18/07/2024

CRÍTICA | Hachiko - Para Sempre


"Hachiko - Para Sempre" é uma adaptação contemporânea da tocante história original de "Hachiko Monogatari", centrada no fiel cão Akita Inu que tocou corações ao redor do mundo com sua lealdade inabalável. A nova produção, no entanto, desloca a narrativa para a China, o que provoca uma série de reações variadas entre os espectadores. 

A trama é bastante fiel ao espírito da história original. Hachiko, um adorável cão Akita Inu, encontra seu dono, o professor Chen Jingxiu (interpretado por Xiaogang Feng), em meio a uma multidão e rapidamente se torna parte integrante da família Chen. A relação que se desenvolve entre Hachiko e Chen é profundamente comovente, refletindo a amizade e o afeto genuíno que transcendem palavras. O ponto alto do filme, sem dúvida, é a dedicação de Hachiko, que acompanha seu dono até a estação de trem todos os dias, um ritual que se mantém mesmo após a morte de Chen. 

Infelizmente, a mudança de cenário para a China parece ter diluído um pouco da magia que tornou a história original tão especial. Essa adaptação perde parte de sua essência e graça ao tentar se adaptar a um novo contexto cultural, o que não é totalmente convincente. O impacto emocional, embora ainda presente, não atinge o mesmo nível de profundidade que a versão original japonesa conseguiu. 


Apesar da emotividade inerente à história de Hachiko, a narrativa é excessivamente linear e previsível, sem trazer novos elementos que poderiam ter enriquecido a experiência do público. A repetição das cenas de espera de Hachiko na estação de trem, embora simbolicamente poderosa, acaba se tornando monótona ao longo do filme. 

As atuações, no entanto, são dignas de nota. Xiaogang Feng traz uma performance convincente e sensível como Chen Jingxiu, capturando a essência de um homem bondoso e dedicado. O próprio Hachiko, interpretado por um cão treinado da raça Akita Inu, rouba a cena com sua presença carismática e comovente. 

Em termos de cinematografia, "Hachiko - Para Sempre" apresenta uma bela representação visual, com cenários bem escolhidos que capturam a atmosfera de uma cidade chinesa. A direção de arte é cuidadosa, e a trilha sonora complementa bem os momentos mais emotivos, embora não se destaque como um elemento memorável do filme. 

"Hachiko - Para Sempre" é uma tentativa honrosa de trazer uma história universal de lealdade e amizade para um novo público. No entanto, a mudança de contexto cultural e a falta de inovação na narrativa podem não agradar a todos os espectadores. Para aqueles que já são fãs da história de Hachiko, esta adaptação oferece uma nova perspectiva, mas talvez não consiga replicar totalmente a magia do original.

Nota: 4.0/5.0

17/07/2024

CRÍTICA | Tuesday - O Último Abraço


"Tuesday - O Último Abraço" é uma obra que surpreende tanto pela sua originalidade quanto pela profundidade emocional com que trata temas universais como a perda, o luto e a resiliência. Dirigido e roteirizado por Daina Oniunas-Pusic, o filme nos leva por uma jornada delicada e sensível ao lado de Zora (Julia Louis-Dreyfus) e sua filha adolescente, Tuesday (Lola Petticrew).

Logo de início, a direção de Oniunas-Pusic se destaca por sua habilidade em combinar elementos de fantasia com uma narrativa profundamente humana. A escolha de representar a Morte como um pássaro falante desafia as expectativas e oferece uma visão inovadora e metafórica do ciclo da vida. Essa personificação inesperada da Morte, que poderia facilmente se tornar caricata, é tratada com sutileza e profundidade, adicionando uma camada de complexidade à trama.

Julia Louis-Dreyfus entrega uma performance comovente como Zora. Sua interpretação traz à tona a vulnerabilidade e a força de uma mãe enfrentando o inevitável, e sua química com Lola Petticrew é palpável. Petticrew, por sua vez, dá vida a Tuesday com uma autenticidade que captura perfeitamente a turbulência emocional da adolescência confrontada com a mortalidade.


