Crítica | Invocação do Mal 4: O Último Ritual
A premissa inicial para o desfecho de Invocação do Mal tem força, Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) estão em semi aposentadoria, questionando sua relevância enquanto o mundo parece seguir adiante com “Caça-Fantasmas” e ceticismo pop. Enquanto isso, a filha do casal, Judy (Mia Tomlinson), começa a ser tragada pelo legado sombrio da família, assombrada não apenas por espíritos, mas pela possibilidade de que sua existência esteja enraizada em um pacto demoníaco.
No entanto, a construção dessa tensão é lentamente sabotada pela indecisão tonal
e narrativa. O roteiro, assinado por Ian B. Goldberg, Richard Naing e David Leslie
Johnson-McGoldrick, se divide entre o drama familiar dos Warren e a história da
família Smurl, que lida com um espelho amaldiçoado numa casa infestada por
entidades agressivas. O problema é que essas duas linhas narrativas correm
paralelas por boa parte do tempo, sem conexão direta, o que gera a sensação de
estarmos assistindo a dois filmes ao mesmo tempo e nenhum deles plenamente
desenvolvido.
Michael Chaves, que já havia conduzido outros filmes do universo (Invocação do Mal
3, A Freira II), mostra alguma evolução estética. Há momentos genuinamente
eficazes, como a cena do porão escuro ou o provador cercado de espelhos que
provam que ele entende a gramática do medo. A manipulação de sombras, reflexos
e ruídos ainda carrega tensão.
Mas, como em seus trabalhos anteriores, Chaves peca pelo exagero e pela
previsibilidade. Os sustos são bem previsíveis, os cortes são abruptos, e as
ameaças, por mais grotescas que sejam visualmente, carecem de impacto
emocional. Até mesmo a aguardada aparição de Annabelle, embora competente,
não passa de uma piscadela para os fãs, sem qualquer função narrativa relevante.
O que sustenta o Último Ritual, mesmo em seus momentos mais arrastados, é a
química inegável entre Patrick Wilson e Vera Farmiga. Mesmo quando o roteiro os
obriga a diálogos expositivos ou cenas melodramáticas (como o pingue-pongue ao
som de David Bowie), eles transmitem autenticidade. A dinâmica entre Ed e Lorraine
continua sendo o aspecto mais atraente da franquia, um retrato de amor, fé e
loucura compartilhada que, ao longo dos filmes, se tornou mais interessante do que
os próprios demônios que enfrentam.
Há um subtexto cristão em “Invocação do Mal 4: O Último Ritual” mais explícito do
que nunca e isso não é necessariamente um defeito. A franquia sempre tratou o
bem e o mal como forças tangíveis e o amor como escudo espiritual. O problema é
que aqui, essa fé é tão assertiva e imbatível que esvazia o conflito dramático. Em
nenhum momento sentimos que os Warren estão em perigo real, seja físico,
emocional ou espiritual.
O clímax, embora visualmente impactante, é resolvido de forma apressada e com
um sentimentalismo piegas que não condiz com a promessa de uma conclusão
grandiosa. A ideia de que este seria o “último caso” dos Warren e que algo os
forçaria a parar não encontra ressonância nos acontecimentos. Ao contrário, tudo
termina com mais um exorcismo vencido e mais uma lição de vida aprendida.
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