24/01/2024

Crítica | O Mal que nos habita


"O Mal Que Nos Habita" desbrava o terror com uma narrativa que se inicia de forma misteriosa, envolvendo os protagonistas em uma trama sinistra. Os sons noturnos e tiros à distância sinalizam o mal iminente, dando o tom de suspense que permeia todo o filme. A descoberta aterrorizante dos irmãos Pedro e Jimi, no início, cria um cenário intrigante e macabro.

A introdução do conceito de um "purificador" que tenta expulsar uma entidade hostil do hospedeiro adiciona uma camada complexa ao enredo. A jornada dos personagens principais até a cabana de Maria Elena, com Uriel em estado lastimável, eleva o horror a um nível perturbador. A persistência do mal por um ano, ignorado pelas autoridades, acrescenta um elemento de impotência diante do sobrenatural.

A inclusão do vizinho Ruiz, preocupado principalmente com a desvalorização de sua propriedade, adiciona um toque de realismo à trama, destacando as diferentes prioridades em face do desconhecido. A solução proposta por Ruiz, que inicialmente parece lógica, intensifica a propagação do mal e leva os protagonistas a uma fuga desesperada.


A narrativa, embora por vezes instável, destaca-se como uma obra original, abrindo espaço para uma potencial franquia. A história por trás da ameaça sobrenatural permanece enigmática, contribuindo para a atmosfera de terror. O filme mantém seu impacto, apesar de momentos chocantes que, em certa medida, diminuem a urgência da narrativa.

O elenco lida com personagens grotescos de forma séria, aprimorando a aceitação da invasão demoníaca. A produção técnica brilha, com um trabalho de câmera envolvente, uma trilha sonora arrepiante, edição precisa e efeitos visuais impressionantes. A originalidade do filme reside em sua capacidade de ser imprevisível, deixando pontas soltas para uma possível continuação.

A caracterização de "O Mal Que Nos Habita" como bizarro e visceral é completamente justificada diante da intensidade da narrativa. A trama, que se desenrola com eventos macabros desde os primeiros momentos, mergulha os espectadores em um estado de loucura perturbadora. A atmosfera repugnante e nojenta, cuidadosamente construída, ultrapassa os limites convencionais dos filmes de possessão, oferecendo uma experiência visceral que desafia as expectativas do público. A agressividade da narrativa, marcada por cenas impactantes e grotescas, contribui para a singularidade do filme, consolidando sua reputação como uma obra que ousa explorar os recantos mais sombrios do horror de maneira verdadeiramente excepcional.

"O Mal Que Nos Habita" é, apesar de sua ocasionalidade grotesca e arbitrária, um triunfo técnico no cenário do horror contemporâneo. Sua promessa como uma obra impactante e a possibilidade de expansão do universo criado certamente o colocam como um filme que deve ser visto por quem gosta do gênero.

Crítica | Pobres Criaturas


Pobres Criaturas, o mais recente filme do renomado diretor grego Yorgos Lanthimos, é uma obra que transcende as expectativas do espectador ao apresentar uma mistura única de romance, ficção científica e peculiaridade visual. Diferentemente de suas produções anteriores, como a enigmática "A Favorita", Lanthimos adota uma abordagem mais terna e acessível, mantendo, no entanto, sua marca registrada de excentricidade.

A narrativa, baseada no romance homônimo de Alasdair Gray, transporta o público para a Era Vitoriana, onde a protagonista Bella Baxter, interpretada brilhantemente por Emma Stone, é trazida de volta à vida através de um experimento conduzido pelo cientista Dr. Godwin Baxter, interpretado por Willem Dafoe. A premissa é ousada, referenciando o clássico Frankenstein, mas Lanthimos consegue dar um toque original e encantador à história.

O filme é uma celebração da estranheza, repleto de visuais distintos, desde os amplos ângulos de filmagem até detalhes inusitados, como um buldogue com cabeça de pato, brincando em uma grande sala de estar. A paleta de cores supersaturadas, especialmente após a rebelião de Bella e sua jornada pelo continente, destaca a transição da vida monótona em preto e branco para a exploração vibrante da liberdade.


