29/11/2023

Crítica | Digimon Adventure 02: O Início


Eu nem consigo descrever a felicidade que estou com a chegada de Digimon Adventure 02: O Início nos cinemas do Brasil. Sabe quando você sente que está realizando um sonho de criança? Pois bem esse momento chegou! Quinta feira 30 de novembro os monstrinhos digitais vão invadir as telonas do cinema e, se você é um digifã, é quase que obrigatório ir ao cinema assistir ao filme. Fazendo isso mostramos para as produtoras que há público para filmes de anime no cinema e vai fazer com que tragam cada vez mais animes pras telonas.

Dito isso vamos lá, Digimon Adventure 02: O Início é continuação direta de Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna, que foi lançado em 2020 e infelizmente não veio para o Brasil de forma oficial. Apesar de ser uma continuação Adventure 02 não cita nenhum dos eventos que ocorreram em Kizuna, o que por um lado me deixou um pouco desapontado mas por outro lado faz com que Kizuna não seja necessariamente obrigatório para quem vai aos cinemas assistir a 02.

Em Digimon Adventure 02: O Início acompanhamos as aventuras do segundo grupo de digiescolhidos liderados por Davis Motomiya. Eles se deparam com Lui, aquele que foi o primeiro digiescolhido do mundo, o primeiro a ganhar um parceiro digimon, e a história gira em torno da relação dessa criança e seu digimon chamado Ocomon. Davis e seus amigos então se propõem a ajudar Lui, a reconectar-se com seu parceiro. 

Digimon Adventure 02: O Início tem uma carga emocional muito grande, e acaba te pegando bem mais pelo dado emocional com a história de Lui e Ocomon do que com batalhas épicas entre digimons, o que inclusive senti um pouco de falta, uma grande luta com direito a mais digievolucões do que é de fato nos apresentado durante o filme.

Durante o filme Davis e Ken tem muito mais destaque que TK, Kari, Yolei e Cody, o entrosamento entre eles é muito legal mas de fato veremos menos do resto do grupo em comparação com os protagonistas, deixando os outros digiescolhidos e seus Digimon um pouco “apagados”. Mas no final o saldo é positivo e te deixa ansioso e com um gostinho de quero mais das histórias desses grupos de digiescolhidos e seus Digimon que são tão queridos. 

A animação está impecável, se em Adventrure Tri eu achava as poses dos Digimon durante suas evoluções estranhas, aqui nós temos o puro creme da animação japonesa, aliada a maravilhosa trilha sonora que Digimon possui é um prato cheio para os fãs que vão ao cinema assistir ao filme. Quando a trilha sonora da digievolução começou a tocar eu me arrepiei todo e de repente o Marcos dos anos 2000 voltou por uns instantes e ele estava muito, mas muito feliz. 

Por fim vamos falar da dublagem, que está magnífica, uma grande parte dos dubladores originais voltam a dublar seus personagens. E aqui percebemos algo muito bacana, os dubladores conseguiram dar uma entonação mais madura para seus personagens então fica aquela sensação gostosa que transita entre o familiar e o novo. 

Digimon Adventure 02: O Início é um balde de emoção e nostalgia para os digifãs brasileiros. Vale a pena ser visto no cinema, principalmente pra mostrar que filmes de anime tem público no Brasil. Quem vai ver no cinema comenta: “Eu vou!”

Nota: 4.0/5.0

CRÍTICA | AS AVENTURAS DE POLIANA


"As Aventuras de Poliana", chega aos cinemas brasileiros como uma continuação da telenovela de grande sucesso exibida pelo SBT entre 2018 e 2020. Adaptada do best-seller "Pollyana" de Eleanor Porter, a trama mantém o espírito otimista e gentil da personagem principal, Poliana, uma jovem que busca sempre encontrar algo positivo nas diversas situações da vida.

A narrativa do filme se desloca para uma nova ambientação em um resort de luxo em uma ilha paradisíaca, onde Poliana (interpretada por Sophia Valverde) trabalha durante as férias. A trama se desenvolve com o objetivo de convencer seu pai sobre sua responsabilidade, visando obter permissão para estudar no exterior após ser rejeitada em uma universidade renomada na área de turismo.


A decisão de manter personagens populares e apresentar um enredo mais maduro mostra um esforço em evoluir a história para acompanhar o crescimento do elenco, que passou de crianças a adolescentes desde o início da novela. No entanto, o filme mantém uma conexão sólida com seu público infantil ao abordar temas estratégicos, como preservação do meio ambiente, impacto ambiental e evolução nos relacionamentos amorosos dos protagonistas.

