30/06/2024

CRÍTICA | MEU MALVADO FAVORITO 4


"Meu Malvado Favorito 4" é o mais recente filme da adorada franquia da Illumination Studios, dirigida por Chris Renaud e roteirizada por Mike White e Ken Daurio. Embora o filme traga momentos de diversão e nostalgia, ele também deixa a desejar em alguns aspectos importantes, resultando em uma experiência mista para os espectadores.

A trama do filme gira em torno de Gru, agora um agente da Liga Anti-Vilões, que enfrenta um novo inimigo, Maxime Le Mal, interpretado por Will Ferrell. Maxime, um antigo colega de escola de Gru, busca vingança utilizando baratas transgênicas, uma premissa que poderia ser interessante, mas acaba sendo ofuscada por diversas subtramas dispersas. Entre elas, destaca-se a transformação dos Minions em super-heróis e as tentativas da família de se adaptar às novas circunstâncias, incluindo a chegada do recém-nascido Gru Jr. 


Infelizmente, o filme peca pela falta de foco. A introdução de múltiplos arcos narrativos, como o assalto na antiga escola de vilões e a integração dos Minions na AVL, acaba diluindo a atenção do espectador e enfraquecendo o impacto emocional da história principal. O ritmo frenético impede um desenvolvimento mais profundo dos personagens e das relações, tornando difícil a criação de uma conexão significativa com o público.

A dublagem brasileira de "Meu Malvado Favorito 4" é um dos pontos altos do filme, mantendo o charme e a especificidade dos personagens. Leandro Hassum continua a encantar como Gru, e a atuação de outros dubladores, como Maria Clara Gueiros como Lucy são dignas de elogios. No entanto, há uma personagem em específico cuja dublagem parece ter sido feita às pressas, resultando em áudio dessincronizado, o que é estranho e distrai um pouco da experiência. Apesar disso, as vozes nacionais conseguem trazer vida e humor aos personagens, proporcionando uma experiência agradável para o público brasileiro.

Os Minions, conhecidos por suas travessuras cômicas, conseguem arrancar risadas, mas suas ações começam a parecer repetitivas. A tentativa de renovação com os "Mega Minions" adiciona alguns momentos visualmente interessantes, mas não contribui significativamente para a coesão narrativa.


Visualmente, "Meu Malvado Favorito 4" mantém o padrão elevado da franquia. As animações são lindas e detalhadas, proporcionando um banquete visual para o público. A trilha sonora de Heitor Pereira é impecável, complementando bem as cenas e elevando a experiência auditiva. No entanto, esses aspectos técnicos não conseguem mascarar as deficiências de um roteiro sobrecarregado e uma narrativa que parece estar em piloto automático.

"Meu Malvado Favorito 4" oferece entretenimento leve e algumas risadas, especialmente para os fãs leais da franquia e o público infantil. No entanto, o filme falha em capturar a magia e a inovação dos primeiros filmes, deixando uma sensação de que a franquia precisa de uma revitalização criativa para continuar relevante. Enquanto a estética e as performances de voz são dignas de elogios, a falta de coesão e desenvolvimento dos personagens impede que o filme alcance seu pleno potencial.

Nota: 3.5/5.0

19/06/2024

CRÍTICA | CLUBE DOS VÂNDALOS


"Clube dos Vândalos", uma criação ousada e estilizada do diretor e roteirista Jeff Nichols, acrescenta uma nova dimensão ao universo dos filmes de gangues de motociclistas, oferecendo uma narrativa baseada em fatos reais e uma perspectiva única que destaca a experiência feminina nesse ambiente dominado por homens. Inspirado no livro fotográfico de Danny Lyon, o filme documenta a ascensão dos Vândalos, um clube de motociclistas no Centro-Oeste dos EUA durante a década de 1960, e se destaca por seu elenco estelar e sua abordagem introspectiva e humana.

A trama do filme é centrada na personagem Kathy, interpretada por Jodie Comer, que é a esposa de Benny (Austin Butler), um motociclista selvagem e imprudente, e melhor amigo de Johnny (Tom Hardy), o líder do grupo. A história é contada através das memórias de Kathy, reveladas em uma série de entrevistas conduzidas por Danny Lyon, cuja presença é sentida, mas não vista, o que cria uma dinâmica intrigante e revela a narrativa aos poucos, permitindo que o público compreenda gradualmente o contexto e as motivações dos personagens.

