26/03/2025

CRÍTICA | PRESENÇA: O FILME

O novo filme de Steven Soderbergh, Presença, desafia convenções ao contar uma história de fantasma inteiramente sob o ponto de vista do espírito. O resultado é uma experiência imersiva e singular, onde o espectador se torna o próprio fantasma, observando silenciosamente uma família disfuncional enquanto eventos misteriosos se desenrolam.

Com roteiro de David Koepp, veterano de Hollywood responsável por sucessos como “O Quarto do Pânico” e “Ecos do Além”, o longa se posiciona menos como um terror tradicional e mais como um drama psicológico e metafísico sobre moralidade, redenção e a natureza da existência pós-morte.

Desde os primeiros minutos, o filme estabelece sua perspectiva única: a câmera assume o papel do espírito, flutuando por uma casa vazia antes que uma nova família, os Payne, se mude para lá. Esse olhar fantasmagórico não apenas guia a narrativa, mas também se torna um personagem por si só, cuja consciência vai se expandindo conforme interage com os vivos.

A família é composta por Rebecca (Lucy Liu), uma executiva pragmática e pouco afetuosa; Chris (Chris Sullivan), um marido gentil e passivo; Tyler (Eddy Madday), o filho arrogante e insensível; e Chloe (Callina Liang), a adolescente introspectiva, lidando com o luto da perda de sua melhor amiga. Chloe é a primeira a perceber a presença do espírito, sentindo sua energia antes mesmo de vê-lo.

A interação entre a presença invisível e os vivos é construída de forma cuidadosa, sem recorrer a sustos fáceis ou efeitos exagerados. O terror aqui é mais psicológico, baseado na atmosfera de tensão crescente e no modo como o espírito afeta e é afetado pelas dinâmicas familiares.

Soderbergh, que também opera a câmera, entrega um filme minimalista e altamente estilizado. O uso da câmera subjetiva não é apenas uma escolha estética, mas uma ferramenta narrativa essencial. A sensação de fazer parte é desconfortável, fazendo com que o público se sinta tanto um observador impotente quanto um agente oculto da trama.

As cenas são intercaladas por cortes secos e apagões, reforçando a fragmentação da experiência do espírito. A direção é econômica, priorizando diálogos distantes e composições que mantêm o espectador em constante expectativa. A trilha sonora, discreta e evocativa, complementa essa abordagem, criando momentos de pura inquietação.

Apesar da premissa sobrenatural, Presença é, acima de tudo, um drama sobre culpa e responsabilidade. O roteiro de Koepp sugere que a presença não é apenas um fantasma aleatório, mas um espírito ligado diretamente à casa ou à família. A questão central não é apenas quem ou o que é esse espírito, mas por que ele está ali e qual é seu papel nesse drama familiar.

Rebecca, por exemplo, esconde segredos financeiros e tem atitudes moralmente questionáveis. Chloe, ainda em luto, encontra no espírito uma conexão invisível que a ajuda a enfrentar sua dor. A família Payne não é apenas vítima de uma assombração, mas de suas próprias escolhas e comportamentos. O espírito, ao invés de apenas aterrorizar, também julga, protege e influencia os vivos.

A metáfora é clara: os fantasmas que assombram essa casa não são apenas sobrenaturais, mas também psicológicos e emocionais. Apesar da originalidade, Presença não é um filme sem falhas. O drama conjugal entre Chris e Rebecca, assim como a natureza dos negócios obscuros de Rebecca, é tratado de forma superficial, sugerindo que algumas cenas podem ter sido cortadas para manter o ritmo do filme.

Além disso, há uma inconsistência na atuação do espírito: em determinados momentos, ele age para ajudar Chloe, mas, em outro ponto crítico, ele não intervém da mesma forma, levantando questões sobre sua lógica interna. Se o espírito tem algum tipo de influência, por que não agir de maneira mais coerente ao longo da trama?

O filme também pode frustrar quem espera um terror mais direto ou explicações convencionais. Ele não se preocupa em entregar respostas fáceis, deixando algumas questões em aberto e se apoiando em sua atmosfera e simbolismo. Presença não é um terror típico e pode não agradar a quem busca sustos tradicionais. No entanto, é um filme fascinante, que desafia a gramática do gênero ao apresentar uma história de fantasma narrada pelo próprio fantasma (mesmo sem dizer uma palavra).

Soderbergh conduz a trama com elegância, criando um estudo sobre culpa, luto e moralidade que se desenrola com paciência e sofisticação. Seu minimalismo pode parecer frio para alguns, mas, para aqueles dispostos a mergulhar na proposta, Presença oferece uma experiência única e intrigante.

Crítica | Resgate Implacável

O que acontece quando um ex-agente de forças especiais, abandonando sua carreira para levar uma vida simples, se vê puxado para o mundo da corrupção e do tráfico humano? O filme Resgate Implacável, dirigido por David Ayer, explora essa pergunta, trazendo uma trama recheada de adrenalina, reviravoltas e a complexidade do heroísmo em tempos de desilusão. Estrela do filme, Jason Statham interpreta Levon Cade, um homem cuja vida pacata é interrompida pelo sequestro da filha de seu chefe, uma situação que desvela um intrincado esquema de corrupção.

