Crítica | Quebrando Regras
Quebrando Regras é um daqueles filmes que, mesmo com imperfeições técnicas e narrativas, conquista o espectador pela potência de sua história. Inspirado em fatos reais, o longa narra a jornada de Roya Mahboob, uma professora afegã visionária que ousa desafiar a estrutura patriarcal de sua sociedade ao fundar uma startup de tecnologia voltada à educação de meninas. Em um país onde ensinar ciência e tecnologia a mulheres é visto como um ato revolucionário, Roya forma o primeiro time de robótica composto apenas por garotas no Afeganistão e coloca seus nomes no cenário global.
A grande força do filme está justamente aí: em dar voz a uma história real de coragem e superação, sem se apoiar em clichês hollywoodianos ou estereótipos desgastados. Ao contrário do que geralmente se vê quando o cinema aborda o Afeganistão, Quebrando Regras opta por destacar o lado emocional, humano e resiliente de um povo que luta diariamente por dignidade e reconhecimento.
Contudo, nem tudo é perfeito. A montagem do filme, por vezes, opta por cortes abruptos e saltos temporais mal contextualizados, o que pode confundir o espectador e comprometer a fluidez da narrativa. O filme se dedica a contar a história de quatro meninas brilhantes, mas esbarra em uma abordagem superficial de suas trajetórias individuais. Ao longo de seus 120 minutos, o longa toca nas dores, sonhos e transformações dessas jovens, mas sem aprofundá-las como poderia. O resultado é um envolvimento emocional que funciona, mas permanece na superfície — com potencial para ser mais tocante caso houvesse mais tempo (ou vontade) de mergulhar na complexidade de cada personagem.
As atuações são simples, mas encantadoras. Existe uma sinceridade palpável em cena, que torna fácil simpatizar com os personagens e torcer por eles. Já o roteiro, apesar de alguns diálogos que poderiam ser mais bem trabalhados, cumpre bem seu papel de emocionar e inspirar, mantendo a essência da história viva e acessível.
Um ponto que merece reflexão é a escolha pelo idioma inglês, mesmo com o filme se passando majoritariamente no Afeganistão. A decisão claramente busca alcançar o público internacional, especialmente o norte-americano, mas acaba afastando um pouco o espectador da imersão cultural que a língua nativa poderia proporcionar.
Quebrando Regras pode não ser um filme perfeito — e nem precisa ser. Sua missão é maior: contar uma história necessária sobre igualdade, educação e resistência feminina. E nisso, ele acerta em cheio. É um filme que emociona, inspira e nos lembra que fazer o bem, mesmo diante de tantos obstáculos, é uma das formas mais nobres de deixar uma marca na história.
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