A trama se desenrola com Poliana e seus amigos enfrentando desafios e imprevistos durante o estágio de férias, proporcionando uma jornada divertida, embora repleta de obstáculos. A escolha de abordar questões relevantes com leveza é acertada, mantendo a atmosfera positiva que caracteriza a personagem principal.

No entanto, o filme não deixa de tocar em questões mais sérias, como a escolha que Poliana precisa fazer entre ajudar seus amigos a salvar uma comunidade ribeirinha impactada pelo meio ambiente ou se aliar à gestora do resort, uma personagem que revela não ser uma boa pessoa.


A crítica do "Jogo do Contente" em algumas cenas adiciona camadas à narrativa, destacando a importância de fazer escolhas racionais para impactar positivamente aqueles que enfrentam dificuldades, mesmo que isso signifique abrir mão do otimismo exacerbado.

Contudo, a única parte que deixa a desejar é o final, que parece não explorar adequadamente o sonho almejado pela protagonista desde o início. A audiência fica sem a realização completa do arco de crescimento da personagem.

"As Aventuras de Poliana" cumpre satisfatoriamente seu papel de agradar ao público-alvo. A história bem construída, aliada às performances consistentes do elenco, proporciona uma experiência cinematográfica envolvente. Apesar de algumas falhas na conclusão da trama, o filme entrega uma continuação que evolui em sintonia com o amadurecimento dos personagens e mantém o caráter cativante que conquistou o público na versão televisiva.

Nota: 3.0/5.0

CRÍTICA | TÁ ESCRITO


"Tá Escrito" é uma comédia romântica envolvente que mistura elementos de astrologia e influenciadores digitais para criar uma narrativa cativante e divertida. Estrelado por Larissa Manoela, André Luiz Frambach, Karine Teles e Victor Lamoglia, o filme traz à tona uma trama única e original que explora o poder de influenciar a vida dos outros por meio de previsões astrológicas.

A história começa com Alice, uma estudante de publicidade apaixonada por astrologia, recebendo um caderno misterioso que concede a ela o poder de tornar realidade as previsões astrológicas ali escritas. Movida por seus desejos egoístas, Alice utiliza esse poder para moldar o mundo ao seu redor de acordo com suas vontades, resultando em uma série de situações hilariantes e complicadas.

Larissa Manoela entrega uma atuação carismática e eficaz como Alice, conectando-se de forma convincente com o público, especialmente o mais jovem. Seu desempenho hilário e vibrante dá vida ao personagem, tornando-a uma protagonista cativante. O elenco de apoio, incluindo André Luiz Frambach, Karine Teles e Victor Lamoglia, complementa bem a dinâmica do filme, proporcionando momentos de comédia e romance que contribuem para o charme da narrativa.

O filme explora os clichês associados a cada signo do zodíaco, usando essas características distintivas para moldar os personagens e criar momentos engraçados e emocionantes ao longo da trama. Essa abordagem adiciona uma camada divertida à história, permitindo ao público reconhecer e se identificar com as peculiaridades de cada signo.

Além da comédia leve, "Tá Escrito" também aborda questões contemporâneas, como a obsessão das gerações mais jovens por redes sociais e influenciadores digitais. A reflexão sobre a busca por sucesso virtual em detrimento da realidade, bem como a solidão subjacente ao mundo brilhante das redes sociais, acrescenta profundidade à trama.

A direção do filme, sob a responsa de Matheus Souza, é eficaz ao criar uma atmosfera visualmente atraente e contemporânea. Os cenários, diálogos e figurinos refletem a estética das redes sociais, com uma dose de influência K-Pop para atrair o público jovem. A escolha acertada desses elementos contribui para a imersão na história e para a conexão com a audiência.

A trilha sonora também desempenha um papel importante, complementando a atmosfera do filme e intensificando os momentos emocionais e cômicos. A integração de elementos visuais e sonoros resulta em uma experiência cinematográfica coesa e agradável.

Ao abordar temas mais profundos sobre a construção da imagem pessoal, o filme oferece uma reflexão sobre as consequências de buscar a aprovação nas redes sociais. Essa mensagem, embora embalada em uma comédia romântica, adiciona uma camada de relevância e torna "Tá Escrito" mais do que apenas uma história divertida.

A possibilidade de uma continuação é sugerida no final do filme, e se depender da recepção do público, "Tá Escrito" pode abrir caminho para uma nova abordagem em continuações de filmes protagonizados por Larissa Manoela. A cena pós-créditos deixa os espectadores ansiosos por mais, o que demonstra o potencial duradouro da história.