Baseado no livro Levon’s Trade, de Chuck Dixon, o longa não se distancia de outras produções do gênero, mas consegue se destacar pela forma como mescla cenas de ação intensas com a tensão crescente de uma conspiração política. A escolha de Ayer para dirigir o projeto não é surpresa, já que o cineasta tem um histórico com filmes de ação e dramáticos como Esquadrão Suicida e Beekeeper. Sua direção, ao lado do roteiro coescrito por Sylvester Stallone, acerta ao equilibrar momentos de explosões com uma construção emocional mais introspectiva. A ideia de um ex-soldado enfrentando o peso de suas escolhas e os fantasmas do passado não é nova, mas ganha força através de Statham, que adiciona uma camada extra de profundidade ao personagem.

A trama de Resgate Implacável se desenrola como uma típica jornada de vingança, mas o ponto de destaque aqui é o caminho psicológico de Levon, um homem que, embora tenha deixado para trás a violência do campo de batalha, é incapaz de ignorar a injustiça quando ela afeta aqueles que ama. O sequestro da filha de seu chefe é o estopim para uma missão que o leva a confrontar não apenas traficantes da máfia russa, mas também um sistema de corrupção que envolve figuras do governo e até mesmo a polícia. O roteiro de Stallone consegue capturar essa dinâmica, oferecendo ao público uma visão familiar, mas interessante, do "herói torturado", algo que Statham interpreta com maestria.

O elenco coadjuvante também entrega boas atuações, com destaque para David Harbour e Michael Peña, que acrescentam camadas a seus papéis, muitas vezes se distanciando dos estereótipos que o gênero pode impôr. A química entre Statham e o elenco faz com que o filme ganhe mais densidade, tornando os conflitos pessoais mais palpáveis.

A direção de Ayer também brilha nos momentos de ação, com coreografias bem elaboradas nas lutas e cenas de perseguição que mantêm o espectador na ponta da cadeira. Porém, o filme não se limita a ser apenas um "puro soco e explosão". Há uma tentativa de explorar o peso emocional e as consequências da violência, mesmo que em alguns momentos isso pareça perdido em meio a cenas mais agitadas. O tom sombrio e realista da direção confere à obra um caráter mais denso, especialmente quando o enredo se aprofunda nas consequências da corrupção, tornando o filme algo mais do que um simples resgate mas uma luta pela redenção.

O aspecto visual também não deixa a desejar. O design de produção de Nigel Evans cria uma atmosfera tensa, refletindo a decadência moral do mundo que Levon se vê forçado a encarar. A fotografia de Shawn White contribui para isso com tons sombrios e uma paleta de cores que ajuda a acentuar o clima de desespero e ação constante.

Apesar de ter uma base sólida em seu roteiro e personagens, Resgate Implacável pode falhar em aprofundar certos aspectos do passado de Levon, um ponto que poderia trazer ainda mais complexidade ao personagem principal. Porém, para os fãs de ação, isso pode ser facilmente ignorado pela dinâmica carregada do filme.

Resgate Implacável é um thriller de ação que combina adrenalina com uma história de fundo emocionalmente carregada. David Ayer e Sylvester Stallone entregam uma adaptação interessante do livro de Chuck Dixon, enquanto Jason Statham se mantém como um dos maiores astros do gênero, fazendo deste filme uma experiência muito interessante, se não completamente inovadora. Para os amantes de ação, o filme é um prato cheio; para aqueles que buscam mais do que um simples filme de vingança, pode ser uma experiência um pouco mais rasa, mas ainda assim, uma belíssima representação do gênero.

25/03/2025

Crítica | Desconhecidos

Desconhecidos é um thriller psicológico que desafia as expectativas e subverte os estereótipos do gênero slasher. Dirigido e escrito por JT Mollner, o filme adota uma abordagem não linear, com capítulos embaralhados e uma estética cult reforçada pelo uso do filme 35 mm. O resultado é uma experiência intensa e imersiva, que exige do espectador atenção e paciência para conectar os pontos dessa história de perseguição e violência.

Nos primeiros minutos, somos jogados diretamente no capítulo 3, um recurso que pode causar estranheza, mas que faz parte da estrutura inteligente do filme. Acompanhamos o que parece ser um jogo de gato e rato, onde um homem implacável persegue uma mulher ferida pela paisagem selvagem do Oregon. A tensão cresce à medida que ela tenta se manter um passo à frente de seu agressor, enquanto o público ainda tenta entender o que está realmente acontecendo.

O grande trunfo de Desconhecidos está em sua narrativa meticulosamente construída. Conforme a história avança, percebemos que não estamos apenas diante de mais um filme de serial killer. O roteiro brinca com os clichês do gênero, apenas para destruí-los no clímax, revelando um plot twist que vira tudo de cabeça para baixo. É uma reviravolta que não apenas surpreende, mas também redefine toda a jornada que acompanhamos até ali.

