CRÍTICA | OPERAÇÃO VINGANÇA
Com Operação Vingança, o diretor James Hawes se arrisca em um território que já se viu de tudo, o thriller de espionagem movido pela vingança pessoal traz uma premissa clássica, Charlie Heller (Rami Malek), um analista da CIA com mais intimidade com códigos e telas do que com armas, vê sua vida desmoronar quando sua esposa (Rachel Brosnahan) é assassinada durante um ataque terrorista em Londres. Insatisfeito com a inércia burocrática da Agência, Heller decide caçar os responsáveis com as próprias mãos mesmo que isso signifique virar as costas para tudo o que conhece.
Apesar de flertar com o estilo de “Jason Bourne”, Operação Vingança é mais inteligência do que físico, ainda que nem sempre de forma satisfatória. Rami Malek entrega uma performance contida (pra variar), marcada por olhares vidrados e reações sutis, ideal para representar o luto transformado em frieza calculada, mas que às vezes soa tão apática quanto o próprio roteiro.
O filme tenta subverter o molde tradicional dos filmes de vingança ao manter seu protagonista longe do estereótipo do herói musculoso e infalível. Charlie não é um assassino nato, não sabe atirar direito e precisa assistir a tutoriais no YouTube para aprender a arrombar fechaduras. Isso traz momentos de humor involuntário ou, quem sabe, autoconsciente que fazem falta em outras partes da narrativa. Há algo interessante em ver um “homem comum” tentando colocar em prática um belo plano de vingança, mas a execução, muitas vezes, parece mecânica e inverossímil, mesmo dentro dos parâmetros do gênero.
A direção de Hawes, marcada por um visual elegante e eficiente, com boas locações em Istambul, Paris e Londres, mantém a história em movimento. Porém, a estética fria e a paleta acinzentada acentuam a distância emocional que o filme já impõe por meio de seu roteiro funcional e seus personagens pouco desenvolvidos. Mesmo com um elenco recheado de nomes de peso como Laurence Fishburne, Caitriona Balfe, Michael Stuhlbarg, Jon Bernthal, poucos ganham espaço para brilhar. A maioria é relegada a tipos genéricos ou flashbacks sentimentais, como é o caso de Brosnahan, cuja personagem existe apenas para ser o gatilho da trama.
Há também uma camada de crítica política com vilões que ecoam o populismo contemporâneo, tramas de encobrimento militar e alegorias discretas à supremacia branca, mas tudo isso é apresentado de maneira tão superficial que não pesa na experiência do espectador. Operação Vingança parece não saber se quer ser uma sátira esperta ou um thriller sério de vingança moral.
Ainda assim, o filme tem seus méritos. Há tensão suficiente para manter o interesse, uma trilha sonora maneira de Volker Bertelmann que injeta energia onde o roteiro falha, e algumas sequências de ação criativas incluindo um clímax à beira do absurdo em um iate no Báltico. Além disso, a tentativa de transformar a inteligência em arma principal do herói é bem interessante, ainda que imperfeita, é um exemplo de renovação do gênero.
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