O roteiro equilibra momentos de dor e esperança, permitindo ao espectador uma imersão completa na jornada das personagens. A relação entre mãe e filha é o coração do filme, e é tratada com uma honestidade que ressoa profundamente. A abordagem da Morte como um elemento quase natural, sem os clichês de terror, proporciona uma nova perspectiva sobre a aceitação e a redenção.

A cinematografia também merece destaque. As cenas são cuidadosamente compostas, com uma paleta de cores que reflete a transição emocional das personagens. A trilha sonora complementa perfeitamente a atmosfera do filme, reforçando os momentos de tensão e alívio.

"Tuesday - O Último Abraço" é um filme diferente que combina magistralmente elementos de fantasia com uma narrativa emocionalmente rica. É um lembrete poderoso de que, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, é possível encontrar força e resiliência. O filme não só oferece uma nova visão sobre a Morte, mas também celebra a vida em todas as suas complexidades e nuances.

11/07/2024

CRÍTICA | TWISTERS


"Twisters" é a mais recente tentativa de Hollywood em reviver clássicos dos anos 90, desta vez ressuscitando o filme "Twister" de 1996. Dirigido agora por Lee Isaac Chung, o filme tenta equilibrar a nostalgia com uma nova visão. No entanto, "Twisters" acaba sendo uma mistura desigual que luta para justificar sua existência em um cenário cinematográfico moderno, em meio ao caos global vivenciado atualmente.

O filme começa com a meteorologista Kate Cooper (interpretada por Daisy Edgar-Jones) tentando domar um tornado com uma equipe de amigos. A missão fracassa tragicamente, resultando em perdas devastadoras. Cinco anos depois, Kate é atraída de volta ao mundo dos caçadores de tempestades por seu amigo Javi (interpretado por Anthony Ramos), que desenvolveu um novo sistema de sensores para prever tornados. Relutante no início, Kate acaba se unindo ao excêntrico youtuber "tornado wrangler" Tyler Owens (interpretado por Glen Powell). Juntos, eles enfrentam uma série de tempestades devastadoras.


A narrativa de "Twisters" é marcada por coincidências forçadas e um desenvolvimento superficial dos personagens. A relação entre Kate e Tyler, que deveria ser o núcleo emocional do filme, parece clichê e forçada, refletindo a estrutura desgastada de muitos romances de Hollywood. A protagonista feminina só encontra seu verdadeiro eu através do relacionamento com um homem simples, mas de bom coração, que sempre precisa salvá-la.

Visualmente, "Twisters" é competente, mas não inovador. A cinematografia de Dan Mindel e os efeitos especiais criam cenas de destruição impressionantes, levando o espectador a uma realidade vivida atualmente em locais atingidos por desastres naturais. No entanto, a falta de amplitude nos cenários e a previsibilidade das sequências de ação diminuem seu impacto. Os tornados ocorrem na mesma região do estado de Oklahoma, que se torna um ponto turístico devido ao sucesso do youtuber Tyler. O uso de tecnologia moderna, como transmissões ao vivo no YouTube e super aparelhos de coleta e armazenamento de dados, adiciona um toque contemporâneo importante, mas não é suficiente para revitalizar uma fórmula que já parece datada.

Daisy Edgar-Jones entrega uma performance incrível, destacando-se no elenco, mas é prejudicada por um roteiro que não lhe dá material suficiente para explorar profundamente seu personagem. Glen Powell, o mais novo queridinho de Hollywood, como Tyler, é reduzido a um estereótipo de caipira charmoso, e sua química com Daisy é fraca. Anthony Ramos e Sasha Lane são tão talentosos que fazem com que seus personagens secundários cresçam de forma inesperada, mas ainda assim são subutilizados e mal desenvolvidos, servindo apenas como suporte para a trama central.