Outro destaque do filme são as atuações, especialmente de Willa Fitzgerald, que entrega uma performance intensa e cheia de nuances como a mulher em fuga. Ela transita perfeitamente entre o desespero e a determinação, mantendo o espectador sempre ao seu lado, mesmo quando a história começa a revelar novas camadas sobre sua personagem. Sua atuação eleva a tensão da trama e faz com que cada reviravolta tenha ainda mais impacto.

Ainda que a estrutura não linear seja um dos pontos fortes do filme, ela também pode afastar alguns espectadores no início. O ritmo inicial estranho e a mixagem de som estourada podem causar incômodo, dificultando a imersão nos primeiros momentos. No entanto, à medida que a trama se desenrola, o filme prende completamente o público, tornando impossível desviar o olhar. Cada nova revelação só aumenta a tensão e a surpresa, culminando em um final extremamente satisfatório.

Desconhecidos é um filmaço, um thriller psicológico estiloso e bem executado que entrega uma experiência única. A escolha de contar a história de maneira não linear não é apenas um truque narrativo, mas sim uma estratégia bem planejada para esconder as peças do quebra-cabeça até o momento certo. Para os fãs do gênero, é uma obra obrigatória – tensa, imprevisível e brilhantemente construída.

20/03/2025

Crítica | Branca de neve


A nova versão de Branca de Neve, dirigida por Marc Webb, é um remake que tenta inovar, mas acaba tropeçando na dificuldade de conciliar o velho com o novo. Ao fazer o "upgrade" da clássica animação de 1937, o filme aposta em mudanças significativas, mas essas alterações, ao invés de revitalizar o conto, geram um dilema de identidade que enfraquece a narrativa. A história tenta agradar a todos, mas em sua busca por um meio termo entre o tradicional e o progressista, se perde.

O enredo, que já é bem conhecido, começa com Snow White (Rachel Zegler), a princesa com pele tão branca quanto a neve (não neste caso), sendo criada sob a tutela de uma mãe bondosa e de um pai distante. Após a morte de sua mãe, o rei se casa com a vilã interpretada por Gal Gadot, a malvada rainha. Nesse ponto, o filme tenta dar uma roupagem mais moderna à história, com a introdução de um rei ausente, uma rainha com claras ambições políticas, e uma princesa que começa a questionar as estruturas de poder. O próprio nome de Snow White agora não faz referência à cor de sua pele, mas à tempestade de neve que acompanhou seu nascimento, uma tentativa de adaptação que soa mais como uma justificativa forçada do que uma mudança impactante.

O maior problema de Branca de Neve é a sensação de que ele tenta ser muitas coisas ao mesmo tempo. Por um lado, temos a história clássica, com a princesinha fugindo para a floresta, conhecendo os anões (agora criaturas mágicas em CGI, que soam mais estranhos do que encantadores) e esperando ser resgatada. Por outro, há uma tentativa de reimaginar Snow White como uma líder revolucionária, com uma insurreição popular contra a tirania da rainha, com seu príncipe transformado em um bandido heroico que, com sua turma, segue a linha de Robin Hood. O resultado disso é um filme sem foco, onde os elementos do conto de fadas original se misturam com uma agenda política que, em vez de ser bem trabalhada, é superficialmente jogada na trama.

Rachel Zegler, que foi aclamada por sua performance em West Side Story, aqui tem a difícil tarefa de dar vida a uma Snow White que, embora tenha uma boa voz e alguns momentos impactantes nas canções, acaba sendo mais uma figura insípida do que uma personagem carismática. Já Gal Gadot, com sua vilã cheia de sedução, não consegue equilibrar o terror que o papel exige, resultando em uma atuação que parece indecisa e sem impacto.

A musicalidade, que poderia ser um dos trunfos do filme, acaba sendo um ponto de desconforto. Com músicas compostas por Benj Pasek e Justin Paul, os números parecem forçados e em muitos momentos beiram o exagero, especialmente quando a princesa se vê envolvida em canções que pregam uma mensagem de empoderamento e ação, distantes do tom delicado e encantador do original. O uso de CGI para representar os anões também é um erro visível, criando figuras que são mais inquietantes do que mágicas. A decisão de misturar isso com os bandoleiros do príncipe é uma solução confusa e que parece ter sido feita por simples conveniência narrativa.

A direção de arte, embora tentasse capturar a essência visual do clássico de 1937, com cenários coloridos e fantasiosos, acaba não conseguindo transmitir a mesma magia. Em vez disso, o filme parece mais um grande desfile de fantasias de um festival medieval, com uma estética que tenta agradar tanto aos fãs do original quanto aos adeptos da modernização, mas sem sucesso.