Jodie Comer brilha no papel de Kathy, oferecendo uma performance que equilibra brutalidade e ternura com uma naturalidade impressionante. Sua personagem é uma âncora moral e intelectual do filme, trazendo uma força e independência raramente vistas em filmes desse gênero. Comer se destaca ao retratar a complexidade de Kathy, uma mulher que luta para acompanhar a natureza indomável de seu marido e sua cega lealdade a Johnny, enquanto também busca sua própria identidade e lugar no mundo.


Tom Hardy, como Johnny, traz sua intensidade característica ao papel, interpretando o líder dos Vândalos com uma mistura de carisma e ferocidade. Johnny é um homem lutando para manter o controle em um mundo que rapidamente escapa de suas mãos, e Hardy captura essa luta interna com maestria. Austin Butler, por outro lado, ainda carrega traços de sua interpretação de Elvis Presley, o que pode distrair um pouco, mas ele ainda consegue transmitir a imprevisibilidade e o carisma de Benny.

A cinematografia do filme é impressionante, capturando a essência crua e estilizada da era dos clubes de motociclistas com tons amarelos que evocam o clima do Centro-Oeste dos EUA. As motos vintage são quase personagens próprias, adicionando autenticidade e textura à narrativa. A trilha sonora é um espetáculo à parte, repleta de músicas da época que complementam perfeitamente o ambiente e a atmosfera do filme, desde seu início até os créditos finais. 

Jeff Nichols demonstra uma profunda sensibilidade e inteligência em sua escrita, afastando-se dos clichês habituais do gênero de gangues de motociclistas ao focar em uma narrativa mais introspectiva e humana. A escolha de contar a história do clube através da perspectiva de Kathy não só traz uma nova dimensão à trama, mas também desafia as normas de gênero estabelecidas. A relação entre Johnny, Benny e Kathy é tratada com uma complexidade rara, explorando temas de masculinidade, lealdade e a inevitável passagem do tempo.


No entanto, a decisão de Nichols de não focar na violência e de cortar abruptamente algumas cenas para não mostrar sangue pode dividir opiniões. Enquanto alguns espectadores apreciarão a abordagem mais cadenciada e focada nos diálogos, outros podem sentir falta da ação característica deste universo. A construção da dinâmica de entrevista e o ritmo lento podem tornar o filme menos acessível para aqueles que esperam uma experiência mais intensa e repleta de ação. 

Em comparação com clássicos do gênero, como "Easy Rider" e "Hell's Angels on Wheels", "Clube dos Vândalos" se destaca por sua profundidade emocional e pelo foco em uma personagem feminina forte. Filmes anteriores muitas vezes retratavam as mulheres como acessórios das aventuras masculinas, mas aqui, Kathy é uma força motriz, uma voz crítica e uma personagem plenamente desenvolvida.

"Clube dos Vândalos" se destaca por sua abordagem única e por sua profundidade narrativa, mas que também desafia as expectativas do público ao subverter os tropos tradicionais de filmes de motociclistas. É uma jornada visual e emocionalmente rica que merece ser vista, mesmo que não agrade a todos os gostos.

Nota 4.0/5.0

17/06/2024

Crítica | Divertida Mente 2


A Pixar, mais uma vez, entrega uma obra-prima da animação com "Divertida Mente 2", uma sequência que expande de maneira brilhante o universo emocional da jovem Riley. Com um salto temporal significativo, encontramos Riley atravessando a tempestade da adolescência, uma fase repleta de novas emoções e desafios. Esta mudança é refletida de maneira brilhante na sala de controle de suas emoções, onde os personagens Alegria, Raiva, Medo, Nojinho e Tristeza se veem acompanhados por novos inquilinos: Ansiedade, Tédio, Inveja, Vergonha, e a participação especial da Nostalgia.

A introdução dessas novas emoções no roteiro é uma sacada inteligente e bem executada, proporcionando uma representação autêntica e identificável da turbulenta jornada adolescente. Quem já passou por essa fase da vida vai se ver refletido nas situações apresentadas, desde a inveja do cabelo de um amigo, ao tédio das noites de domingo, passando pela vergonha de dizer algo embaraçoso na frente dos amigos, até a ansiedade que, sem dúvida, rouba a cena de maneira magistral.


