Crítica | Turma da Mônica - Laços
A “Dona da Rua” ganhou vida e está com a sua turma em live-action na tela grande. A criação de Maurício de Souza chega aos cinemas em “Turma da Mônica - Laços” mostrando que o cinema brasileiro pode ir além das comédias enlatadas.
Acho que fica mais fácil dizer: "quem nunca leu uma revistinha da Turma da Mônica", do que o contrário. Nos ajudou a melhorar a leitura, descobrir coisas novas, e aprender dando muita risada. A décadas encantando gerações e se renovando, as histórias que ganharam espaço e conquistaram o público brasileiro e internacional, inevitavelmente chegaria cedo ou tarde em sua versão de “carne e osso”. Se isso funcionaria? Até Maurício de Sousa teve suas dúvidas durante anos, até que o momento certo chegou.
Laços tem inspiração na história da graphic novel homônima escrita e desenhada por Vitor e Lu Cafaggi, mas com a essência visual característica dos quadrinhos de Maurício. Aliás a fotografia desse filme é de um bom gosto que só, muito agradável aos olhos contribuindo para a ambientação do que vemos nas HQ’s. A história segue a Turma da Mônica, indo atrás de Floquinho, o cachorrinho de Cebolinha, que foi raptado de maneira misteriosa. As coisas se complicam quando eles precisam atravessar uma floresta atrás do sequestrador e deixar as desavenças de lado, e estreitar os laços que há entre os quatro amigos para chegarem ao seu objetivo.
O filme é dirigido por Daniel Rezende, que até a estréia na direção em “Bingo: O Rei das Manhãs”, era conhecido como editor de uma vasta lista de sucessos, incluindo é claro “Cidade de Deus”, para o qual ganhou o prêmio de melhor edição no Bafta e sendo indicado para o Oscar na mesma categoria (nota do redator : Cidade de Deus é meu filme favorito e merece ser assistido infinitas vezes, a edição desse filme é realmente incrível).
Daniel Rezende e Maurício de Sousa. Os pais de "Turma da Mônica - Laços" |
Uma das maiores preocupações em produções audiovisuais protagonizadas por crianças, é o convencimento das tais perante a atuação. É muito fácil se deparar com textos inexpressivos ou até mesmo incoerentes com a idade dos atores, o que causa aquele desconforto no espectador de estar assistindo algo meticulosamente ensaiado e sem vida. Caso totalmente contrário em “Laços”. As histórias da turma da Mônica sempre tiveram como alicerce os personagens, tanto pela quantidade quanto pela qualidade. As características são distintas e complementares e a memória afetiva corresponde pela qualidade; você reconhece cada um deles, mesmo se não lembrar os nomes. Seria arriscado adaptar quatro personagens que já estão estabelecidos na cultura brasileira se eles não escolhessem as crianças certas. E as agulhas no palheiro foram encontradas, e elas vieram brilhando…
Giulia Benite é a dentucinha valentona de vestido vermelho que nós amamos, Mônica. Kevin Vechiatto vai “doblar” a língua de qualquer um que duvidar do seu Cebolinha. Não tem melância suficiente no mundo para substituir a fofura que é a Magali da Laura Rauseo. E Gabriel Moreira corre mais que a chuva, tanto quanto o Cascão. A interação entre os quatro é crível, os diálogos são naturais entre seu propósito e não resta dúvidas que a associação será fácil, não só pela caracterização do vestuário, mas pela personalidade de cada um. Uma adaptação de personagens de um mundo de papel e tinta, para a realidade que realmente funcionou.
Inevitavelmente, o protagonismo da história acaba sendo de Cebolinha, até pelo contexto em que a aventura se passa. Mas nem por isso os outros se tornam coadjuvantes da própria história… Afinal é “Turma da Mônica, não do Cebolinha”, como eles mesmo dialogam. Aliás, prestem atenção em easter-eggs de outros personagens famosos, na participação do Pai desses personagens incríveis, e uma conversa sobre “calçados” que dá um significado hilário a tantos anos de dúvidas.
Gabriel Moreira, Kevin Vechiatto, Giulia Benite e Laura Rauseo |
Os nomes mais conhecidos do grande público para os personagens adultos são Monica Iozzi (Dona Luiza) e Paulinho Vilhena (Seu Cebola), mas quem realmente brilha é Rodrigo Santoro como Louco, inclusive escolhido para atuar no filme antes mesmo do elenco principal. Sua cena é uma adição a história, que não existe nos quadrinhos. Uma interação com Cebolinha (que acontece muito nos quadrinhos), que dá o significado abstrato do título do filme, onde o ator traduz toda a essência do personagem com movimentos corporais de encher os olhos e seus diálogos malucos que te fazem pensar. Sem dúvidas, é principalmente nessa cena que a influência e o dedo mágico de Daniel Rezende entra em ação na edição do filme.
Rodrigo Santoro, Louco de pedra! |
Mas nem tudo são flores e o filme volta e meia cai em um marasmo de repetições das andanças pela floresta, que poderia ter sido facilmente evitado se por exemplo os adultos tivessem uma participação maior durante a trama, parando de procurar as crianças apenas pela rua do Limoeiro, e indo mais a fundo. Seus filhos sumiram, vão ficar em casa esperando o que? Os “Laços”, desta vez o significado literal do filme, são introduzidos durante a história e poderiam ser essa sub-trama, mas acabam não servindo para nada no decorrer do que vemos em tela.
“Turma da Mônica” é a prova de que o cinema brasileiro pode criar conteúdo de qualidade para todas as idades se ele se permitir (ou os patrocinadores no caso). Para uma geração que viu “Menino Maluquinho” nos cinemas, “Chiquititas” na TV e toda a outra infinidade de produções tupiniquins voltadas para crianças com abrangente de todas as idades, inclusive produções recentes como os filmes de “Carrossel”; "Laços" é um frescor não só emotivo, mas de qualidade, do que podemos ver com mais recorrência se o cinema se permitir, e o público prestigiar.
"Sou a Mônica, sou a Mônica, dentucinha e sabichona" |
Divertido, nostálgico, e feito com muito carinho; “Turma da Mônica - Laços”, merece sua ida ao cinemas. E você, já foi assistir? O que achou? Qual seu personagem favorito? A minha contraparte nos quadrinhos de Mauricio de Sousa, é sem dúvidas do “Do Contra” (descubra o personagem antes de levar seu nome ao pé da letra; seja mais “Do Contra”), e o seu?
AVALIAÇÃO: 4/5
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