Header Ads

CRÍTICA | PEDÁGIO


"Pedágio", dirigido por Carolina Markowicz, é uma obra cinematográfica intensa que mergulha nas complexidades de uma vida humilde e desafiadora, permeada pelo preconceito e pela aceitação forçada de uma absurda oferta de "cura gay". O filme não apenas desafia as normas sociais, mas também oferece uma narrativa envolvente que exige a atenção do espectador, proporcionando reflexões profundas em cada cena.

A trama gira em torno de Suellen, uma trabalhadora incansável como cobradora de pedágio em Cubatão, São Paulo, e seu filho Tiquinho, um jovem apaixonado por vídeos e imitações de divas da música. A reviravolta na vida de Suellen ocorre quando ela se depara com a oportunidade de financiar a ida de seu filho à controversa "cura gay" ministrada por um pastor estrangeiro. O preço exorbitante dessa suposta cura coloca Suellen em uma situação difícil, levando-a a envolver-se em atividades ilegais para arrecadar fundos.

A diretora Carolina Markowicz, conhecida por sua habilidade em contar histórias visuais, entrega um filme desafiador que aborda questões profundas. A alienação de uma mãe diante da oferta absurda de uma "cura gay" torna-se o ponto focal da narrativa. O roteiro brilhante destaca a relação tumultuada entre Suellen e seu filho Tiquinho, revelando as lutas enfrentadas por este último devido à sua orientação sexual e suas expressões artísticas.


A escolha de Suellen em permanecer em um relacionamento abusivo, descobrindo as atividades criminosas de seu namorado Arauto, adiciona camadas de complexidade à trama. A participação dela em ações inconsequentes, como informar sobre possíveis vítimas para roubos, cria uma espiral de eventos que culmina em uma reviravolta surpreendente.

A fotografia do filme oferece uma representação visual impressionante da realidade enfrentada pelos personagens, destacando a alienação, a opressão e a luta pela aceitação. O elenco, liderado por Maeve Jinkings como Suellen e Kauan Alvarenga como Tiquinho, entrega performances emocionalmente carregadas que dão vida aos personagens complexos e que com certeza vão impactar o público.

Com uma abordagem sensível e precisa de Markowicz expõe as verdades difíceis de uma sociedade que, por vezes, escolhe caminhos difíceis em busca de sentido para as normas impostas. A narrativa destaca a opressão enfrentada pela comunidade LGBTQIA+, especialmente quando influenciada por ideologias religiosas agressivas. O filme ressoa como uma representação angustiante de como a ignorância e a intolerância podem destruir vidas e famílias, especialmente em um ambiente onde a própria mãe renega o filho por sua autenticidade.

"Pedágio" é mais do que um filme, é um chamado à reflexão sobre a importância da aceitação, compreensão e respeito pelas diversas identidades presentes em nossa sociedade. Uma obra corajosa que confronta as incoerências e atrocidades perpetradas por alguns setores da sociedade, deixando uma marca duradoura na mente do espectador. Este é, sem dúvida, um dos filmes mais impactantes e relevantes do ano, oferecendo uma visão crua e necessária da jornada para a vida adulta em meio a adversidades inimagináveis.

Nota: 5.0/5.0

Nenhum comentário