"Twisters" sofre de uma crise de identidade. Tenta ser uma homenagem ao original enquanto busca sua própria relevância, mas falha em ambos os aspectos. A narrativa previsível e os personagens bidimensionais não conseguem engajar o público além das espetaculares, porém repetitivas, cenas de tempestade. A tentativa de inserir uma crítica sobre mudanças climáticas é breve e superficial, uma oportunidade desperdiçada de dar profundidade ao filme.

"Twisters" pode satisfazer os fãs da temática e os hardcore do original, além daqueles que buscam um entretenimento leve e cheio de ação. Em uma sala Imax, os efeitos visuais devem ser impressionantes. Contudo, para os que esperam uma experiência cinematográfica mais rica e inovadora, o filme deixa a desejar. É um exemplo de como a nostalgia e a modernização nem sempre resultam em um produto coeso e significativo.

Nota: 2.5/5.0

CRÍTICA | COMO VENDER A LUA


"Como Vender a Lua" é uma comédia romântica que tenta capturar a essência das comédias clássicas, ambientada no contexto da corrida espacial entre Rússia e Estados Unidos dos anos 60. Dirigido por Greg Berlanti e estrelado por Scarlett Johansson e Channing Tatum, o filme busca equilibrar humor e drama enquanto navega por um tema controverso: a veracidade do pouso na Lua. 

Desde o início, o filme se situa no mundo real da corrida espacial dos anos 60, utilizando imagens de arquivo para contextualizar a competição entre os EUA e a União Soviética. A trama gira em torno de Kelly Jones, uma talentosa marqueteira, e Cole Davis, um piloto frustrado que trabalha nos bastidores da NASA. O encontro dos dois em Cocoa Beach, Flórida, estabelece uma dinâmica de "gato e rato" que impulsiona a narrativa.


Scarlett Johansson entrega uma performance espetacular como Kelly, uma mulher inteligente e astuta, determinada a vender a missão da Apollo 11 para o público americano, recriando a imagem da NASA e fazendo parcerias de mercado para arrecadar recursos. A química dela com Channing Tatum é evidente e consegue "laçar" o público, especialmente nas cenas de flerte e confronto, que lembram uma dinâmica de amor e ódio constante.

No entanto, o roteiro de Rose Gilroy, apesar de interessante, às vezes se perde em sua tentativa de misturar fatos históricos com ficção, resultando em momentos desconfortáveis de teorias da conspiração que não são tratadas com o devido tato, escancarando ainda mais a "ferida americana" sobre a veracidade da ida à Lua.

Woody Harrelson faz uma participação especial como Moe Berkus, um fantasma que orienta Kelly em sua missão. Sua presença excêntrica adiciona um toque de humor ao filme, mas também contribui para a sensação de que o filme está tentando fazer muitas coisas ao mesmo tempo. A introdução de Moe Berkus e a subsequente trama envolvendo a filmagem de um pouso falso na Lua acabam sendo exemplos de como o filme luta para equilibrar seu tom cômico com a seriedade de seus temas.

O filme tenta abordar questões de integridade, ideologia e a manipulação da opinião pública, temas relevantes tanto na década de 60 quanto hoje, mostrando o desenvolvimento do marketing e seu poder de persuasão. No entanto, a execução desses temas nem sempre é eficaz, com algumas cenas parecendo forçadas e outras simplesmente desnecessárias, com muito foco em vendas que na realidade não era bem o caso.


A recriação da época é bem feita, com figurinos, cenários e uma sonoplastia que capturam a essência dos anos 60. No entanto, a falta de profundidade nos papéis de peças importantes do elenco e a dependência excessiva na química entre os protagonistas deixam o filme um pouco desequilibrado.

Apesar de suas longas duas horas de duração, "Como Vender a Lua" não se torna um filme cansativo. Analisando sua semiótica, ele escancara problemas da década de 60 que persistem até os dias atuais, como a dificuldade das mulheres em conseguir respeito por funções de gestão estando em mesmo nível empresarial de um homem e sobre toda a manipulação feita através do marketing em um mercado, independente do seu produto ou serviço oferecido. É um filme super interessante e com uma temática importante. Um diferencial desse longa é que a produtora é a Apple Studios e que ele foi pensado primeiramente para o streaming, acabando por ganhar dimensões para o cinema.

