CRÍTICA | CABRINI
Cabrini, dirigido por Alejandro Monteverde (de o Som da Liberdade), é uma biografia da freira italiana Francesca Saverio Cabrini, mais conhecida como Madre Cabrini, que em sua vida dedicou-se a ajudar imigrantes italianos em Nova York no final do século XIX. A obra tenta capturar sua determinação heroica e os desafios enfrentados em sua missão de construir orfanatos e hospitais para os pobres. No entanto, o filme é sobrecarregado por sua abordagem reverencial, que compromete a complexidade e o impacto emocional da narrativa.
Cristiana Dell'Anna interpreta Cabrini com intensidade e seriedade, transmitindo sua devoção e perseverança. Seu desempenho evita o melodrama exagerado frequentemente encontrado em filmes de temática religiosa, mas é prejudicado por diálogos excessivamente simplistas e repetitivos. A personagem é retratada como quase perfeita, deixando pouco espaço para nuances ou questionamentos. Esse retrato unilateral resulta em uma falta de profundidade que enfraquece a conexão emocional do público com Cabrini como pessoa.
O roteiro, assinado por Monteverde e Rod Barr, segue uma estrutura que alterna entre os esforços de Cabrini para enfrentar a burocracia clerical e as condições opressivas em Five Points, um bairro notoriamente violento de Nova York. Embora essas lutas sejam importantes para entender sua missão, a repetição de cenas onde Cabrini desafia líderes religiosos e políticos reduz o impacto narrativo. A trama se torna monótona, carecendo de variação ou surpresas. O foco excessivo em confrontos burocráticos também diminui o tempo dedicado a explorar suas interações com as crianças e freiras sob seus cuidados.
O design de produção e a cinematografia de Gorka Gómez Andreu conseguem criar uma atmosfera convincente da Nova York do século XIX, com detalhes que destacam a opressiva pobreza e a xenofobia enfrentada pelos imigrantes italianos. No entanto, a insistência em iluminações angelicais exageradas em praticamente todas as cenas interiores transmite uma artificialidade que destoa do realismo necessário para um drama histórico. Essa escolha visual tenta reforçar a santidade de Cabrini, mas acaba prejudicando a autenticidade do filme.
Apesar de seu potencial para explorar questões sociais e religiosas pertinentes, "Cabrini" opta por uma abordagem convencional e segura. A história de uma mulher que desafiou as normas de sua época para realizar grandes feitos poderia ter oferecido um retrato mais humano e multifacetado, mas o filme se contenta em exaltar Cabrini como uma figura impecável e exemplar, sem reconhecer as contradições ou complexidades que tornam as histórias humanas mais impactantes.
Embora Alejandro Monteverde tenha criado um drama tecnicamente competente, o filme carece de uma narrativa instigante ou emocionalmente rica. Personagens secundários, como as jovens freiras que acompanham Cabrini, são quase invisíveis em termos de desenvolvimento, enquanto figuras como Vittoria, uma prostituta em redenção, são tratadas mais como dispositivos narrativos do que como personagens plenamente formadas. As crianças do orfanato, que deveriam ser o coração da história, aparecem apenas superficialmente, com apenas uma recebendo nome e um breve arco.
Cabrini é um filme que deixa a desejar tanto em termos de profundidade emocional quanto de inovação narrativa. Para aqueles que buscam uma representação inspiradora e direta da vida de Madre Cabrini, ele oferece uma experiência acessível e sem grandes riscos. No entanto, para espectadores que esperam uma exploração mais profunda e questionadora das lutas e dilemas enfrentados por essa figura histórica que são de extrema importância, o filme pode parecer mais uma oportunidade perdida do que uma celebração significativa.
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