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crítica | A sogra perfeita 2


A Sogra Perfeita 2, dirigido por Cris D’Amato e Bianca Paranhos, é mais do que uma simples continuação de um sucesso popular. É um avanço notável dentro da própria fórmula que o primeiro filme estabeleceu. O longa consegue ir além da repetição de piadas e situações familiares para entregar um olhar mais amplo e refinado sobre temas como liberdade feminina, relações familiares e os conflitos entre tradição e modernidade, tudo isso embalado no formato da comédia nacional leve e super engraçada. 

Logo de início, o filme faz o que se espera de uma boa sequência, amplia seu universo sem perder o foco no carisma da protagonista. Cacau Protásio, no papel de Neide, continua sendo o motor da história. Sua presença domina a tela com uma energia cômica e vibrante, mas também com uma dose bem calibrada de vulnerabilidade que torna a personagem humana e identificável. Neide é exagerada, sim, mas nunca inverossímil. Ela representa tantas mulheres brasileiras que, após anos colocando os outros em primeiro lugar, tentam (e nem sempre conseguem) recuperar o direito de decidir por si mesmas.

A premissa central, o pedido de casamento inesperado e a chegada da sogra portuguesa conservadora (vivida por Fafy Siqueira), pode parecer simples, até mesmo batida. Mas o roteiro, assinado por Flávia Guimarães com colaboração de Bia Crespo, usa essa estrutura para tensionar algo maior, o embate entre o afeto libertador e o moralismo sufocante. E faz isso com um humor que sabe rir de si mesmo, sem apelar ao cinismo ou à crueldade.


Assim como no primeiro filme, o longa se ancora em elementos clássicos da comédia brasileira, vizinha fofoqueira, competição de salão de beleza, confusão com doces de casamento, e aquele estilo visual que é praticamente uma marca registrada da Globo Filmes, fotografia predominando a cor quente, trilha sonora leve e montagem dinâmica. Há, sim, um certo ar de "sessão da tarde" na estética e no tom, mas isso está longe de ser um problema. Na verdade, é parte da proposta de acessibilidade e identificação com o público.

O que diferencia A Sogra Perfeita 2 de muitas outras comédias é o reconhecimento da força do protagonismo feminino, não só na tela, mas também nos bastidores. Dirigido, escrito e estrelado majoritariamente por mulheres, o filme transpira sororidade, sem transformar isso em bandeira panfletária. As relações entre as personagens femininas, mesmo quando marcadas por conflito, têm sempre um fundo de empatia e crescimento mútuo.

Além de Protásio e Siqueira, o elenco de apoio brilha em momentos pontuais. Evelyn Castro, Maria Bopp e Marcelo Laham têm mais espaço para desenvolver seus personagens, o que dá ao filme uma riqueza de interações que faltava no original. A participação especial de Xande de Pilares também adiciona charme e apelo popular sem soar forçado.


Se há um ponto fraco, talvez seja o ritmo acelerado do terceiro ato, que resolve seus conflitos de forma apressada e um tanto previsível. A história se apressa para fechar os arcos narrativos e, com isso, perde a chance de explorar mais a fundo as transformações internas de Neide. Ainda assim, o saldo é positivo: o filme diverte, emociona e entrega exatamente o que promete, e até um pouco mais.

A Sogra Perfeita 2 não reinventa a comédia nacional, mas aperfeiçoa seus ingredientes com competência e afeto. É uma produção que entende seu público, valoriza suas personagens e, sobretudo, reconhece o poder do riso como ferramenta de afirmação e libertação.

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