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Crítica | Tron Ares


Mais de uma década após Tron: O Legado, a franquia retorna em Tron: Ares tentando atualizar sua proposta para a era da Inteligência Artificial. Dirigido por Joachim Rønning, o longa traz Jared Leto como Ares, um programa digital que é transportado ao mundo real em uma missão que coloca à prova sua própria lógica e identidade. A premissa, embora promissora, revela-se um reflexo direto das tensões do cinema contemporâneo: a tentativa de equilibrar nostalgia, tecnologia de ponta e relevância temática acaba gerando um resultado irregular.

Desde o início, o filme demonstra preocupação em conectar-se com os avanços tecnológicos e as discussões atuais sobre IA, mas faz isso de maneira superficial. A narrativa até insinua questionamentos sobre consciência, livre-arbítrio e os limites da humanidade diante das máquinas, contudo, essas ideias são rapidamente substituídas por conflitos emocionais previsíveis e dramas familiares artificiais. O roteiro prefere caminhar em terreno seguro, reproduzindo fórmulas já exploradas por outras obras do gênero, sem oferecer uma nova interpretação ou um ponto de vista autoral.


Jared Leto entrega uma atuação fria, quase apática, que não favorece o arco emocional de Ares. A construção do personagem, que poderia explorar dilemas existenciais ou morais de forma mais profunda, se perde em gestos mecânicos e falas carregadas de obviedade. Em contrapartida, Greta Lee se destaca ao trazer nuances e humanidade para suas cenas, equilibrando o peso dramático com sutileza. Evan Peters, embora subaproveitado, injeta energia quando o filme mais precisa de dinamismo.

Visualmente, Tron: Ares mantém o padrão estético da franquia, com uma direção de arte impressionante e uma fotografia que brinca com contrastes entre o real e o digital. As sequências de ação são o ponto alto, fluidas, bem coreografadas e impulsionadas por uma trilha sonora envolvente que mantém viva a tradição sonora da série. Assistido em IMAX, o filme ganha impacto e amplitude, tornando-se uma experiência sensorial potente.


Ainda assim, o que poderia ser uma exploração instigante sobre o papel da tecnologia na construção da identidade humana se transforma em um espetáculo visual mais preocupado em repetir do que em reinventar. Ares surge como uma metáfora desperdiçada, um ser artificial que busca propósito em um roteiro igualmente automatizado.

Tron: Ares é, em essência, um produto de sua época: tecnicamente deslumbrante, mas emocionalmente vazio. Funciona como entretenimento e entrega o que o público da franquia espera: luzes, ritmo e nostalgia, mas carece de ousadia para propor algo realmente novo. É um retorno vistoso, porém sem alma, que confirma tanto a força estética da marca Tron quanto os limites criativos do blockbuster contemporâneo.

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