Tá Escrito é uma comédia romântica envolvente e atual, que oferece risadas, romance e uma reflexão sutil sobre a sociedade moderna. Com um elenco carismático, uma trama original e uma abordagem criativa dos temas contemporâneos, o filme se destaca como uma opção divertida para o público, especialmente para aqueles que apreciam uma comédia leve e inteligente.

Nota: 4.5/5.0

27/11/2023

CRÍTICA | O SEQUESTRO DO VOO 375


"O Sequestro do Voo 375" chega aos cinemas de uma forma corajosa e inovadora, mergulhando em um evento pouco conhecido da história do país. Baseado em eventos reais ocorridos durante o Plano Sarney em 1986, o filme narra o sequestro do voo 375 da VASP por Raimundo Nonato Alves da Conceição, interpretado de maneira envolvente por Jorge Paz.

O diretor Marcus Baldini opta por não apenas retratar o drama aéreo, mas também contextualizar a situação do sequestrador, oferecendo uma visão humanizada de um homem movido pelo desespero e pelas dificuldades econômicas da época. Paz entrega uma interpretação poderosa, transmitindo o nervosismo e a falta de controle de Nonato sobre a situação, quebrando a tradicional representação unidimensional de vilões em histórias de sequestro.


O contraponto dramático é muito bem conduzido por Danilo Grangheia, que interpreta o piloto Murilo. Sua atuação convincente retrata a angústia e a responsabilidade de pilotar um avião sob ameaça, culminando em manobras arrojadas e inéditas para evitar uma tragédia. As cenas dentro da aeronave, filmadas em um Boeing da VASP já extinto, oferecem uma imersão notável, com sequências tão realistas que provocaram reações físicas nos espectadores.

O roteiro também se aventura nos bastidores da crise, explorando as discussões sobre a possível interceptação do avião e a luta de poder entre autoridades e conselheiros de Sarney. Gabriel Godoy, no papel do delegado de polícia federal, adiciona uma camada adicional de complexidade ao enredo, enquanto o filme tenta equilibrar tensão e exposição.

No entanto, o filme revela algumas vulnerabilidades em momentos fora da aeronave. Diálogos excessivos sobre decisões de alto escalão e uma representação exagerada dos líderes militares podem parecer um tanto forçados, desviando a atenção da intensidade do sequestro. Além disso, algumas frases de efeito, embora destinadas a enaltecer o heroísmo do piloto, às vezes parecem desnecessárias.


A produção, financiada pela Star+ com um orçamento significativo de aproximadamente 15 milhões, aproveita recursos tecnológicos para oferecer uma experiência visual imersiva. As cenas aéreas, especialmente as manobras do avião, são impressionantes e mantêm o espectador à beira do assento. O uso inteligente do slow motion contribui para amplificar a dramaticidade nos momentos cruciais, elevando o impacto emocional.

"O Sequestro do Voo 375" não apenas recria um evento marcante da história brasileira, mas também destaca a coragem do piloto Murilo, que muitas vezes passou despercebida. Apesar de alguns tropeços o filme se destaca como um marco no cinema nacional, explorando um capítulo pouco conhecido e oferecendo uma experiência intensa. Um filme que não apenas entretém, mas também traz à luz uma história incrível que merece ser lembrada e reconhecida.

Nota: 4.0/5.0

22/11/2023

CRÍTICA | PEDÁGIO


"Pedágio", dirigido por Carolina Markowicz, é uma obra cinematográfica intensa que mergulha nas complexidades de uma vida humilde e desafiadora, permeada pelo preconceito e pela aceitação forçada de uma absurda oferta de "cura gay". O filme não apenas desafia as normas sociais, mas também oferece uma narrativa envolvente que exige a atenção do espectador, proporcionando reflexões profundas em cada cena.

A trama gira em torno de Suellen, uma trabalhadora incansável como cobradora de pedágio em Cubatão, São Paulo, e seu filho Tiquinho, um jovem apaixonado por vídeos e imitações de divas da música. A reviravolta na vida de Suellen ocorre quando ela se depara com a oportunidade de financiar a ida de seu filho à controversa "cura gay" ministrada por um pastor estrangeiro. O preço exorbitante dessa suposta cura coloca Suellen em uma situação difícil, levando-a a envolver-se em atividades ilegais para arrecadar fundos.

A diretora Carolina Markowicz, conhecida por sua habilidade em contar histórias visuais, entrega um filme desafiador que aborda questões profundas. A alienação de uma mãe diante da oferta absurda de uma "cura gay" torna-se o ponto focal da narrativa. O roteiro brilhante destaca a relação tumultuada entre Suellen e seu filho Tiquinho, revelando as lutas enfrentadas por este último devido à sua orientação sexual e suas expressões artísticas.


