fazem deste filme uma adição valiosa ao gênero de terror, mostrando que é possível criar um impacto emocional forte sem recorrer aos clichês previsíveis. Este é um filme que merece ser assistido por fãs do terror e por aqueles que buscam uma reflexão mais profunda dos medos internos.

Nota: 5.0/5.0

09/08/2023

CRÍTICA | TEMPOS DE BARBÁRIE - ATO I: TERAPIA DA VINGANÇA


O cinema nacional que tem seus altos e baixos nos apresenta um thriller diferente e provocador, que mergulha de cabeça em um tema pesado e o entrelaça habilmente com varias nuances políticas do país. A primeira parte de uma trilogia traz uma visão pensativa ao abordar de forma corajosa a busca por justiça em uma sociedade onde o sistema falha em oferecer respostas satisfatórias.

No cerne da trama, Cláudia Abreu se destaca entregando uma atuação visceral como Carla, uma mãe devastada pela tragédia que se desenrola no início do filme. Sua interpretação transmite a angústia e a revolta que a situação precisa, levando o público a uma jornada emocional poderosa. À medida que Carla confronta a impotência da polícia e o descaso da justiça, sua transformação em uma figura movida pela vingança é construída com riqueza de detalhes, tornando-a uma protagonista profundamente crível.


Ao lado dela, Júlia Lemmertz interpreta uma terapeuta que se torna um contraponto crucial para os impulsos de Carla. Sua atuação sutil, mas impactante, oferece uma outra perspectiva ao desejo de vingança, explorando a possibilidade de usar a terapia como uma ferramenta para domar a fúria e buscar um caminho mais construtivo. A dinâmica entre as duas atrizes é magnética, representando uma batalha entre o instinto de justiça e a busca por um entendimento mais profundo.

Com uma trama bem instaurada e boas atrizes segurando o público, o que realmente falha é o roteiro, que apesar de suas qualidades, falha justamente na narrativa que por vezes se arrasta, criando uma barriga desnecessária que prejudica o ritmo do filme. A oscilação entre momentos de intensidade e outros mais monótonos causam um desequilíbrio no engajamento do espectador, daria facilmente para deixar o filme mais dinâmico se cortássemos uns 40 minutos de filme que não levam a absolutamente nada. 

A direção de fotografia abusa de tons escuros e sombrios, que capturam perfeitamente a atmosfera opressiva que permeia a vida da protagonista. Os tons pretos se tornam quase palpáveis, espelhando os sentimentos de Carla e sua busca incessante por justiça. Essa estética contribui para a sensação de desconforto que permeia o filme, colocando os espectadores no lugar das personagens e tornando-os quase cúmplices das suas angústias.

O ápice do filme, seu último ato, é onde as questões provocadoras emergem com força total. A abordagem ousada da terapia como uma ferramenta para mitigar a vingança levanta debates morais e éticos, convidando o público a questionar o próprio senso de justiça. Embora essa abordagem possa ser polarizadora, ela traz uma riqueza de significados que vai além do que é comumente explorado em narrativas do gênero.

Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança é um filme que explora temas complexos de forma audaciosa com atuações cativantes de Cláudia Abreu e Júlia Lemmertz. Apesar de suas oscilações de ritmo, o filme se destaca por sua capacidade de provocar reflexões sobre justiça, vingança e os limites da busca por justiça. Como início de uma trilogia, ele estabelece uma base intrigante e promissora para futuras explorações dessas questões impactantes.

Nota 3.0/5.0

CRÍTICA | ASTEROID CITY

O aclamado diretor Wes Anderson nos brinda com sua mais recente obra, "Asteroid City", uma viagem cinematográfica que mergulha na década de 1950, em uma cidade fictícia no deserto norte-americano. Este filme se diferencia de qualquer outra criação de Wes Anderson, trazendo uma narrativa inusitada e uma estética visual que é um verdadeiro deleite para os fãs fieis do diretor.

O estilo marcante de Wes Anderson, reconhecido por suas paletas de tons pastéis e movimentos de câmera peculiares, está mais uma vez presente e consolida o estilo do diretor. A fotografia hipnotizante e a direção de arte minuciosa criam um mundo estilizado e cativante que nos transporta para um universo único, repleto de detalhes visuais encantadores.

O elenco repleto de estrelas, liderado por nomes como Margot Robbie, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Tilda Swinton, Steve Carell, Edward Norton, Willem Dafoe e até o talentoso brasileiro Seu Jorge, contribui para a riqueza do filme. Cada ator entrega uma atuação sólida, capturando as excentricidades dos personagens que habitam essa cidade fictícia. As interações entre esses personagens criam momentos hilários, sustentando a comédia que permeia o filme e que de fato aguça a curiosidade do público.