O destaque indiscutível é a performance excepcional de Emma Stone como Bella Baxter. A atriz entrega um dos melhores desempenhos de sua carreira, capturando magistralmente a dualidade de sua personagem, uma mulher com o cérebro de uma criança. O toque de tremor de Frankenstein em seu andar revela a maestria de Stone ao retratar a essência complexa de Bella.

A trama, centrada na jornada de Bella pelo mundo, ganha profundidade através de personagens secundários cativantes, como o libertino Duncan Wedderburn, interpretado por Mark Ruffalo. A história se desenrola como uma alegoria da feminilidade vitoriana infantilizada, à medida que Bella assume o controle de seu destino, corpo e mente.

Apesar do encanto constante, o ato final, que explora a vida anterior de Bella, pode parecer excessivo para alguns espectadores, diminuindo um pouco o impacto emocional. No entanto, essa ressalva não diminui a alegria visual e emocional que permeia o filme, com Bella navegando pelo seu mundo peculiar de maneira encantadora.


Os créditos finais, com suas belas pinturas imersas na arte francesa, contribuem para a atmosfera única do filme. A habilidade de retratar locais como Lisboa e Paris, mesmo com um toque de surrealismo, adiciona uma camada de autenticidade a beleza que vemos aqui.

A fotografia impecável e a trilha sonora perfeitamente cronometrada complementam o conjunto, criando uma verdadeira obra de arte. Pobres Criaturas é uma experiência única, uma jornada encantadora através da mente radiante de Bella Baxter, que adiciona um toque especial ao repertório do talentoso Yorgos Lanthimos.

Nota: 5.0/5.0

17/01/2024

CRÍTICA | MERGULHO NOTURNO


"Mergulho Noturno" mergulha nas águas turbulentas do terror, apresentando uma narrativa que, apesar de original em alguns aspectos, acaba caindo em alguns clichês do gênero. Sob a direção de Bryce McGuire, o filme nos coloca na vida dos Wallers, uma típica família americana cuja mudança para uma casa com uma piscina aparentemente perfeita revela um passado sinistro e malévolo.

O enredo inicia com um gancho impactante, mas ao longo do filme, a trama segue uma estrutura que se assemelha notavelmente à de outros filmes do gênero, como "Smile" de 2022. A introdução da família Waller é bem executada, com destaque para a atuação de Kerry Condon como a mãe, Eve, e Amélie Hoeferle como a rebelde filha Izzy. No entanto, a profundidade dos personagens é limitada, especialmente quando se trata do protagonista Ray, interpretado por Wyatt Russell, cujo diagnóstico de esclerose múltipla não é totalmente explorado em sua complexidade.


A trama se desenrola ao redor de uma piscina que esconde um segredo sombrio, mas a abordagem do filme em relação a essa força malévola é frequentemente reduzida a uma comédia involuntária. A referência constante à ameaça como "a piscina" em vez de "a água" pode parecer intrinsecamente cômica, minando o potencial do filme em criar um terror genuíno.

O filme se esforça para explorar os medos primordiais relacionados à água, mas muitas vezes deixa de aproveitar todo o potencial da fotografia subaquática criativa. A oportunidade de aprofundar a moralidade, apresentada pela capacidade da água de realizar desejos a um custo, não é totalmente explorada, resultando em uma narrativa que poderia ter sido mais rica.

Um outro ponto que chama atenção é o abuso do artifício do jumpscare, que acaba tornando o filme dependente desse recurso para criar tensão e sustos. O diretor opta por utilizar repetidamente a fórmula previsível de construir silêncio seguido por um som estridente e uma imagem chocante, muitas vezes desviando a atenção do desenvolvimento da trama. Essa técnica, embora inicialmente eficaz para provocar reações imediatas, acaba diluindo seu impacto ao longo do tempo, resultando em um cansaço do público em relação a esses momentos abruptos e prejudicando a capacidade do filme de construir uma atmosfera genuinamente assustadora. 