A escolha de Suellen em permanecer em um relacionamento abusivo, descobrindo as atividades criminosas de seu namorado Arauto, adiciona camadas de complexidade à trama. A participação dela em ações inconsequentes, como informar sobre possíveis vítimas para roubos, cria uma espiral de eventos que culmina em uma reviravolta surpreendente.

A fotografia do filme oferece uma representação visual impressionante da realidade enfrentada pelos personagens, destacando a alienação, a opressão e a luta pela aceitação. O elenco, liderado por Maeve Jinkings como Suellen e Kauan Alvarenga como Tiquinho, entrega performances emocionalmente carregadas que dão vida aos personagens complexos e que com certeza vão impactar o público.

Com uma abordagem sensível e precisa de Markowicz expõe as verdades difíceis de uma sociedade que, por vezes, escolhe caminhos difíceis em busca de sentido para as normas impostas. A narrativa destaca a opressão enfrentada pela comunidade LGBTQIA+, especialmente quando influenciada por ideologias religiosas agressivas. O filme ressoa como uma representação angustiante de como a ignorância e a intolerância podem destruir vidas e famílias, especialmente em um ambiente onde a própria mãe renega o filho por sua autenticidade.

"Pedágio" é mais do que um filme, é um chamado à reflexão sobre a importância da aceitação, compreensão e respeito pelas diversas identidades presentes em nossa sociedade. Uma obra corajosa que confronta as incoerências e atrocidades perpetradas por alguns setores da sociedade, deixando uma marca duradoura na mente do espectador. Este é, sem dúvida, um dos filmes mais impactantes e relevantes do ano, oferecendo uma visão crua e necessária da jornada para a vida adulta em meio a adversidades inimagináveis.

Nota: 5.0/5.0

CRÍTICA | NAPOLEÃO


Dirigido por Ridley Scott, "Napoleão" oferece um olhar original e pessoal sobre as origens e ascensão do lendário líder francês. Interpretado de forma magnífica por Joaquin Phoenix, Napoleão Bonaparte é apresentado como um homem complexo, cujo gênio militar contrasta com sua vida pessoal tumultuada, especialmente seu relacionamento conturbado com Josephine, interpretada por Vanessa Kirby.

O filme segue a jornada notável de Napoleão, partindo de um oficial de artilharia do exército francês até sua derrota e exílio na ilha de Santa Helena. A narrativa destaca suas táticas brilhantes no campo de batalha, conquistando o mundo para tentar conquistar o amor de Josephine. O enfoque na cruzada romântica adiciona uma dimensão humana ao retrato do líder militar, mostrando suas vulnerabilidades e conflitos internos.

Joaquin Phoenix oferece uma atuação deslumbrante, capturando a essência contraditória de Napoleão - um estrategista brilhante, mas também um homem em busca desesperada de amor. Sua abordagem sutil e fala mansa adiciona uma camada de complexidade ao personagem, afastando-se de retratos convencionais e destacando sua insegurança e natureza anti-social.


O roteiro, escrito por David Scarpa, desvia a atenção não apenas para as conquistas militares de Napoleão, mas também para o relacionamento com Josephine. A intensidade da paixão entre os dois é evidente, tornando-se um elemento central na narrativa. A decisão de Scott e Phoenix de adotar um tom ameno, retratando Napoleão como um jovem petulante e genial, proporciona uma abordagem única à figura histórica.

O filme apresenta cenas de batalha espetaculares, com a direção de Scott utilizando o formato widescreen de maneira impactante. As sequências de combate, preenchendo toda a tela, proporcionam uma experiência visual envolvente, destacando a perspicácia militar de Napoleão. No entanto, a narrativa não se limita apenas às guerras, mas também explora eventos significativos na vida do líder, desde a guilhotina de Maria Antonieta até seu exílio em Santa Helena, visualmente falando, temos uma obra prima.

Vanessa Kirby brilha como Josephine, desempenhando um papel crucial na trama. A decisão de dar a ela a última palavra na narrativa, mesmo após sua morte, destaca a importância do relacionamento para a história de Napoleão. O filme mergulha nas complexidades da paixão deles, mostrando como Josephine permaneceu no centro da vida de Napoleão, mesmo apesar das adversidades.


A abordagem de Scott, embora ambiciosa, pode parecer incompleta e, em alguns momentos, revisionista demais. O filme parece sacrificar a precisão histórica em prol do espetáculo, deixando questões sem resposta e ambiguidades sobre as escolhas do diretor, um outro detalhe que pode parecer estranho para alguns é a diferença de idade entre o ator Joaquin Phoenix e o seu personagem, Joaquin de 49 anos interpreta um Napoleão na casa dos 27 e para alguns isso pode parecer estranho.