"Como Vender a Lua" é uma tentativa audaciosa de mesclar comédia romântica com um tema histórico controverso. Com performances cativantes de Scarlett Johansson e Channing Tatum, uma recriação de época impecável e uma abordagem intrigante sobre marketing e persuasão, o filme oferece uma experiência única e leve.

Nota: 4.5/5.0

05/07/2024

Crítica | Maxxxine



"Maxxxine" é a aguardada sequência dos filmes "X - A Marca da Morte" (2022) e "Pearl" (2022), e mais uma vez traz Mia Goth no papel da complexa e enigmática Maxine. Neste terceiro capítulo, dirigido por Ti West, a narrativa muda de direção, abandonando o horror explícito dos filmes anteriores e mergulhando em um thriller policial ambientado na Los Angeles de 1985.

A trama acompanha Maxine, a única sobrevivente de uma filmagem pornográfica que deu terrivelmente errado alguns anos atrás. Determinada a alcançar a fama, ela vê uma oportunidade de brilhar na indústria do entretenimento e agarra-a com todas as suas forças. No entanto, um misterioso assassino, conhecido como Night Stalker, começa a perseguir algumas mulheres, deixando um rastro de sangue e ameaçando expor o passado sombrio de Maxine.

Mia Goth mais uma vez entrega uma atuação cativante e poderosa, encarnando uma personagem que parece ter nascido para interpretar. Sua performance é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme, conseguindo transmitir toda a complexidade e a determinação de Maxine. A frase marcante "I will not accept a life I do not deserve" encapsula perfeitamente a essência da personagem, que não se conforma e luta incessantemente por aquilo que deseja.


Diferente dos filmes anteriores, "Maxxxine" opta por um tom mais sóbrio e menos gore, caracterizando-se mais como um thriller policial do que um terror macabro. Essa mudança pode surpreender os fãs que esperavam uma continuidade na linha dos horrores anteriores. No entanto, a direção de Ti West merece destaque por sua ousadia em criar uma trilogia com estilos e gêneros distintos, proporcionando uma experiência rica e variada.

A ambientação nos anos 80 é um deleite à parte. A estética do filme e a trilha sonora são impecáveis, transportando o espectador para uma época repleta de nostalgia. A utilização de uma fita VHS como elemento chave do enredo e as cenas ambientadas em locadoras são toques geniais que reforçam essa imersão oitentista. A fotografia também merece menção, com a inteligente mistura de formatos de tela 4:3 para as cenas do passado e o presente capturado em uma Hollywood vibrante e fiel ao período.

Além de Mia Goth precisamos falar de Kevin Bacon, que interpreta um personagem caricato que, apesar do pouco tempo de desenvolvimento, consegue ser impactante, cômico e ainda ter uma morte "trágica". Sua presença adiciona uma camada extra de interesse ao filme. O apoio do elenco coadjuvante também não passa despercebido, com cada ator contribuindo para a construção de um universo convincente e envolvente, onde cada interação e reação são cuidadosamente trabalhadas para enriquecer a narrativa.


A revelação final da identidade do Night Stalker em "Maxxxine" é um momento crucial que, infelizmente, acaba por decepcionar. Após uma construção meticulosa do mistério ao longo do filme, a revelação se desenrola de maneira previsível e simplista, não correspondendo ao impacto esperado. Isso resulta em um desfecho que pode parecer anticlimático para os espectadores que aguardavam uma reviravolta mais complexa e satisfatória.

Embora o desenrolar do filme seja relativamente simples, "Maxxxine" se destaca por sua direção, estética e a forte atuação de Mia Goth. É uma continuação que traz uma proposta diferente e corajosa, mas que pode desapontar os fãs que esperavam sustos e o gore característico dos filmes anteriores.

Nota: 3.5/5.0