A mistura de elementos de comédia e terror parece desequilibrada, deixando o público em um estado de suspensão entre o riso e o medo. Embora alguns momentos consigam explorar efetivamente os medos aquáticos, o filme se perde em seu próprio mar de clichês. A falta de originalidade na abordagem e a dependência de elementos familiares de outros filmes de terror, como "It: Capítulo Um" e "Horror em Amityville", impedem "Mergulho Noturno" de se destacar como uma experiência verdadeiramente única.

"Mergulho Noturno" é para quem curte muitos jumpscares e clichês de filme de terror. O filme vai fundo nesse estilo, proporcionando uma montanha-russa de sustos e cenas previsíveis que muitos fãs desse tipo de filme adoram. No entanto, quem busca de algo mais original e que fuja um pouco dos lugares comuns do gênero, pode se decepcionar. De qualquer forma os pulos na cadeira estão garantidos.

Nota: 3.0/5.0

Crítica | Sobreviventes - Depois do Terremoto


"Sobreviventes - Depois do Terremoto" é um drama impactante que mergulha nas complexidades das relações humanas diante de um apocalipse desencadeado por um poderoso terremoto que devastou Seul. O filme concentra-se no único edifício ainda de pé, o apartamento Hwanggoong, onde os residentes liderados por Young-Tak (Lee Byung-Hun) lutam para sobreviver em meio ao caos. A trama se desdobra através do olhar atento de Young-Tak, que temporariamente lidera e tenta proteger os residentes de ameaças externas.

O roteiro, centralizado na criação de modelos de sobrevivência, destaca-se por explorar as dinâmicas humanas sob condições extremas. O protagonismo de Young-Tak e seu auxiliar, Min-Sung (Park Seo-Joon), adicionam camadas à narrativa, enquanto a esposa de Min-Sung, Myeong-Hwa (Park Bo-Young), desempenha um papel crucial como enfermeira cuidando dos feridos. O filme adota uma abordagem centrada nos diálogos, apresentando discussões envolventes que, para alguns espectadores, podem se tornar cansativas.


A escolha da fotografia em tons sempre acinzentados é notável, amplificando a tristeza e desolação pós-terremoto. As cenas de destruição são bem construídas, proporcionando uma visão impactante dos estragos causados pelo desastre natural. A atmosfera sombria contribui para a imersão na narrativa, evocando uma sensação real de desespero.

A analogia com "The Walking Dead", embora sem zumbis, é intrigante. O filme explora as dificuldades da sobrevivência em um mundo transformado, onde novas regras surgem com o crescimento da população. A tensão aumenta à medida que os personagens enfrentam dilemas morais e éticos, enfatizando o desafio de equilibrar a ordem e a humanidade em meio à crise.


O clímax do filme envolve a desconstrução das próprias regras criadas pelos sobreviventes, destacando como a humanidade pode se perder em suas próprias tentativas de sobreviver. O filme faz uma reflexão profunda sobre a natureza humana e as escolhas que as pessoas fazem quando confrontadas com o fim iminente.

"Sobreviventes - Depois do Terremoto" é um filme diferente e que cativa pela sua exploração intensa das relações humanas em um cenário apocalíptico. Apesar do enfoque nos diálogos, a trama bem desenvolvida, a fotografia impactante e as performances convincentes tornam este filme uma experiência diferente, envolvente e provocativa.

Nota: 4.0/5.0

12/01/2024

CRÍTICA | SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO


Segredos de Um Escândalo (May December), o mais recente filme do diretor Todd Haynes, conta uma história baseada em fatos reais sobre uma dona de casa amorosa que aprecia cozinhar e cuidar do marido e de seus filhos. No entanto, a verdadeira natureza oculta dessa mulher chamada de Gracie (interpretada por Julianne Moore) é revelada quando, aos 36 anos, ela seduz Joe Yoo (interpretado por Charles Melton). Duas décadas depois, este "romance" sensacionalista ressurge quando Elizabeth (interpretada por Natalie Portman) é escalada para interpretar Gracie, passando algum tempo com ela para compreender melhor o papel, "um filme dentro do filme".

