26/12/2024
CRÍTICA | BABYGIRL
19/12/2024
CRÍTICA | O Auto da Compadecida 2
MEU GOTY DE 2024 | SILENT HILL 2 REMAKE
Sempre tive contato com a franquia Silent Hill, embora tenha finalizado apenas Shattered Memories no PlayStation 2. Ainda assim, tenho plena consciência da importância da série para o gênero survival horror e do peso que Silent Hill 2 carrega. Por isso, fiquei imensamente empolgado com o anúncio do remake do clássico.
Há muito tempo não jogava um título que me envolvesse tanto, capaz de me provocar um verdadeiro medo. Silent Hill 2 conseguiu fazer isso de forma magistral. Começando pela jogabilidade, que está excelente, fluída, intuitiva e muito agradável de controlar. No aspecto gráfico, o jogo é deslumbrante, e em uma TV OLED ele atinge um nível ainda mais impressionante. A trilha sonora e a ambientação merecem uma nota 11/10: a música, por si só, tem o poder de me paralisar, criando uma tensão angustiante que me fazia hesitar em avançar. A sensação de medo era palpável a cada passo.
Minha primeira jogada, que normalmente dura 10 horas, durou cerca de 20 e poucas horas. O principal motivo foi o impacto psicológico do jogo, o medo me fazia andar devagar e sempre manter a mira voltada para locais que poderiam conter inimigos. Mas outro fator importante foi o quanto fiquei imerso na história. Eu não queria que a experiência acabasse. A cada nova descoberta, um novo choque. E quando digo “choque”, falo de momentos extremamente pesados que me fizeram marejar os olhos. O fato de não conhecer bem a história do original ajudou a aumentar essa sensação de surpresa e apreensão.
Silent Hill 2 foi, sem dúvida, a melhor experiência que tive com videogames este ano, e duvido que algum outro jogo consiga superar esse sentimento. Afinal, é disso que se trata o videogame: criar experiências profundas e inesquecíveis. Obras como essa são exatamente o que precisamos no mercado atual.
Para concluir, Silent Hill 2 merece todos os aplausos e prêmios que ganhou e poderá ganhar próximas premiações. Embora não tenha sido indicado ao GOTY, Silent Hill 2 é o meu GOTY de 2024.
Nota: 11/10
18/12/2024
CRÍTICA | NOSFERATU
CRÍTICA | Mufasa: O Rei Leão
Em Mufasa: O Rei Leão, a Disney propõe uma expansão da saga que já é um marco cultural com seu clássico de 1994, agora com a direção sensível e refinada de Barry Jenkins, responsável por Moonlight. Essa prequela fotorrealista, enquanto familiar, abre novos caminhos ao explorar a origem do grande rei, Mufasa, e os eventos que o levaram a se tornar o líder venerado de Pride Rock. Com uma abordagem mais introspectiva e dramática, Jenkins consegue dar uma profundidade inesperada a uma história que já conhecemos, mas ainda nos encanta.
A trama gira em torno de Mufasa, desde sua infância humilde e dramática até sua ascensão ao trono. O filme, em seus momentos iniciais, revisita a tragédia de sua perda familiar, sendo arrancado de seu lar por uma enchente devastadora. Ao ser acolhido por um novo bando, ele encontra Taka, o futuro Scar, dando início a uma amizade que logo será corroída pela inveja e rivalidade. Jenkins e o roteirista Jeff Nathanson exploram o contraste entre Mufasa, a figura de empatia, e Taka, moldado pelo ressentimento. A construção dos dois personagens, lado a lado, é a espinha dorsal de uma história que vai além da simples rivalidade de irmãos, explorando questões de herança, destino e escolhas que marcam o futuro.
O filme é uma obra de grande apelo visual, com momentos de grande beleza e imersão. A câmera de Jenkins e seu diretor de fotografia, James Laxton, adota movimentos amplos e confiantes, capturando não só as paisagens deslumbrantes do continente africano como também as sutilezas emocionais dos personagens. A animação fotorrealista, que se manteve fiel ao estilo do remake de 2019, é aqui mais expressiva, conferindo aos animais uma gama emocional que vai além da rigidez observada no filme anterior. As expressões faciais dos leões são mais fluidas e dinâmicas, o que ajuda a criar uma conexão emocional com a audiência, algo que o remake de Favreau não alcançou completamente.
