Crítica | Perrengue Fashion
Perrengue Fashion, novo longa estrelado por Ingrid Guimarães, chega aos cinemas com a promessa de unir humor, crítica social e um olhar contemporâneo sobre influenciadores digitais e sustentabilidade. O filme, que marca a primeira produção brasileira da Amazon MGM Studios, inicialmente pensado para o streaming, ganha lançamento nas telonas após o sucesso de outras produções nacionais recentes. O resultado é uma comédia leve, com boas atuações e um apelo popular inegável, embora o enredo careça de maior consistência dramática.
A trama acompanha Paula Pratta (Ingrid Guimarães), uma influenciadora de moda que sonha em consolidar sua carreira com uma grande campanha publicitária. A chance surge quando a Gucci a convida para uma ação de Dia das Mães, mas com uma condição: a participação de seu filho Cadu (Filipe Bragança). O problema é que o jovem abandonou a vida acadêmica nos Estados Unidos para viver em uma ecovila na Amazônia, dedicado ao ativismo ambiental. O choque entre a mãe focada no mundo das aparências digitais e o filho engajado em causas ambientais gera o conflito central do filme.
Se o atrito entre Paula e Cadu parece pouco robusto para sustentar a narrativa, Ingrid Guimarães consegue imprimir carisma à personagem, transformando situações banais em momentos de graça genuína. A atriz, que se consolidou como um dos grandes nomes da comédia nacional, não depende de exageros ou caricaturas e encontra espaço para que seu talento apareça sem vaidade. Ao seu lado, Rafa Chalub estreia no cinema de forma surpreendente como Taylor, o dedicado assistente que funciona como alívio cômico e contraponto ao drama familiar. A sintonia entre os dois sustenta o filme, mesmo quando o roteiro tropeça em soluções simplistas.
O roteiro evita cair no humor grosseiro ou em estereótipos ofensivos, preferindo uma abordagem mais respeitosa, mesmo ao lidar com influenciadores, ambientalistas e povos indígenas. Há situações engraçadas que exploram choques culturais sem cair na ridicularização, como quando Paula expressa de forma direta seu desagrado pela culinária local ou quando Taylor arrisca uma cantada inesperada no cacique da aldeia. Essas escolhas distinguem Perrengue Fashion de outras comédias nacionais que ainda apostam em piadas vulgares.
Apesar do potencial temático, o filme opta por não se aprofundar em questões mais complexas. O ativismo de Cadu aparece como pano de fundo, e o arco de transformação de Paula se dá de maneira previsível, marcada por pequenas epifanias ao longo da jornada. Até mesmo o momento em que um ritual indígena poderia revelar um trauma de infância da protagonista é tratado de forma superficial, sem mergulhar nas camadas psicológicas que poderiam enriquecer a narrativa.
Na direção, Flávia Lacerda demonstra segurança em seu primeiro trabalho solo, conduzindo a história com ritmo leve e privilegiando o humor. A cineasta sabe explorar as locações da Amazônia, ainda que abuse das montagens rápidas e colagens de planos para dinamizar a trama. O filme também ganha pontos por sua boa produção, reforçando o investimento em conteúdos nacionais com potencial de mercado.
Perrengue Fashion funciona sobretudo como um veículo para o talento de Ingrid Guimarães, que mais uma vez comprova seu domínio da comédia popular. Embora não ofereça grandes surpresas ou profundidade dramática, o longa diverte, apresenta boas atuações e se destaca por abordar de forma bem-humorada temas atuais como redes sociais e consciência ambiental. O público que busca uma comédia leve, despretensiosa e bem produzida encontrará aqui um entretenimento seguro, capaz de gerar boas risadas e, de quebra, provocar pequenas reflexões sobre valores familiares e prioridades pessoais.
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