A narrativa nos coloca no lugar de Elizabeth enquanto ela navega pelo mundo peculiar de Gracie. Observamos suas interações com o jovem marido, que nunca teve uma real experiência de relacionamento além deste, e como Gracie o trata mais como um filho do que um marido. Conhecemos seus filhos do primeiro casamento, alguns dos quais são mais velhos ou da mesma idade de Joe, que inclusive possui três filhos com Gracie, uma já na faculdade e outros dois finalizando o ensino médio e indo para a faculdade. Gradualmente, desvendamos as camadas do comportamento amigável de Gracie, revelando a mulher frágil e insegura por baixo.



Quando se trata das performances, Natalie Portman e Julianne Moore, atuando uma contra a outra, entregam atuações impecáveis. Moore incorpora maravilhosamente o drama de Gracie, que oscila entre ingenuidade e astúcia. A antipatia imediata de Gracie por Elizabeth é compreensível, dada a sua história de enfrentar pessoas que tentaram derrubá-la. No entanto, é difícil simpatizar, sabendo dos crimes dela. Por outro lado, Portman retrata Elizabeth com todo o drama necessário, enquanto tenta ser honesta sobre quem Gracie é, ao mesmo tempo que sugere silenciosamente a Joe que ele pode não estar em um casamento tão amoroso quanto pensa. 

Quanto a Joe, Charles Melton se destaca contra Moore e Portman. Ele equilibra com facilidade a simplicidade do personagem de Joe com a crescente curiosidade por uma vida que nunca teve a chance de experimentar devido ao relacionamento e casamento com Gracie. Charles Melton é conhecido principalmente por dramas adolescentes como Riverdale, interpreta a simplicidade e a curiosidade de Joe de maneira autêntica.

O diretor Todd Haynes parece ter se divertido ao dirigir o filme. O uso de música de suspense e zooms de câmera próxima adiciona drama aos momentos de maior expectativa. No entanto, se o objetivo era transmitir um humor negro, o roteiro, escrito por Samy Burch, inclina-se mais para a tragédia. Ao longo do filme, há sugestões não muito sutis sobre a dinâmica de poder desigual entre Joe e Gracie, às vezes sendo emocionalmente manipuladora.


Segredos de Um Escândalo (May December) é inspirado na vida real de Mary Kay Letourneau, com algumas diferenças. O filme aborda a desigualdade na dinâmica de poder e a manipulação emocional, mas às vezes se esforça para equilibrar o tom, alternando entre o sério e o cômico. O diretor e um elenco super talentoso tornam o filme interessante, apesar da falta de uma verdadeira crítica na abordagem do tema.

O longa oferece um vislumbre de um momento específico no tempo. Ao testemunharmos Elizabeth interpretar Gracie, quebrando a quarta parede e sendo muito fiel à realidade de sua inspiração, somos apresentados ao resultado final de sua pesquisa sobre Gracie e sua família. Apesar de alguns desafios, o filme é uma experiência envolvente, impulsionada por um elenco robusto e uma narrativa intrigante.

Segredos de Um Escândalo traz uma história baseada em fatos reais e carregada de polêmicas,  com uma trilha sonora impecável e um enredo que destaca a resiliência humana oferecendo uma reflexão sobre preconceitos e transformações ao longo do tempo, resultando em um filme envolvente que desafia as noções convencionais de amor e aceitação.

Nota: 4.5 / 5.0

11/01/2024

Crítica | Beekeeper - Rede de Vingança


Dirigido por David Ayer e estrelando Jason Statham, Josh Hutcherson e Jeremy Irons, Beekeeper - Rede de Vingança promete uma experiência de ação explosiva combinada com uma narrativa intrigante. O filme, sob a direção de Ayer, conhecido por seus trabalhos em Esquadrão Suicida e Marcados Para Morrer, entrega aquilo que Jason Statham faz de melhor, em um enredo que se destaca pela sua abordagem inovadora. 