Em um cenário repleto de remakes e revisões de contos clássicos, Branca de Neve se destaca não pela sua ousadia ou inovação, mas pela sua indecisão. É uma tentativa de agradar aos conservadores e progressistas, mas acaba falhando ao tentar ser todos os discursos ao mesmo tempo. O filme, com sua narrativa conturbada e performances mornas, é um exemplo claro de como uma produção grandiosa pode, ao tentar fazer tudo de uma vez, acabar não fazendo nada de verdadeiramente notável.

Branca de Neve de 2025 é um filme que tem pouco a oferecer, exceto uma sensação de nostalgia superficial e um rastro de tentativas mal sucedidas de reformular um clássico. Em um momento onde os reboots são abundantes, esta versão se destaca como uma das mais desinteressantes e sem alma. Para os fãs que esperam se encantar, o encanto pode ser mais fugaz do que esperavam. 

Crítica | The Alto Knights: Máfia e Poder


Em um cenário saturado de filmes sobre máfia, onde as tramas de traição, lealdade e poder se entrelaçam em um fio tenso de violência, "The Alto Knights: Máfia e Poder" tenta se destacar como uma reflexão sobre o declínio dos grandes nomes do crime organizado. Dirigido por Barry Levinson e com um roteiro de Nicholas Pileggi o mesmo de Goodfellas e Casino o filme aposta no carisma de Robert De Niro, que interpreta, nada menos, do que dois dos maiores mafiosos da história: Frank Costello e Vito Genovese. Porém, enquanto o filme oferece uma performance impressionante de De Niro, o resultado final acaba se perdendo no próprio excesso, revelando-se uma proposta interessante, mas que não cumpre totalmente o seu potencial.

A história, baseada em eventos reais, inicia-se em 1959, com uma tentativa de assassinato falha contra Frank Costello, um dos chefes mais respeitados da máfia, e logo se desenrola como um estudo de personagens sobre a rivalidade com Vito Genovese, seu antigo amigo e agora inimigo. A tentativa de assassinato é uma sequência tensa e promissora, que nos insere diretamente na ação, mas à medida que o filme avança, o ritmo se arrasta. O que poderia ser uma narrativa empolgante sobre os bastidores do poder mafioso se transforma em um mar de diálogos e explicações, sem conseguir manter a intensidade necessária para capturar o espectador.

A escolha de De Niro para interpretar dois papeis principais é o grande atrativo da produção, mas acaba soando mais como uma curiosidade de casting do que uma escolha narrativa substancial. O uso de maquiagem e próteses para criar as diferenças visuais entre Costello e Genovese, embora tecnicamente eficaz, acaba por ressaltar o aspecto artificial da experiência, fazendo com que o espectador se distraia com o truque em vez de se envolver com a trama. O fato de De Niro estar o tempo todo diante de si mesmo em cena, em duplas interpretações, gera uma estranha sensação de distanciamento, como se estivéssemos assistindo a uma farsa mais do que a um estudo genuíno de duas figuras históricas complexas.

A direção de Levinson, embora competente, não consegue imprimir a força dramática necessária para sustentar o filme ao longo de suas mais de duas horas de duração. A estética visual, que mistura cenas em preto e branco com filmagens de arquivo, lembra um pouco o estilo dos grandes filmes de máfia de outrora, mas sem o mesmo impacto. Em vez de oferecer uma sensação de nostalgia ou homenagem ao gênero, acaba por parecer um truque visual repetido, que não acrescenta nada à narrativa, apenas a torna mais arrastada. A ideia de utilizar imagens de arquivo é interessante, mas raramente se sente integrada de forma orgânica à história.


Os personagens, principalmente Frank e Vito, são apresentados de maneira quase didática, o que reduz sua complexidade. Enquanto Frank é retratado como o homem refinado, com uma fachada de respeitabilidade, Vito é o temperamental e violento, impulsivo e incontrolável. Essas características são claramente delineadas, mas a dinâmica entre os dois, o que uma amizade transformada em rivalidade de fato significa não é suficientemente explorada para que a grande tragédia ou drama da história se concretize. O filme busca, em alguns momentos, ser uma meditação sobre o envelhecimento e o desgaste do poder, mas não alcança a profundidade que poderia ter se tivesse mais foco nos aspectos humanos e emocionais das figuras retratadas.

De Niro, claro, está impecável em ambas as atuações, mas o fato de estarmos constantemente cientes de que ele está interpretando os dois personagens dificulta a imersão na história. As confrontações entre os dois são momentos de grande tensão, mas o efeito final é mais o de um truque de cinema do que uma exploração real dos conflitos internos de Costello e Genovese. Se há um ponto positivo nisso tudo, é o excelente trabalho de maquiagem e prostéticos que permite que De Niro, mesmo sob camadas de maquiagem, ainda transmita uma presença muito marcante.

A grande questão que paira sobre The Alto Knights é a falta de ambição narrativa. O filme, apesar de ter todos os ingredientes para se tornar um épico da máfia com o roteiro de Pileggi, a direção de Levinson e a interpretação de De Niro, parece contentar-se em seguir uma fórmula que já foi bem explorada em outras produções do gênero. O resultado é um filme que, apesar de ser satisfatório em sua estética e atuações, não consegue se firmar como uma obra relevante ou inovadora dentro do vasto universo do cinema de máfia.