"Napoleão" oferece uma perspectiva intrigante sobre a vida do líder francês, destacando não apenas suas conquistas militares, mas também seu tumultuado relacionamento com Josephine. Com atuações notáveis e cenas de batalha impressionantes, o filme proporciona uma experiência visual envolvente, embora sua abordagem ambiciosa possa deixar alguns espectadores em busca de uma representação mais equilibrada e precisa da história. Ridley Scott, mais uma vez, nos presenteia com um filme marcante e digno de reflexão.

Nota: 4.5/5.0

14/11/2023

CRÍTICA | JOGOS VORAZES: A CANTIGA DOS PÁSSAROS E DAS SERPENTES


"Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" nos leva de volta ao universo distópico de Panem, antes da revolução liderada por Katniss Everdeen. O filme, dirigido por Francis Lawrence, mergulha nas origens do ditador Coriolanus Snow, interpretado de maneira magistral por Tom Blyth. Embora o retorno seja bem-vindo, o filme, que segue fielmente a obra de Suzanne Collins, por vezes peca ao explorar as complexas relações entre os personagens principais.

Desde os primeiros minutos, somos imersos em um mundo pós-guerra, testemunhando os horrores que deram origem aos Jogos Vorazes. A ascensão de Coriolanus Snow estabelece um tom sombrio para a narrativa, destacando a dominação opressiva da Capital sobre os distritos. A iminência dos 10º Jogos anuais adverte sobre a crueldade transformada em espetáculo televisivo.

A trama se desenrola com Coriolanus enfrentando o dilema de ganhar os Jogos para salvar sua família da pobreza. A competição, diferente das anteriores, exige mais espetáculo e emoção, pressionando os mentores a criarem um show memorável. Tom Blyth e Rachel Zegler, que interpreta Lucy Gray Baird, entregam performances incríveis. A química entre eles é palpável, principalmente quando Coriolanus encontra em Lucy Gray uma esperança para conquistar a audiência.


No entanto, a trama se torna complexa com o surgimento de conflitos, especialmente na amizade de Coriolanus com Sejanus Plinth, que expõe as fissuras sociais entre os distritos e a Capital. O romance entre Coriolanus e Lucy Gray adiciona camadas emocionais, mas a narrativa, rica em possibilidades, parece comprometida em determinados momentos.

A dualidade dos personagens e as intrincadas relações deveriam ser o núcleo da trama, mas em alguns pontos, a execução deixa a desejar. Lucy Gray, interpretada por Rachel Zegler, desafia e encanta o público, enquanto Coriolanus oscila entre lealdade e interesse próprio. Infelizmente, a trama não explora totalmente essa dinâmica, deixando-a subdesenvolvida em alguns momentos.

A fotografia do filme é impecável, transportando o público para paisagens deslumbrantes. A divisão em três atos permite uma construção narrativa que cobre a extensa história do livro. O destaque vai para o primeiro ato, que apresenta a história de Snow e estabelece o tom sombrio da Capital. O segundo ato expõe as raízes dos Jogos, enquanto o terceiro foca no romance entre Snow e Gray, proporcionando a revelação dos motivos que moldaram Snow como uma peça central nesse jogo de vida ou morte.


É claro que precisamos falar do desempenho de Viola Davis como Volumnia Gaul, que aqui é cativante e perigoso. Sua parceria com Tom Blyth, destaca-se como um dos pontos altos do filme. A dinâmica entre os dois personagens é envolvente, proporcionando momentos intensos e intrigantes. No entanto, a saída de Viola Davis no ato três deixa um vácuo na trama que poderia ter sido mais profundamente explorado, especialmente considerando a complexidade que a atriz trouxe ao papel.

A trilha sonora desempenha um papel crucial, destacando a importância da música no universo de Jogos Vorazes. Rachel Zegler entrega belas performances musicais, revelando a história por trás da icônica canção "The Hanging Tree". A música é fundamental para transmitir a esperança aos distritos e o entretenimento à Capital, destacando o papel crucial do tordo e das serpentes no poder da Capital.

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" é um retorno bem-sucedido ao universo distópico, mas não está isento de falhas. A trama e as boas atuações do elenco mantêm os fãs envolvidos, mas a execução em alguns momentos deixa a desejar. A fotografia deslumbrante e a trilha sonora envolvente contribuem para uma experiência marcante. O filme esclarece pontos soltos da franquia, encantando os fãs e, possivelmente, atraindo uma nova geração para esse universo que deixou um legado significativo.

Nota: 4.0/5.0