Apesar de ser uma história essencialmente sobre Mufasa, Mufasa: O Rei Leão também expande a mitologia do filme original, mergulhando mais fundo nos bastidores de personagens como Sarabi, Rafiki e, claro, Scar. A presença de um vilão como Kiros (Mads Mikkelsen), um leão branco que ameaça a paz do novo bando, traz à tona o conflito sobre lealdade, poder e vingança. A dinâmica entre Mufasa e Taka também abre discussões sobre os ciclos de violência e herança familiar, temas que já estavam presentes em Moonlight, mas agora contextualizados no universo de O Rei Leão.
Outro ponto a ser considerado é a música. Embora Lin-Manuel Miranda tenha contribuído com algumas faixas interessantes, a trilha sonora não chega a ter o mesmo impacto icônico das músicas de Elton John e Tim Rice do filme original. As novas canções são agradáveis, mas não possuem a mesma força emocional, com exceção de alguns momentos, como o dueto "Tell Me It's You", que se destaca pela energia e lirismo.
No final das contas, Mufasa: O Rei Leão é um filme que, mesmo com suas imperfeições, consegue encantar tanto os fãs da obra original quanto aqueles que buscam uma visão mais profunda do universo de Simba e seus antecessores. Jenkins consegue manter a integridade emocional do legado de O Rei Leão enquanto infunde a história com sua própria marca autoral, enriquecendo o material com temas universais sobre família, destino e crescimento. É, portanto, uma prequela que não apenas complementa a história original, mas também a expande, trazendo um novo significado para uma das figuras mais amadas da animação.
CRÍTICA | Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa
O cinema nacional sempre soube abraçar o público infantil com filmes que se tornaram verdadeiros fenômenos nas férias, e Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa é a mais nova joia dessa tradição. O filme, que estreia já no início de 2025 nas telas de cinema, chega para emocionar e entreter uma nova geração de espectadores, enquanto reforça a relevância dos personagens de Mauricio de Sousa, mais especificamente o carismático Chico Bento, que agora ganha sua própria adaptação cinematográfica.
A história é simples, mas profundamente encantadora, e está repleta de elementos lúdicos que fazem jus à essência do universo criado por Mauricio de Sousa. O enredo, centrado na paixão de Chico pela goiabeira de Nhô Lau, é um convite à nostalgia e à reflexão sobre o meio ambiente. Quando a árvore ameaçada pela construção de uma estrada se torna o epicentro da narrativa, o filme aborda questões ambientais e sociais com uma delicadeza que conversa diretamente com o público jovem, sem perder a leveza que se espera de uma história infantil.
O grande trunfo da produção é o elenco, especialmente Isaac Amendoim, que interpreta o protagonista com uma naturalidade e carisma impressionantes. Sua performance como Chico Bento é repleta de frescor, e sua conexão com a câmera é tão orgânica que faz com que a experiência de assistir ao filme se torne quase uma extensão das histórias em quadrinhos. Ele consegue capturar a essência do personagem e transportá-la para o cinema de forma extremamente convincente e ainda quebra a quarta parede, fazendo jus à tradição do personagem que, com sua pureza e travessuras, conquista a todos.
A direção de Fernando Fraiha, brilha aqui ao criar uma atmosfera lúdica e calorosa, sem nunca perder o foco no coração da história: a amizade e a conexão com a natureza. A fotografia de Gustavo Hadba é um deleite visual, utilizando tons quentes para capturar a essência de uma vila rural onde a magia e a realidade se encontram de maneira harmônica. As cenas são encantadoras, e a forma como a iluminação evoca uma sensação de atemporalidade faz com que o filme transcenda a barreira entre o passado e o presente, remetendo aos quadrinhos de Chico Bento, mas com uma roupagem moderna.
O roteiro, escrito por Elena Altheman, Raul Chequer e o próprio Fernando Fraiha, combina perfeitamente a inocência do personagem com temas relevantes e contemporâneos, como a preservação ambiental e a luta contra o progresso desenfreado. O modo como as questões são abordadas sem didatismo, mas com uma sensibilidade própria das boas histórias infantis é um dos maiores acertos do filme. Através da trajetória de Chico e seus amigos para salvar a goiabeira, o público é convidado a refletir sobre o impacto de nossas ações no meio ambiente de maneira divertida e comovente.