12/03/2025

crítica | Código Preto

A espionagem no cinema muitas vezes caminha entre dois extremos: ação eletrizante ou tramas intelectualmente desafiadoras. Código Preto, dirigido por Steven Soderbergh, escolhe a segunda opção, apostando em diálogos afiados e dilemas morais no lugar de perseguições e tiroteios. O resultado, no entanto, pode dividir opiniões. Para alguns, será um thriller sofisticado; para outros, uma experiência frustrante, que parece mais adequada às páginas de um livro do que às telas do cinema. 

A trama segue Kathryn (Cate Blanchett) e George (Michael Fassbender), um casal de espiões experientes que, apesar da profissão perigosa, mantêm um casamento aparentemente equilibrado e respeitoso. Isso muda quando informações sigilosas vazam e Kathryn se torna a principal suspeita. De forma extraoficial, George recebe a missão de investigá-la, enfrentando o maior dilema de sua vida: confiar na mulher que ama ou ser leal ao seu país?

A premissa é excelente e tem potencial para um suspense envolvente, mas Código Preto segue por um caminho diferente do esperado. O filme se desenrola como um grande jogo de xadrez, onde cada peça se move nos diálogos, não na ação. O roteiro de David Koepp é meticulosamente construído, repleto de intrigas, insinuações e frases carregadas de subtexto. No entanto, essa abordagem torna o ritmo lento, e a tensão que poderia ser palpável se dilui em longas conversas e reflexões.

Apesar disso, há momentos de alívio. O filme surpreende ao inserir pitadas de humor, com diálogos irônicos que brincam tanto com o universo dos videogames quanto com a desconfiança natural em um casamento entre espiões. Essa leveza ocasional evita que a narrativa se torne excessivamente árida, mas não é suficiente para torná-la mais dinâmica.

Se o roteiro não é impecável, ao menos o elenco eleva o material. Cate Blanchett e Michael Fassbender entregam atuações magnéticas, adicionando profundidade emocional aos personagens. Blanchett, em especial, domina a tela com sua presença enigmática, deixando sempre no ar a dúvida sobre sua real motivação. Fassbender, por sua vez, convence como um homem dividido entre o dever e o amor.

A direção de Soderbergh também merece destaque. Conhecido por sua abordagem estilizada e domínio técnico, ele constrói uma atmosfera elegante e contida. A fotografia fria e calculada reforça a sensação de distanciamento entre os personagens, enquanto a montagem precisa mantém o filme visualmente interessante, mesmo quando a história se arrasta.

Código Preto não entrega a espionagem eletrizante que muitos podem esperar, mas sim um duelo psicológico sustentado por diálogos sofisticados. É um filme que exige paciência e atenção aos detalhes, funcionando mais como um quebra-cabeça narrativo do que como um thriller convencional. Para quem gosta de tensão construída na palavra e não na ação, pode ser uma experiência intrigante. Para os que buscam adrenalina e reviravoltas impactantes, no entanto, a sensação que fica é a de frustração.

11/03/2025

Crítica | Parthenope: Os amores de Nápoles


Paolo Sorrentino retorna com mais um filme visualmente deslumbrante em Parthenope: Os Amores de Nápoles, um longa que carrega sua assinatura estilística inconfundível e entrega uma experiência cinematográfica intensa, mas nada convencional.

A grande força do filme está, sem dúvidas, na fotografia. Cada cena é um verdadeiro quadro, meticulosamente composto para capturar a beleza de Nápoles e a intensidade emocional da protagonista. As cores, os enquadramentos e a iluminação fazem com que Parthenope seja um deleite visual, transportando o espectador para uma Itália solar e melancólica ao mesmo tempo.

O roteiro, como já é de se esperar de Sorrentino, é repleto de diálogos bem escritos e reviravoltas satíricas. As falas são afiadas e, muitas vezes, escondem camadas de significado que podem passar despercebidas em um primeiro momento. Isso faz com que o filme exija atenção total do espectador – não é um filme para assistir casualmente. Algumas cenas, aparentemente desconectadas da trama principal, ajudam a construir a essência de Parthenope, mostrando como sua personalidade foi moldada por suas experiências, sejam elas sexuais, acadêmicas ou sociais.


Um dos pontos altos da narrativa é a relação entre Parthenope e seu mentor, um professor de antropologia. Os diálogos entre eles são incrivelmente ricos, muitas vezes cômicos e cheios de reflexões sobre a vida, a sociedade e o próprio cinema. É um filme que se alimenta da cultura, das referências e do olhar apurado sobre o mundo – um verdadeiro prato cheio para cinéfilos.

No entanto, esse mesmo caráter metalinguístico e repleto de easter eggs pode ser um obstáculo para um público mais amplo. Parthenope não é um filme acessível para qualquer espectador; ele exige um certo repertório e gosto pelo cinema mais artístico para ser plenamente apreciado. Além disso, suas sátiras e provocações, especialmente direcionadas à Igreja Católica e ao cristianismo, devem afastar alguns espectadores religiosos.