A premissa de trazer a história do filme, concebida como uma peça teatral encenada, serve como pilar para a trama, e é ai que começam os problemas, o enredo, infelizmente, é onde "Asteroid City" tropeça de uma forma nunca vista na filmografia de Wes Anderson. 

Embora o filme tenha momentos cômicos realmente chamativos, as escolhas narrativas foram tão ambiciosas que se perderam e não funcionaram. A tentativa de combinar elementos do cinema e do teatro resultam em uma CONFUSÃO que torna difícil seguir a linha principal da história. A constante alternância entre diferentes subtramas e a falta de um protagonista bem definido fragmentam a experiência e deixam o público literalmente perplexo, sem entender se estamos abraçando uma ficção, se estamos sendo feitos de espectador de uma peça teatral, ou ambos. Nada é claro, e o resultado ao final é uma grande dúvida.

A falta de uma âncora narrativa prejudica a coesão do filme. Enquanto algumas das histórias são intrigantes e envolventes, outras parecem supérfluas, deixando uma sensação de falta de conexão entre os diversos personagens e enredos. Isso faz com que o filme se arraste em algumas partes, perdendo a oportunidade de criar um fio condutor sólido que amarre todos os elementos e personagens de forma satisfatória.

"Asteroid City" é, sem dúvida, uma experiência ousada que exala o estilo autoral e inconfundível de Wes Anderson. Suas qualidades visuais são indiscutíveis, mas o filme sofre com suas escolhas narrativas complexas e a falta de uma trama central coesa.

Nota: 2.5/5.0 

03/08/2023

CRÍTICA | A ERA DE OURO



"A Era de Ouro" é uma emocionante biografia que nos transporta para a fascinante história de Neil Bogart, um visionário judeu que superou adversidades e transformou sua paixão pela música em uma império fonográfico. O filme é uma ode à criatividade e inovação, retratando a fundação da Casablanca Records e sua ascensão meteórica como um selo pioneiro nos anos 70. Para os amantes da música, a trilha sonora é, sem dúvida, o ponto alto, repleta de sucessos icônicos que marcaram época e influenciaram a cultura musical. Os bastidores da Casablanca Produtora, sua rivalidade com a Warner e as táticas inventivas adotadas para conquistar seu espaço na indústria cativam a atenção do público e proporcionam uma experiência envolvente.

O filme apresenta uma narrativa cativante e inspiradora, que ressalta a perseverança e a crença de que tudo é possível quando se tem um sonho e a coragem para persegui-lo. Neil Bogart, mesmo tendo falecido prematuramente aos 39 anos, viu seu sonho se concretizar, deixando um legado inegável na história da música. O diretor Timothy Scott Bogart, ao homenagear seu pai, abraça a produção com dedicação, oferecendo uma perspectiva pessoal e afetiva que acrescenta ainda mais valor à obra.

A fotografia do filme é primorosa, capturando com maestria a essência visual da década de 70. A ambientação é autêntica, transportando o público para a época em que a música vivenciou uma efervescência sem precedentes. Cenários, figurinos e detalhes visuais conferem ao filme uma imersão completa na atmosfera da Era de Ouro da música.


Para os fãs das músicas lançadas pela Casablanca Records, "A Era de Ouro" é um deleite absoluto. No entanto, para aqueles que não têm afinidade com esse estilo musical, a trama pode perder um pouco de seu apelo e parecer monótona em alguns momentos. Ainda assim, a força da história de superação de Neil Bogart e o impacto que sua criatividade teve na indústria fonográfica são elementos que podem cativar e inspirar até mesmo os espectadores menos familiarizados com a música da época.

As aparições de algumas bandas ou cantores como KISS, Donna Summer e The Village People, interpretadas por atores, são um dos elementos que tornam a experiência dos fãs ainda mais empolgante e autêntica. Os criadores do filme demonstraram um cuidado minucioso na escolha do elenco, buscando atores que não apenas se assemelhassem fisicamente aos artistas originais, mas que também conseguissem capturar sua essência artística e carisma no palco. A energia contagiante das performances musicais é emocionante e faz com que o público se sinta transportado no tempo, revivendo a magia das primeiras apresentações ao vivo dessas lendárias bandas. A combinação da trilha sonora original com as interpretações cativantes dos atores cria um elo especial entre o filme e os espectadores, permitindo que eles se conectem emocionalmente com essas figuras históricas da música.

"A Era de Ouro" une música, história e inspiração. Com uma trilha sonora memorável, direção emocionalmente envolvente e uma reconstituição visual autêntica da década de 70, o filme captura com sucesso a vida e a trajetória de Neil Bogart. É um filme que merece ser apreciada por todos os que desejam conhecer mais sobre esse personagem extraordinário e o legado que ele deixou para a indústria musical.

Nota: 4.0/5.0