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Crítica | Uma Sexta Feira Mais Louca Ainda


Vinte e dois anos após o lançamento de Sexta-Feira Muito Louca, Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis retornam às telas com uma sequência que não apenas honra o clássico original, mas também propõe um olhar contemporâneo, sensível e cômico sobre a maternidade, à adolescência e os laços familiares. Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda é uma bem-sucedida viagem nostálgica que surpreendentemente não se limita à saudade: ela a reinventa, atualiza e transforma em uma nova experiência intergeracional. 

O filme se passa anos depois dos eventos do primeiro longa. Anna (Lindsay Lohan) agora é uma mãe solteira prestes a se casar novamente, tentando equilibrar sua vida entre a filha Harper, a enteada Lily e a sempre presente figura materna de Tess (Jamie Lee Curtis), que agora assume o papel de avó. Com uma nova configuração familiar repleta de tensões e incertezas, uma troca de corpos em massa acontece entre as quatro protagonistas, provocando não apenas o caos, mas também momentos de revelação e empatia.

A trama central do longa se apoia na repetição da fórmula do original: a troca de corpos como mecanismo narrativo para gerar tanto humor quanto compreensão entre personagens que inicialmente parecem incapazes de se comunicar. No entanto, o novo filme adiciona camadas significativas ao desenvolver as consequências emocionais e psicológicas desse fenômeno em uma estrutura familiar ampliada. Em vez de apenas resolver uma briga entre mãe e filha, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda expande esse gesto simbólico para abranger gerações e modelos parentais diversos, criando um diálogo sensível sobre pertencimento, amadurecimento e aceitação.


O que realmente eleva o filme é a química entre Lohan e Curtis, que continuam brilhantes e afinadas. Ambas não apenas retomam seus papéis com naturalidade, mas demonstram um amadurecimento artístico que enriquece cada cena compartilhada. Se no primeiro filme o arco narrativo era centrado no conflito adolescente entre mãe e filha, aqui vemos mulheres que, mesmo em fases diferentes da vida, ainda lutam para se entender, se respeitar e se conectar.

Curtis, com sua habitual presença cênica marcante, confere a Tess um ar de sabedoria que não se furta ao humor físico, enquanto Lohan, cada vez mais à vontade em papéis de complexidade emocional, mostra uma Anna mais madura, mas ainda vulnerável. Ambas protagonizam momentos memoráveis, equilibrando riso e emoção com notável fluidez. A atuação das jovens Julia Butters e Sophia Hammons, que vivem Harper e Lily, também merece destaque, pois oferecem à história o frescor necessário para atrair uma nova geração.

A direção de Nisha Ganatra encontra um equilíbrio cuidadoso entre o ritmo frenético das comédias familiares e os momentos de uma pausa emocional. Ela valoriza as expressões faciais, os silêncios incômodos e os diálogos que, ainda que simples, carregam significados profundos sobre o ser mãe, filha, mulher. A trilha sonora também contribui para a atmosfera nostálgica e contemporânea, e há referências visuais e sonoras que farão os espectadores mais velhos sorrirem de reconhecimento.

O roteiro acerta ao não transformar Harper e Lily em simples arquétipos de adolescentes revoltadas. Há uma genuína tentativa de compreender as dores dessa fase da vida, mostrando que, para além dos clichês, os jovens também têm sentimentos complexos e necessidade de serem ouvidos. Da mesma forma, o filme retrata os desafios da parentalidade contemporânea de forma honesta, discutindo as diferenças de estilos entre gerações e a constante sensação de inadequação que muitas mães enfrentam.


Mas se a trama funciona tão bem é porque ela tem como base a empatia como elemento central. Colocar-se no lugar do outro, ainda que literalmente neste universo ficcional, é mais do que um recurso narrativo: é a lição essencial do filme. A comédia corporal decorrente da troca de corpos serve para fazer rir, claro, mas também para abrir espaço ao entendimento, à reconciliação e ao afeto.

A grande virtude de Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda é ser um filme de família não apenas em sua estrutura e enredo, mas em sua vocação afetiva. Ele reconhece que a vida em família é confusa, caótica e muitas vezes dolorosa, mas também repleta de possibilidades de crescimento conjunto. A beleza está no esforço contínuo de se compreenderem, mesmo quando as palavras falham ou os sentimentos se embaralham.



Apesar de sua estrutura previsível, o longa se destaca por não subestimar seu público. Ele entende que crianças e adolescentes são capazes de lidar com temas mais densos, e que os adultos ainda têm muito o que aprender sobre si mesmos. Há momentos de humor bobo, sim, mas também há lágrimas sinceras e reflexões profundas.

Em tempos de relações familiares frequentemente mediadas por telas, esse filme propõe algo valioso: tempo de qualidade juntos, risadas compartilhadas, empatia exercida. O espectador sai da sala não apenas com a sensação de ter revisto personagens queridos, mas com uma espécie de alívio emocional, como quem reencontra uma parte de si.

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda é mais do que uma boa sequência. É um lembrete poderoso de que amadurecer não significa abandonar a leveza, de que crescer dói, mas pode ser engraçado, e de que há beleza no esforço constante de se colocar no lugar do outro algo que, no fundo, todos nós precisamos praticar um pouco mais.

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