O protagonista, Adam Clay (interpretado por Jason Statham), um homem aparentemente comum, revela ser um ex-agente de uma organização clandestina chamada Beekeepers. Após ter seu passado exposto, Clay busca vingança contra aqueles que revelaram seu segredo, embarcando em uma jornada frenética contra uma conspiração perigosa. A trama se desenrola em meio a uma rede de corrupção, estelionato cibernético e confrontos com organizações poderosas.



O filme se destaca ao incorporar elementos da semiótica da colmeia e o ciclo de vida das abelhas, trazendo uma camada única à narrativa. A figura do "Queenslayer", presente na colmeia, é habilmente utilizada como metáfora para as ações de Clay, que busca eliminar os responsáveis pela trama que resultou na perda de uma pessoa querida. A abordagem inovadora não apenas enriquece a narrativa, mas também eleva o filme a um patamar diferenciado.

Jason Statham entrega uma performance convincente como o protagonista Adam Clay, um personagem misterioso e letal. O elenco, incluindo Josh Hutcherson e Jeremy Irons, se destaca ao dar vida a personagens caricatos, contribuindo para a intensidade do filme. A relação entre Clay e Eloise (interpretada por Phylicia Rashad) adiciona uma camada emocional à trama, intensificando a motivação do protagonista.

Beekeeper - Rede de Vingança não se limita à ação espetacular; ele aborda questões contemporâneas como segurança digital, estelionato virtual e a falta de suporte às pessoas idosas diante da tecnologia. A trama habilmente tece esses temas, oferecendo uma reflexão sobre a sociedade atual.



A fotografia do filme é outro ponto que chama bastante atenção, apresentando uma estética meio cyberpunk com luzes intensas e cores fortes. Essa escolha visual contribui para a atmosfera eletrizante, destacando-se como um dos elementos visuais marcantes do filme.

As cenas de ação são executadas com maestria, seguindo o padrão característico dos filmes estrelados por Jason Statham. Explosões, perseguições e confrontos intensos mantêm a adrenalina presente durante todo o filme, proporcionando uma experiência envolvente aos fãs do gênero.

Embora o filme seja repleto de ação, algumas cenas de tortura podem ser desconfortáveis para alguns espectadores. Esses momentos desafiam o público a refletir sobre a linha tênue entre entretenimento e impacto emocional.

Beekeeper - Rede de Vingança é um filme que vai além das expectativas do gênero de ação, oferecendo uma trama envolvente, personagens cativantes e reflexões pertinentes à sociedade. Com sua abordagem inovadora e entrega consistente, o filme se destaca no currículo peculiar de Jason Statham e no hall da fama do gênero de ação. Prepare-se para uma viagem emocionante e reflexiva nas entranhas dessa colmeia de vingança.

Nota 4.5/5.0

Crítica | Os Rejeitados


"Os Rejeitados" é um filme que mergulha nas águas complexas da dinâmica aluno-professor, utilizando a performance brilhante de Paul Giamatti como seu principal atrativo. A trama se desenrola durante as festas de fim de ano, quando o amargurado professor Paul Hunham, interpretado magistralmente por Giamatti, é encarregado de supervisionar os estudantes que não podem retornar para casa. No centro dessa narrativa está Angus, um adolescente rebelde de luto pela perda de seu pai.

A ambientação do filme é uma verdadeira viagem no tempo, transportando o espectador para a década de 70 com maestria. A fotografia, meticulosamente executada, captura a estética da época através de grãos que adicionam uma textura única e nostálgica à tela. Essa atenção aos detalhes não apenas enriquece visualmente a produção, mas também aprofunda a imersão na narrativa.


A trama se desenvolve em um ritmo mais lento, permitindo que os personagens se desenvolvam de maneira orgânica. A comédia presente no filme é sutil e muitas vezes baseada em situações cotidianas, o que pode não agradar a todos os gostos, mas contribui para a autenticidade da história. O verdadeiro destaque reside na construção do relacionamento entre o Sr. Hunham e Angus.