A trilha sonora complementa perfeitamente a experiência, recheada de belas músicas que potencializam a imersão na atmosfera italiana. O filme não apenas conta uma história, mas faz com que o público sinta a essência do país por meio da música e das imagens.

Parthenope: Os Amores de Nápoles é uma viagem única pela mente de Sorrentino e um olhar inusitado sobre a formação de uma mulher que carrega consigo a essência mitológica de sua cidade. Não é um filme fácil ou convencional, mas para aqueles que estão dispostos a mergulhar em sua proposta, a recompensa é um filme diferente, cult e provocativo.

CRÍTICA | Vitória


"Vitória" acompanha a jornada de Nina, uma senhora solitária que, aflita com a escalada da violência em sua vizinhança, decide registrar a movimentação dos traficantes da região com sua câmera, na tentativa de cooperar com a polícia. Sua iniciativa desperta o interesse de um jornalista, que se aproxima dela e tenta ajudá-la em sua missão. No entanto, essa decisão tem consequências graves, obrigando-a a mudar de identidade e passar a se chamar Vitória. O longa se assume como um drama intenso e realista, conduzido com maestria por Fernanda Montenegro.

A atriz de 95 anos carrega o filme nas costas, sendo o grande destaque da produção. Seu desempenho é arrebatador, dando vida a uma personagem forte, vulnerável e incrivelmente humana. Com sua presença quase onipresente em cena, Montenegro nos conduz por um retrato sensível e doloroso da solidão e da impotência diante da violência urbana. A forma como sua atuação transita entre momentos de fragilidade e determinação torna a experiência ainda mais envolvente e emocional.


A cinematografia do filme também merece destaque. O uso de planos-sequência valoriza o carisma da protagonista e nos aproxima ainda mais da realidade brutal que ela enfrenta. A direção aposta em uma abordagem que mergulha o espectador na perspectiva da personagem, tornando cada detalhe da ambientação ainda mais impactante.

Embora o filme se mantenha firme em sua proposta dramática, há momentos em que a narrativa se distancia do realismo estabelecido. Um exemplo claro disso é uma cena específica de tom cômico que, apesar de não comprometer a trama, cria uma quebra de ritmo desnecessária. Ainda assim, essa escolha não chega a comprometer a imersão geral da história.


O filme também toca em questões sociais relevantes, como o descaso da polícia diante dos relatos da população. Seja por interesses próprios ou discriminação, essa realidade ainda difícil de ser discutida é exposta de forma contundente. Além disso, o longa retrata com sensibilidade a dura realidade de idosos que, após uma vida de esforço para manter suas moradias, se veem forçados a abandoná-las devido à insegurança crescente.

Apesar da predominância de Fernanda Montenegro em cena, o elenco de apoio também entrega bons momentos. Uma das surpresas da produção é a participação de Linn da Quebrada no papel de Bibiana, que, mesmo com pouco tempo de tela, se destaca com uma performance marcante.

"Vitória" é uma experiência poderosa e emocionante que deixa o espectador sem fôlego diante da sua dura realidade. Mais do que um filme, é um espelho da sociedade, uma história sobre medo e coragem, sobre quem pode falar e quem é silenciado.

04/03/2025

CRÍTICA | Mickey 17


O sul-coreano Bong Joon-ho retorna ao cinema com “Mickey 17”, sua aguardada continuação como diretor após o estrondoso sucesso de “Parasita” (2019). Desta vez, o diretor mergulha na ficção científica para construir uma sátira distópica que combina humor ácido, niilismo filosófico e crítica social em uma narrativa que parece ter sido lançada na hora certa para dialogar com os turbulentos tempos políticos contemporâneos.

Baseado no romance “Mickey 7”, de Edward Ashton, o filme se afasta dos clichês tradicionais da ficção científica para propor uma reflexão incômoda sobre a exploração da classe trabalhadora, a alienação do indivíduo e o autoritarismo crescente em um futuro não tão distante.

A trama acompanha Mickey Barnes (Robert Pattinson), um "Dispensável" em uma missão interplanetária para colonizar o planeta gelado “Niflheim”. Sua função é simples, mas macabra, realizar tarefas letais ou experimentar condições de risco para proteger os membros mais valiosos da tripulação. Quando morre o que acontece frequentemente Mickey é impresso novamente por uma bioimpressora 3D, mantendo intactas suas memórias e traumas.

O conceito de clones sacrificáveis não é novo na ficção científica, mas Bong injeta na história uma abordagem profundamente humana, transformando Mickey em uma categoria do trabalhador precário, condenado a uma existência cíclica onde sua vida só tem valor enquanto servir à produtividade.


A ironia central do filme é que cada versão de Mickey é menos "humana" que a anterior, tornando-se mais ressentida, cínica e disposta a quebrar as regras. Pattinson, em uma das atuações mais estranhas de sua carreira, interpreta várias encarnações do mesmo personagem, desde o servil e desajeitado “Mickey 17” até o vingativo e astuto “Mickey 18”, criando um jogo cômico de duplicidade que oscila entre o absurdo e o patético.

