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CRÍTICA | CLUBE DOS VÂNDALOS


"Clube dos Vândalos", uma criação ousada e estilizada do diretor e roteirista Jeff Nichols, acrescenta uma nova dimensão ao universo dos filmes de gangues de motociclistas, oferecendo uma narrativa baseada em fatos reais e uma perspectiva única que destaca a experiência feminina nesse ambiente dominado por homens. Inspirado no livro fotográfico de Danny Lyon, o filme documenta a ascensão dos Vândalos, um clube de motociclistas no Centro-Oeste dos EUA durante a década de 1960, e se destaca por seu elenco estelar e sua abordagem introspectiva e humana.

A trama do filme é centrada na personagem Kathy, interpretada por Jodie Comer, que é a esposa de Benny (Austin Butler), um motociclista selvagem e imprudente, e melhor amigo de Johnny (Tom Hardy), o líder do grupo. A história é contada através das memórias de Kathy, reveladas em uma série de entrevistas conduzidas por Danny Lyon, cuja presença é sentida, mas não vista, o que cria uma dinâmica intrigante e revela a narrativa aos poucos, permitindo que o público compreenda gradualmente o contexto e as motivações dos personagens.

Jodie Comer brilha no papel de Kathy, oferecendo uma performance que equilibra brutalidade e ternura com uma naturalidade impressionante. Sua personagem é uma âncora moral e intelectual do filme, trazendo uma força e independência raramente vistas em filmes desse gênero. Comer se destaca ao retratar a complexidade de Kathy, uma mulher que luta para acompanhar a natureza indomável de seu marido e sua cega lealdade a Johnny, enquanto também busca sua própria identidade e lugar no mundo.


Tom Hardy, como Johnny, traz sua intensidade característica ao papel, interpretando o líder dos Vândalos com uma mistura de carisma e ferocidade. Johnny é um homem lutando para manter o controle em um mundo que rapidamente escapa de suas mãos, e Hardy captura essa luta interna com maestria. Austin Butler, por outro lado, ainda carrega traços de sua interpretação de Elvis Presley, o que pode distrair um pouco, mas ele ainda consegue transmitir a imprevisibilidade e o carisma de Benny.

A cinematografia do filme é impressionante, capturando a essência crua e estilizada da era dos clubes de motociclistas com tons amarelos que evocam o clima do Centro-Oeste dos EUA. As motos vintage são quase personagens próprias, adicionando autenticidade e textura à narrativa. A trilha sonora é um espetáculo à parte, repleta de músicas da época que complementam perfeitamente o ambiente e a atmosfera do filme, desde seu início até os créditos finais. 

Jeff Nichols demonstra uma profunda sensibilidade e inteligência em sua escrita, afastando-se dos clichês habituais do gênero de gangues de motociclistas ao focar em uma narrativa mais introspectiva e humana. A escolha de contar a história do clube através da perspectiva de Kathy não só traz uma nova dimensão à trama, mas também desafia as normas de gênero estabelecidas. A relação entre Johnny, Benny e Kathy é tratada com uma complexidade rara, explorando temas de masculinidade, lealdade e a inevitável passagem do tempo.


No entanto, a decisão de Nichols de não focar na violência e de cortar abruptamente algumas cenas para não mostrar sangue pode dividir opiniões. Enquanto alguns espectadores apreciarão a abordagem mais cadenciada e focada nos diálogos, outros podem sentir falta da ação característica deste universo. A construção da dinâmica de entrevista e o ritmo lento podem tornar o filme menos acessível para aqueles que esperam uma experiência mais intensa e repleta de ação. 

Em comparação com clássicos do gênero, como "Easy Rider" e "Hell's Angels on Wheels", "Clube dos Vândalos" se destaca por sua profundidade emocional e pelo foco em uma personagem feminina forte. Filmes anteriores muitas vezes retratavam as mulheres como acessórios das aventuras masculinas, mas aqui, Kathy é uma força motriz, uma voz crítica e uma personagem plenamente desenvolvida.

"Clube dos Vândalos" se destaca por sua abordagem única e por sua profundidade narrativa, mas que também desafia as expectativas do público ao subverter os tropos tradicionais de filmes de motociclistas. É uma jornada visual e emocionalmente rica que merece ser vista, mesmo que não agrade a todos os gostos.

Nota 4.0/5.0

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