Além disso, a participação de atores consagrados, como Luis Lobianco, Débora Falabella e Taís Araújo, acrescenta profundidade e emoção à trama, especialmente em suas cenas com Chico e sua turma, que equilibram humor e sensibilidade de forma primorosa. A construção de personagens secundários, como Zé Lelé, Rosinha e outros membros da comunidade, também é um ponto positivo, criando um rico universo de relações afetivas que torna o filme ainda mais encantador.
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa é, sem dúvida, um filme imperdível para a temporada de férias. Com sua mistura de humor, ternura e crítica social, ele consegue entreter crianças e adultos ao mesmo tempo, provando que as histórias de Mauricio de Sousa ainda têm muito a oferecer. O filme é uma celebração da cultura pop nacional e reafirma o potencial do cinema brasileiro para criar aventuras que tocam o coração das pessoas. Não é apenas um filme para as férias, mas uma
verdadeira obra de arte que merece ser vista e revista por gerações de fãs.
05/12/2024
CRÍTICA | O SENHOR DOS ANÉIS: A GUERRA DOS ROHIRRIM
Após anos de explorações variadas da Terra média, "O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim" chega como uma promessa de retorno à essência épica de J.R.R. Tolkien, mas com uma roupagem distinta, dessa vez por meio da animação. Dirigido por Kenji Kamiyama, conhecido por suas obras como "Ghost in the Shell" e "Blade Runner: Black Lotus", o filme apresenta uma perspectiva nova sobre os Rohirrim, expandindo a mitologia com uma história independente, mas profundamente enraizada no universo de Tolkien.
Ambientado cerca de 200 anos antes dos eventos da trilogia original, o filme se concentra na ascensão do Rei Helm Hammerhand e os conflitos que levaram à construção do icônico Abismo de Helm. A narrativa é uma tragédia shakespeariana, onde os destinos de dois antigos amigos Héra e Wulf são devastados pela ambição e vingança. A trama de "A Guerra dos Rohirrim" mistura as intrigas políticas com batalhas épicas, fazendo uma conexão com as grandes batalhas da trilogia de Jackson, enquanto também apresenta novos personagens e conflitos.
A história, apesar de sua densidade emocional, mantém uma simplicidade acessível que a torna atraente tanto para os fãs mais dedicados de Tolkien quanto para os novatos. A trama explora de maneira cuidadosa as tensões entre os povos de Rohan e os Dunlendings, com personagens como Héra, a filha do Rei Helm, ganhando um papel central, algo que alguns podem achar controverso. A introdução de Héra como líder e guerreira destemida, contrastando com a tradição patriarcal da Terra média, pode causar estranheza para alguns fãs da obra original, que talvez preferissem uma adaptação mais fiel aos personagens e seu contexto histórico. O filme mexe com esse cânone ao apresentar Héra de forma mais independente e até um tanto egocêntrica, o que é um ponto de crítica, já que sua motivação e traje (particularmente sua armadura, vista como excessivamente moderna) acabam por quebrar a imersão no mundo de Tolkien.
Em termos visuais, o filme se destaca de maneira impressionante. Kamiyama adota uma combinação de animação 2D tradicional no estilo anime com cenários 3D realistas, criando uma estética única e deslumbrante. As cenas de batalhas, como o cerco a Edoras e o confronto no Abismo de Helm, são de uma beleza visual notável, com o dinamismo da animação trazendo um frescor ao universo conhecido. A arte remete aos visuais ricos dos filmes do "Spider-Verse", com um foco na qualidade estética que atrai tanto os fãs de anime quanto os apreciadores do estilo ocidental.
A música, embora aproveite o legado sonoro dos filmes de Jackson, se mantém fiel ao espírito da Terra média, com o tema de Rohan ressoando profundamente. Mas, apesar de sua força visual e sonora, o filme enfrenta desafios narrativos. A introdução de novos personagens e a apressada apresentação de suas motivações faz com que a profundidade emocional do enredo, especialmente nas grandes batalhas, se perca em alguns momentos. A tentativa de criar um novo protagonismo em Héra, ao desviar-se da figura clássica de Helm Hammerhand, é audaciosa, mas compromete o caráter épico e coletivo da história de Tolkien, focando demais em uma personagem que soa deslocada em um universo medieval tão intricadamente
construído.
