Crítica | Grande Sertão
"Grande Sertão", dirigido por Guel Arraes, é uma adaptação audaciosa e inovadora do clássico romance "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa. Transportando a narrativa do sertão para a periferia urbana, o filme mergulha o espectador em um mundo distópico, onde a violência e a guerra são constantes, e as linhas entre o bem e o mal se tornam cada vez mais tênues.
O filme acompanha a trajetória de Riobaldo (Caio Blat), um jovem que se envolve com uma facção criminosa em um esforço para seguir Diadorim (Luisa Arraes), cuja identidade e a paixão que desperta nele são fontes de conflitos internos e dilemas existenciais. A história se desenrola em meio a uma intensa disputa entre policiais e bandidos, refletindo a realidade brutal das comunidades controladas pelo crime.
Caio Blat oferece uma das melhores performances de sua carreira, trazendo à vida um Riobaldo complexamente humano, dividido entre o amor e a moralidade. Sua interpretação é intensa e cativante, mantendo o público envolvido em sua jornada tumultuada. Luisa Arraes, como Diadorim, também entrega uma atuação poderosa, cheia de nuances, que intensifica o mistério e a profundidade emocional do personagem. Rodrigo Lombardi e Eduardo Sterblitch completam o elenco com performances igualmente marcantes, contribuindo para a construção de um universo realista e brutal. Cada personagem é cuidadosamente delineado, refletindo as muitas faces da violência e da sobrevivência em um ambiente hostil.
A direção de Guel Arraes é um dos grandes trunfos do filme. Arraes consegue prender a atenção do público do início ao fim, com uma narrativa bem construída que equilibra ação, drama e introspecção. A estética do filme é impressionante, criando uma versão futurista e distópica das comunidades brasileiras. A fotografia é excepcional, com cenas que capturam tanto a beleza quanto a brutalidade do ambiente urbano.
"Grande Sertão" não é apenas uma adaptação de um clássico literário; é uma releitura que dialoga com os dilemas éticos e morais contemporâneos. A transposição do universo dos jagunços do sertão para o mundo das organizações criminosas urbanas traz uma nova camada de relevância à narrativa, explorando questões de poder, violência e sobrevivência em um contexto atual. A paixão de Riobaldo por Diadorim e sua luta interna entre o amor e a moralidade refletem dilemas universais, tornando o filme acessível e significativo para uma ampla audiência. Além disso, a intensa disputa entre policiais e bandidos retratada no filme evoca comparações inevitáveis com "Tropa de Elite", sugerindo que "Grande Sertão" tem o potencial de se tornar um marco no cinema nacional.
"Grande Sertão" é uma obra de arte cinematográfica que desafia convenções e oferece uma experiência emocionalmente intensa e intelectualmente estimulante. Com atuações magnéticas, uma direção brilhante e uma estética visualmente deslumbrante, o filme é uma releitura poderosa de um clássico da literatura brasileira, adaptado de forma a ressoar profundamente com as realidades contemporâneas. É um filme que promete deixar uma marca duradoura no público e no panorama do cinema nacional.
Nota: 5.0/5.0
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