CRÍTICA | MEDIDA PROVISÓRIA
Já parou pra pensar no Brasil do futuro? Do jeito que as coisas andam, criar fantasias distópicas não é uma tarefa difícil, afinal andamos em tempos esquisitos e varias vezes ouvimos no jornal as palavras ”O Novo Projeto De Lei…” ou “A Medida Provisória…” vem ai para ferrar a vida do Brasileiro, Negro e Pobre. E é nessa pegada que Lazaro Ramos arrebenta na sua estreia como diretor de cinema, dando vida a algo que nem podemos chamar de surreal, já que se bobear a medida provisória 1888, entra em vigor.
Em um futuro distópico, o governo brasileiro decreta uma medida provisória, em uma iniciativa de reparação pelo passado escravocrata, provocando uma reação no Congresso Nacional, que aprova uma medida que obriga os cidadãos negros a migrarem para a África na intenção de retornar a suas origens. Sua aprovação afeta diretamente a vida do casal formado pela médica Capitú (Taís Araújo) e pelo advogado Antonio (Alfred Enoch), bem como a de seu primo, o jornalista André (Seu Jorge), que mora com eles no mesmo apartamento. Nesse apartamento, os personagens debatem questões sociais e raciais, além de compartilharem anseios que envolvem a mudança de país. Vendo-se no centro do terror e separados por força das circunstâncias, o casal não sabe se conseguirá se reencontrar. O longa é uma adaptação de "Namíbia, Não!", peça de Aldri Anunciação que o diretor e ator Lázaro Ramos dirigiu para o teatro em 2011.
Misturando no tom certo, bom humor e critica social, o longa se destaca em vários pontos, o primeiro deles é o roteiro bem escrito que consegue te introduzir em um brasil distópico com bons e importantes diálogos, logo nos primeiros minutos você está completamente imerso no contexto do filme e palavras como “Melanina Acentuada”, “Afro Bunker” e “Ministério da Devolução” são apresentadas e fazem mais sentindo do que nunca.
Dando vida ao filme temos Lazaro Ramos se entregando de corpo e alma na direção de um elenco que visivelmente jogou ao seu lado. Seu Jorge abrilhanta o drama com seu bom humor cheio de sarcasmo, e por mais absurdo e pesado que o roteiro seja, seu personagem André garante vários sorrisos ao longo do filme. Taís Araújo faz o contra ponto e entrega uma Capitú mais séria e que visivelmente sofreu bastante por racismo ao longo da vida. Mesclando o drama e o bom humor temos Alfred Enoch se destacando e mostrando que pode e deve ser mais visto em filmes nacionais.
Se os protagonistas se destacam, os antagonistas também não deixam a desejar, Adriana Esteves e Renata Sorrah conseguem passar toda a áurea ruim que um antagonista precisa, em segundo o ranço das personagens é instaurado e assim permanecem do inicio ao fim.
Medida Provisória entrelaça a linha tênue entre a realidade e o absurdo, merece ser visto no cinema, é um dos melhores filmes nacionais que você verá em décadas.
Nota 5.0/5.0
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