Embora o filme seja uma excelente introdução à cultura dos Rohirrim e um espetáculo visual, ele também expõe os riscos de revisitar um legado tão poderoso de forma excessivamente modernizada. Para os fãs de Tolkien, "A Guerra dos Rohirrim" oferece uma aventura diferente, mas com nuances que podem desagradar os mais puristas.
02/12/2024
CRÍTICA | INEXPLICÁVEL
Dirigido por Fabrício Bittar, Inexplicável se apresenta como um melodrama que mistura os dilemas familiares com a temática da fé e da superação diante de uma tragédia. Baseado no livro “O menino que queria jogar futebol: uma história de fé e superação”, de Phelipe Caldas, o filme acompanha a história da família Varandas, que enfrenta a dor e a incerteza de um diagnóstico terminal do filho mais velho, Gabriel (Miguel Venerabile), de apenas oito anos. A trama, centrada na luta contra um tumor cerebral, explora as complexas relações familiares e a tensão entre ciência e fé.
O ponto forte do filme está na atuação do elenco, com Letícia Spiller e Eriberto Leão trazendo uma intensidade emocional à complexa dinâmica de Yanna e Marcus, pais que se veem forçados a fazer escolhas extremas para salvar a vida do filho. Yanna, uma mãe devota e profundamente religiosa, encontra na fé a força para lutar, enquanto Marcus, cético e descrente, se vê arrastado para esse universo que inicialmente rejeita. Essa dicotomia entre os dois personagens é o cerne do drama, e, em muitos momentos, parece que o filme força o espectador a refletir sobre os limites entre a fé e a razão.
A narrativa segue uma estrutura bem conhecida nos filmes de superação, marcada pela constante luta pela vida do personagem principal. O conflito de Yanna entre o cuidado com Gabriel e suas responsabilidades com o outro filho é uma das facetas mais humanas do filme, trazendo à tona a exaustão emocional e os sacrifícios de uma mãe. Essa situação se torna ainda mais difícil quando, ao mesmo tempo, ela lida com a gravidez e a constante sensação de culpa por não poder dar atenção suficiente ao filho mais novo.
No entanto, o ponto que mais pode dividir opiniões é a forma como o filme aborda a fé. Enquanto Yanna é mostrada como alguém que vê em Deus a única esperança, Marcus, o pai, se opõe a essa visão, tratando com sarcasmo e ironia as tentativas de oração e o discurso religioso. A conversão do personagem de Eriberto Leão, que, eventualmente, passa a acreditar em Deus como solução para a cura do filho, soa quase como uma imposição do roteiro, que se apoia em uma visão simplificada de que a fé pode sobrepor os avanços da medicina. A frase "não acreditar é tão louco quanto acreditar", embora impactante, acaba servindo como um ponto de virada quetransforma a trama em um questionamento moral sobre o quanto a vida e a morte estão interligadas ao acreditar ou não em um poder superior.
O dilema central do filme o questionamento sobre a relação entre ciência e fé poderia ser mais explorado com mais nuances. A transformação de Marcus, que passa de um ateu cético a um homem de fé, embora compreensível dentro da lógica do drama, acaba parecendo um tanto forçada e previsível. Isso pode fazer com que o filme perca um pouco de sua força emocional ao se concentrar em temas mais transcendentais, como a salvação divina, em vez de aprofundar a luta pessoal e familiar pela sobrevivência de Gabriel de forma mais universal.
Visualmente, o filme não se destaca de maneira marcante, mantendo uma fotografia simples e eficaz, que foca mais nas expressões e reações dos personagens do que em grandes cenas de ação ou momentos grandiosos. A edição e a montagem também contribuem para o ritmo tenso, alternando entre cenas de esperança e desespero, com uma ênfase no sofrimento físico e emocional de Gabriel e seus pais.
Inexplicável é um drama emocional que pode tocar aqueles que buscam uma história de superação e fé, mas sua abordagem, muitas vezes, peca pela previsibilidade e pela ênfase excessiva nos aspectos religiosos, deixando de lado uma exploração mais profunda das complexidades humanas e científicas envolvidas em uma situação de vida ou morte. O filme parece se apoiar em uma visão dicotômica de fé e razão, onde a única resposta para a cura é a crença em um poder superior, algo que pode não ressoar com todos os espectadores, especialmente aqueles que buscam uma abordagem mais equilibrada e realista sobre os desafios enfrentados por famílias em situações de crise, porém é um filme super emocionante.