Paul Giamatti entrega uma performance extraordinária como o professor rabugento, injetando profundidade e nuance em um personagem que poderia facilmente cair em estereótipos. Sua interação com Dominic Sessa, que interpreta Angus, é repleta de emoção genuína e momentos tocantes. A dinâmica entre o mestre desgostado e o aluno rebelde é o cerne emocional do filme, explorando temas de perda, aceitação e compreensão mútua.


A mensagem subjacente do filme sobre a importância das relações interpessoais e a necessidade de consenso ressoa de maneira impactante. A jornada de reconciliação entre o professor e o aluno serve como um lembrete eloquente de como as conexões humanas podem florescer mesmo nos lugares mais improváveis.

"Os Rejeitados" se destaca como uma "dramédia" bem construída que oferece uma narrativa envolvente, ancorada por performances excepcionais. Embora possa não ser o tipo de comédia rápida e intensa que alguns esperam, sua abordagem mais contemplativa e emocional é uma lufada de ar fresco. Com uma ambientação visualmente rica, uma trilha sonora envolvente e uma mensagem tocante sobre a importância das relações humanas, este filme merece sua consideração, especialmente quando se projeta como potencial concorrente ao Oscar de 2024 na categoria de melhor ator.

Nota: 4.0/5.0

08/01/2024

Crítica | Chama a Bebel


Chama a Bebel, dirigido por Paulo Nascimento, nos apresenta Bebel, uma jovem cadeirante interpretada com carisma por Giulia Benite (a Mônica dos filmes da Turma da Mônica). Com um roteiro simples, mas cheio de boa vontade, o filme traça uma narrativa inspiradora, baseada em alguns fatos reais, destacando questões relevantes, desde a defesa dos direitos animais até a luta pela sustentabilidade, passando pelo enfrentamento do bullying online e offline.

Giulia Benite, com seu carisma e talento, entrega uma atuação interessante ao dar vida a Bebel. A personagem é dotada de uma inquietante vontade de mudar o mundo, e a escolha das cores amarelas para acompanhá-la ao longo do filme adiciona um toque simbólico, enfatizando a esperança que ela carrega consigo. A representação de uma jovem cadeirante como protagonista é um passo significativo para a inclusão e diversidade no cinema, e Benite faz isso com autenticidade e sensibilidade.

A trama do filme, embora simples, carrega uma mensagem poderosa, especialmente destinada a crianças e jovens. A inspiração em Greta Thunberg e a abordagem de temas atuais, como a utilização de animais em testes de cosméticos, destacam a importância de se tornar um ativista e lutar por um mundo mais sustentável. Filmes que envolvem animais têm a capacidade de tocar corações, e aqui não é diferente. "Chama a Bebel" conquista pontos adicionais nesse aspecto, sensibilizando o público para a causa dos direitos animais.

O uso da internet como ferramenta para espalhar fake news e o bullying é abordado de maneira impactante. O enredo sustenta a revolta que surge ao testemunhar a crueldade e a manipulação, especialmente quando interpretadas por Flavia Garrafa, que dá vida a uma tia que beira a vilania. Sua atuação é tão convincente que o público se vê envolvido por uma repugnância genuína diante das ações e falas da personagem, o sentimento de "O TIA CHATA" sobressai durante todo o filme.

Sofia Cordeiro, interpretando a personagem Rox, é a típica "vilãzinha" da escola em "Chama a Bebel". Ela é a garota rica e mimada que, assim como a tia na família, causa aquela repulsa com suas ações arrogantes. Cordeiro consegue dar vida à Rox de uma maneira que você simplesmente adora odiar. Sua atuação adiciona aquele toque de drama estudantil, deixando claro que Bebel não enfrenta desafios apenas em casa, mas também tem que lidar com a hostilidade de uma colega cheia de atitudes desagradáveis.

"Chama a Bebel" abraça uma variedade de temas recentes e cruciais, proporcionando não apenas entretenimento, mas também muita reflexão. A diversidade de assuntos tratados faz com que o filme seja uma excelente escolha para assistir em família, estimulando discussões sobre ativismo, inclusão, sustentabilidade e ética digital, inspirando todo mundo a refletir sobre o papel de cada um na construção de um mundo melhor.

Nota: 3.5/5.0