A dinâmica entre as cópias questiona o que nos define como indivíduos, memória, identidade ou comportamento, e expõe como a lógica capitalista reduz a vida humana a um recurso reciclável.

Enquanto Mickey tenta sobreviver, a colônia é governada pelo megalomaníaco Kenneth Marshall (Mark Ruffalo), um líder que mistura fanatismo religioso, supremacia branca e capitalismo predatório em um projeto de colonização fascista. A metáfora com o trumpismo é escancarada, desde os bonés vermelhos que seus seguidores usam até o discurso de "pureza genética" para justificar a reprodução seletiva da população. 

A presença de Toni Collette como sua esposa gourmet obcecada por requintes luxuosos adiciona um toque perversamente cômico à dinâmica opressiva, sublinhando a hipocrisia da elite colonizadora.

Bong Joon-ho nunca se contenta em apenas apontar o dedo para os vilões. O filme se diverte com o fato de que todos os personagens heróis e vilões estão moralmente comprometidos. Mickey, mesmo como protagonista, é egoísta, covarde e muitas vezes desprezível. O humor do filme surge da percepção desconfortável de que ninguém realmente merece redenção.



As mortes grotescas e acidentais evocam a surpresa do espectador, enquanto os diálogos repletos de sarcasmo lembram a semiótica do mundo atual. Essa combinação torna o filme mais cômico do que aterrorizante, mas também profundamente deprimente.

Visualmente, “Mickey 17” é uma mistura de estética retrofuturista e efeitos digitais sofisticados. A fotografia fria e claustrofóbica de “Darius Khondji” reflete o vazio existencial da colônia, enquanto a direção de arte aposta em designs mais desgastados, que lembram filmes como “Alien” e “Blade Runner”. 

O ritmo do filme, pode alienar parte do público. Bong não tem pressa em desenvolver a trama, privilegiando momentos de introspecção e conversas filosóficas em detrimento da ação. O segundo ato, especialmente, pode parecer arrastado para aqueles que esperam uma narrativa mais convencional.

“Mickey 17” é uma sátira de ficção científica que se equilibra entre o absurdo e o trágico, denunciando a desumanização promovida pelo capitalismo e os perigos do autoritarismo disfarçado de utopia. Bong Joon-ho entrega uma obra complexa e profundamente pessimista, na qual mesmo a resistência parece condenada à derrota.

Embora o filme não alcance a mesma força narrativa de “Parasita”, ele se destaca por sua ousadia e timing político, servindo como um reflexo cruelmente divertido do mundo em que vivemos. Robert Pattinson comprova mais uma vez seu talento camaleônico, enquanto Bong reafirma sua posição como um dos diretores mais provocadores do cinema contemporâneo.

CRÍTICA | Uma Advogada Brilhante


Uma Advogada Brilhante, dirigido por Ale McHaddo e estrelado por Leandro Hassum, é uma comédia leve que mistura situações cômicas, crítica social e uma jornada de autodescoberta. O filme estreia no dia 6 de março e aposta na fórmula que consagrou Hassum no cinema brasileiro: humor inteligente, carisma e mensagens otimistas.

A trama acompanha Michelle (Leandro Hassum), um advogado cuja vida vira de cabeça para baixo quando o escritório onde trabalha decide demitir todos os homens da equipe para manter apenas advogadas mulheres. A única chance de manter o emprego surge de um mal-entendido, seu nome é confundido com o de uma mulher, e ele assume a identidade de Dra. Michelle.

O filme usa essa premissa inusitada para explorar o contraste entre os privilégios masculinos e as dificuldades enfrentadas por mulheres no mercado de trabalho. Embora o tom seja predominantemente cômico, há espaço para reflexões sobre igualdade de gênero e empatia, especialmente quando Michelle (homem) , agora vivendo como Michelle (mulher), começa a perceber os desafios cotidianos enfrentados pelas mulheres.

Conhecido por seu humor inteligente, Hassum surpreende ao trazer uma atuação que combina comédia com nuances mais sensíveis. Ele consegue equilibrar o lado caricato da transformação com momentos de vulnerabilidade, principalmente nas cenas que envolvem a relação com o filho Jonas (Gabriel Avelar).

A caracterização exagerada da Dra. Michelle serve para arrancar risos, mas também funciona como uma crítica sutil aos estereótipos femininos. Hassum entrega uma performance divertida sem cair em piadas ofensivas ou ultrapassadas, o que confere ao filme um tom mais contemporâneo.


O elenco de apoio é bem distribuído, com destaque para Gabriel Avelar, que interpreta o filho do protagonista, trazendo leveza e emoção à narrativa. Eileen Walsh e Antonia Thomas também contribuem para o dinamismo da história, enquanto o vilão João Pedro, interpretado por Ale McHaddo, serve como contraponto ao arco de crescimento do protagonista.