Ansiedade, dublada brilhantemente por Tatá Werneck, é um destaque absoluto no filme. A forma como a personagem é inserida na sala de controle é um dos pontos altos do roteiro, mostrando de maneira leve e divertida como a ansiedade pode invadir nossas vidas. A Pixar consegue representar, de forma lúdica e visualmente encantadora, a complexidade da ansiedade – com pensamentos bons e ruins se entrelaçando, a velocidade dos pensamentos e até mesmo a insônia. Uma das cenas mais impactantes é a crise de pânico de Riley, onde a animação nos prende o fôlego, dando um toque de realismo e sensibilidade a um tema tão delicado.

Além disso, o filme nos presenteia com momentos memoráveis que misturam estilos de animação, especialmente nos pensamentos aprisionados de Riley, nos crushes por personagens de videogame e nas lembranças de desenhos antigos. Cada personagem desses momentos tem um estilo de animação distinto, destacando-se como elementos de outros universos, o que enriquece visualmente a experiência do espectador.


E mais uma vez a dublagem brasileira se destaca, trazendo localizações inteligentes e falas adaptadas para o público nacional. Tatá Werneck, em especial, entrega uma performance energética e sem o seu sotaque característico, tornando a personagem Ansiedade ainda mais envolvente e cativante.

O final do filme é aberto, deixando um calorzinho no coração e uma vontade irresistível de ver como serão as emoções na vida adulta de Riley. A trilha sonora, que mantém as músicas do primeiro filme, continua sendo perfeita, complementando a narrativa de forma impecável.

"Divertida Mente 2" representa a essência mais pura da Pixar, é uma animação inteligente, emocional e cativante, que encanta tanto adultos quanto crianças. A animação é viva e deslumbrante, cada cena é bem trabalhada e a mistura de estilos de animação é um deleite visual. Este é um filme que não apenas diverte, mas também toca profundamente quem o assiste, provando mais uma vez o poder das emoções na construção de quem somos.

Nota: 5.0/5.0

16/06/2024

Crítica | Tô de graça


"Tô de Graça - O Filme" é uma transposição bem-sucedida da série de televisão de grande popularidade para o formato cinematográfico. Sob a direção talentosa e a visão criativa de Rodrigo Sant'Anna e Denise Crispun, o filme não apenas mantém o charme e o humor que cativaram o público desde 2017, mas também aprofunda a exploração de temas sociais relevantes, tudo envolto em um cenário de comédia leve e divertida.

Rodrigo Sant'Anna brilha novamente no papel de Graça, uma mãe preta, pobre e periférica, que sustenta seus 14 filhos através de "bicos" variados. Sua performance é um tour de force, equilibrando perfeitamente o humor desbocado e a resiliência emocional. Graça é uma personagem rica e multifacetada, que encanta o público com sua autenticidade e espírito indomável.

O enredo do filme, centrado na súbita mudança de fortuna de Graça após receber uma indenização, permite que o público veja os sonhos e as aspirações de uma família de baixa renda em uma nova luz. A decisão de Graça de gastar seu dinheiro levando metade de seus filhos para um luxuoso resort em Búzios é o ponto de partida para uma série de confusões hilárias e momentos tocantes. A viagem revela as dinâmicas familiares complexas e as tensões sociais, especialmente quando Graça e sua família confrontam as disparidades entre suas vidas e o ambiente opulento do resort.


Uma das forças do filme é sua capacidade de abordar temas sérios através do humor. A linguagem popular e o tom leve são usados de maneira eficaz para discutir questões como racismo, homofobia, vergonha social e a importância da educação. A vergonha da filha de Graça em relação à sua origem e a tentativa de esconder sua família do namorado rico são particularmente impactantes, refletindo um dilema comum entre jovens de comunidades marginalizadas.

Além das críticas sociais, o filme também celebra o papel das mães como pilares de suas famílias. Graça é mostrada como uma figura central que, apesar das adversidades, mantém o carinho e a unidade entre seus filhos. Esta representação é poderosa e emocionalmente ressonante, destacando a importância das mães em situações de vulnerabilidade social.

