CRÍTICA | A COR PÚPURA
O romance "A Cor Púrpura" de Alice Walker, publicado em 1982, já foi objeto de
adaptações apreciadas, desde o filme indicado ao Oscar dirigido por Steven
Spielberg até o musical da Broadway que estreou em 2005. O novo filme de Blitz
Bazawule combina os melhores aspectos de cada forma distinta, criando um híbrido
impressionante que mescla a imaginação da escrita com a energia estrondosa da
performance musical no teatro.
A narrativa de "A Cor Púrpura” gira em torno de Celie, interpretada na juventude por
Phylicia Pearl Mpasi e na idade adulta por Fantasia Barrino. Na infância, Celie e sua
irmã Nettie, representada por Halle Bailey, desfrutaram de momentos na praia,
compartilhando confidências e canções. No entanto, suas vidas eram dominadas
pela presença de um “suposto” pai abusivo. Grávida pela segunda vez, Celie
enfrenta a venda de seus filhos pelo pai e, posteriormente, é leiloada como esposa
para o personagem de nome “Mister”, interpretado por Colman Domingo. O que ela
encontra com Mister não é uma fuga, mas uma transição de uma família violenta
para outra.
Quando Nettie foge após tentativas de violência sexual tanto por parte de seu pai
quanto por parte de Mister, as irmãs perdem contato, deixando Celie sozinha para
enfrentar décadas de sofrimento desanimadoras. Seu marido abusivo, apaixonado
por outra mulher chamada Shug Avery interpretada por Taraji P. Henson, uma
cantora de blues itinerante, contribui para a solidão de Celie. O filme explora as
complexidades das relações de Celie com Shug e Sofia, que é interpretada por
Danielle Brooks, sua nora corajosa.
As performances em "A Cor Púrpura" são fundamentais para o sucesso do filme.
Tanto Mpasi quanto Barrino, estreantes no cinema, destacam-se na personificação
de Celie, exibindo as reflexões e hesitações da personagem, assim como sua
resiliência ferida. A química entre Mpasi e Bailey é notável, transmitindo um vínculo
genuíno que ressoa, apesar da ausência de Nettie na tela.
Barrino, como Celie na idade adulta, mantém uma ingenuidade infantil em sua
atuação, indicando habilmente a evolução reprimida causada pelos homens
tirânicos em sua vida. Brooks, indicada ao Tony por suas atuações no palco,
destaca-se no filme, oferecendo uma performance cativante e emocionalmente rica
como Sofia.
Contudo, a atuação exagerada de Taraji P. Henson como Shug é um ponto fraco em
"A Cor Púrpura". Em contraste com o elenco autêntico, sua representação destoa,
especialmente considerando a natureza vibrante da personagem. Shug, como uma
diva autoconfiante, exige carisma inabalável e profundidade de desempenho,
aspectos que ela não alcança.
Ao abranger um extenso período de tempo, a seleção cuidadosa de destaques e
eventos biográficos da vida de Celie é crucial. No entanto, o filme às vezes se
desvia para caminhos menos interessantes, concentrando-se demais em Shug e
perdendo o ritmo. Alguns números musicais parecem dispensáveis, mas a maioria
triunfa ao expressar emoções intensas.
"A Cor Púrpura" oferece um retrato brilhante e emocionante da vida de uma mulher
preta, marcada pelas adversidades da feminilidade negra. No meio das
probabilidades esmagadoras, o verdadeiro impacto do filme é a sororidade e
solidariedade da irmandade negra, familiar ou não. É um testemunho de resiliência,
perseverança e maturidade ao longo das décadas, emergindo como a mais recente
interpretação de uma história impecável.
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