Apesar do tom cômico, o filme não deixa de abordar questões importantes, como o machismo no ambiente de trabalho e as desigualdades de gênero. A transformação de Mikele em Michelle é usada como ferramenta para provocar empatia, mostrando que as dificuldades enfrentadas pelas mulheres vão muito além da aparência.

O roteiro, escrito por Enda Walsh, insere piadas ágeis e diálogos irônicos sem perder o equilíbrio entre humor e crítica. As cenas de constrangimento, como as aulas de aeróbica ou o improviso no banheiro, garantem boas risadas, mas também fazem o protagonista questionar suas próprias atitudes e privilégios.

Uma Advogada Brilhante é uma comédia divertida e acessível, que usa o riso como ponto de partida para discussões relevantes sobre igualdade de gênero. Leandro Hassum entrega uma atuação carismática, equilibrando seu bom humor com momentos de sensibilidade.

Embora não reinvente o gênero, o filme cumpre seu propósito como entretenimento familiar, oferecendo risadas e uma mensagem positiva. Ideal para quem busca uma comédia leve, com pitadas de crítica social e uma boa dose de aquecimento no coração.

CRÍTICA | O Macaco


Adaptação do conto homônimo de Stephen King, O Macaco, dirigido por Osgood Perkins, é uma mescla peculiar de horror, comédia e casos de família. O filme, que inicialmente parece seguir a linha clássica das maldições sobrenaturais, aposta em uma abordagem cínica, subvertendo expectativas ao transformar o terror em uma reflexão absurda sobre a mortalidade e os traumas familiares.

A trama gira em torno de um brinquedo aparentemente inofensivo, um macaco de circo de corda, que bate em pequenos pratos de percussão. No entanto, cada vez que o objeto é acionado, uma morte violenta ocorre nas proximidades. A maldição atravessa gerações, atormentando primeiro o piloto Petey (Adam Scott) e depois seus filhos gêmeos, Hal e Bill (interpretados na infância por Christian Convery e na fase adulta por Theo James).

A ideia de brinquedos amaldiçoados não é nova no terror, com referências óbvias a clássicos como “Chucky” e “Annabelle”. No entanto, Perkins se afasta da tradição do horror ao introduzir uma camada de humor niilista, aproximando o filme mais de “Premonição” do que dos típicos filmes de brinquedos demoníacos.

O que diferencia “O Macaco” de outras adaptações de King é o tom cômico inesperado. As mortes, embora brutais e sanguinárias, são executadas de maneira quase cartunesca, provocando risos nervosos ao invés de puro medo. Cavalos pisoteando pessoas, arpões atravessando corpos e bolas de boliche esmagando cabeças remetem diretamente ao humor ácido de “Premonição”, mas com um subtexto mais filosófico sobre a aleatoriedade da morte.





A frase “Nada importa… ou então tudo importa”, dita pela matriarca Lois (Tatiana Maslany), sintetiza o espírito do filme. O niilismo permeia a narrativa, sugerindo que a morte não tem lógica ou justiça, ela simplesmente acontece.

Apesar das mortes inventivas e do conceito instigante, o filme falha ao desenvolver personagens memoráveis. Theo James entrega uma atuação competente como Hal, mas seu personagem é tão apático e resignado que se torna difícil criar empatia. O relacionamento entre Hal e seu filho Petey (Colin O'Brien) é apenas superficialmente explorado, desperdiçando uma oportunidade de gerar tensão emocional.

A presença de Tatiana Maslany como a mãe protetora também é subaproveitada, enquanto Elijah Wood aparece em uma breve participação cômica que se destaca mais pela bizarrice do que pela relevância para a trama.

Osgood Perkins, conhecido por seu trabalho em "The Blackcoat's Daughter" e "Longlegs", mantém aqui sua assinatura visual elegante. A fotografia sombria, combinada com planos longos e uma trilha sonora macabra, confere uma aura de medo ao filme. No entanto, o ritmo lento e a falta de desenvolvimento dos personagens acabam transformando o que poderia ser um thriller em uma experiência por vezes entediante.

A metáfora sobre a herança de traumas familiares com o macaco como símbolo de maldições passadas é interessante, mas o filme nunca se aprofunda o suficiente para tornar essa alegoria verdadeiramente impactante.

O Macaco é uma obra que flerta com o brilhantismo, mas nunca se entrega completamente ao horror ou à comédia. A mistura de violência absurda, niilismo filosófico e humor ácido cria momentos de genuína originalidade, mas a falta de personagens cativantes e o ritmo desigual impedem que o filme alcance seu pleno potencial.

Embora Osgood Perkins demonstre talento para criar atmosferas inquietantes, sua abordagem excessivamente visceral torna “O Macaco” mais uma curiosidade do que um clássico do gênero. Para fãs de terror que apreciam uma abordagem mais sarcástica, o filme pode oferecer alguns momentos divertidos, mas para aqueles que
buscam sustos genuínos, a experiência pode parecer frustrante.