A comédia não é apenas um alívio cômico, mas também uma ferramenta crítica que revela as absurdidades e injustiças da vida cotidiana. As cenas cômicas são bem construídas, desde a surpresa fracassada planejada por Graça até os mal-entendidos e confusões no resort e no camping improvisado. Essas situações criam um ritmo dinâmico que mantém o público entretido do início ao fim.


O filme também se destaca por seu elenco de apoio, que dá vida à comunidade vibrante ao redor de Graça. Cada personagem secundário, desde os filhos até os vizinhos, contribui para a riqueza do filme, proporcionando momentos memoráveis e cômicos que complementam a narrativa principal.

"Tô de Graça - O Filme" é um filme que combina humor e crítica social, entregando uma narrativa envolvente e cheia de coração. É uma celebração da resiliência e do amor familiar, apresentando uma visão esperançosa e realista das vidas das pessoas nas periferias brasileiras. O filme é uma prova do talento de Rodrigo Sant'Anna e sua habilidade em usar a comédia para iluminar questões importantes e promover empatia e compreensão. É uma experiência que promete divertir e emocionar o público.

10/06/2024

Crítica | Assassino por Acaso


"Assassino Por Acaso" é um filme que se propõe a ser uma mistura intrigante de noir, humor e metalinguagem, mas que infelizmente não consegue alcançar plenamente seu potencial. Dirigido por Richard Linklater e estrelado por Glen Powell, o longa segue a história de Gary Johnson, um professor de psicologia e filosofia que vive uma vida dupla como um assassino profissional trabalhando secretamente para a polícia. A premissa promete, mas a execução deixa a desejar.

A trama central gira em torno de Gary, que sob a identidade de Ron, mergulha no submundo do crime em Nova Orleans. Sua missão é investigar aqueles que o contratam para eliminar outras pessoas, mantendo uma fachada de assassino de aluguel. No entanto, a narrativa toma um rumo inesperado quando Gary se vê ajudando uma mulher desesperada a fugir de seu marido abusivo, levando-o a questionar sua própria moralidade e a possibilidade de se tornar um verdadeiro criminoso.


Glen Powell entrega uma performance surpreendente, conseguindo transitar entre o intelectual Gary e o perigoso Ron com habilidade. A química entre seu personagem e Madison, a mulher que ele ajuda, é um dos pontos altos do filme, trazendo à memória clássicos do gênero como "Irresistível Paixão" de 1998. Esta dinâmica adiciona camadas interessantes à trama, mas não é suficiente para sustentar o filme por completo.

O diretor Richard Linklater tenta equilibrar os elementos do noir com toques de humor e uma abordagem metalinguística, sem cair no exagero. No entanto, o roteiro falha em proporcionar uma narrativa coesa e envolvente. As reviravoltas finais, em vez de serem surpreendentes e inteligentes, acabam parecendo mais piadas do que desfechos bem pensados, o que diminui o impacto do clímax e deixa o público desinteressado nos destinos dos protagonistas.

Além disso, o filme sofre de personagens pouco desenvolvidos, que não conseguem cativar o espectador. A história se concentra excessivamente nas piadas e em uma narrativa inconsistente, perdendo a oportunidade de explorar mais profundamente a jornada do protagonista e as complexidades morais de sua situação. Isso resulta em uma experiência que, embora tenha momentos promissores, tropeça em suas próprias ambições.


Outro ponto que merece destaque é a subutilização do talento de Austin Amelio, que interpreta um personagem secundário sem grande importância para a trama. Sua atuação é sólida, mas o roteiro não lhe dá material suficiente para brilhar, desperdiçando assim um recurso valioso.

"Assassino Por Acaso" tenta reinventar o gênero noir com uma abordagem inteligente e contemporânea, mas falha em sua execução. O filme possui elementos promissores, como a performance de Glen Powell e a química entre os personagens principais, mas é prejudicado por um roteiro confuso e personagens rasos. Richard Linklater, conhecido por sua habilidade em equilibrar diferentes tons, não consegue encontrar o equilíbrio necessário aqui, resultando em um filme que deixa os espectadores desejando mais profundidade e coerência.

Nota 3.0/5.0