Crítica | Pobres Criaturas
Pobres Criaturas, o mais recente filme do renomado diretor grego Yorgos Lanthimos, é uma obra que transcende as expectativas do espectador ao apresentar uma mistura única de romance, ficção científica e peculiaridade visual. Diferentemente de suas produções anteriores, como a enigmática "A Favorita", Lanthimos adota uma abordagem mais terna e acessível, mantendo, no entanto, sua marca registrada de excentricidade.
A narrativa, baseada no romance homônimo de Alasdair Gray, transporta o público para a Era Vitoriana, onde a protagonista Bella Baxter, interpretada brilhantemente por Emma Stone, é trazida de volta à vida através de um experimento conduzido pelo cientista Dr. Godwin Baxter, interpretado por Willem Dafoe. A premissa é ousada, referenciando o clássico Frankenstein, mas Lanthimos consegue dar um toque original e encantador à história.
O filme é uma celebração da estranheza, repleto de visuais distintos, desde os amplos ângulos de filmagem até detalhes inusitados, como um buldogue com cabeça de pato, brincando em uma grande sala de estar. A paleta de cores supersaturadas, especialmente após a rebelião de Bella e sua jornada pelo continente, destaca a transição da vida monótona em preto e branco para a exploração vibrante da liberdade.
O destaque indiscutível é a performance excepcional de Emma Stone como Bella Baxter. A atriz entrega um dos melhores desempenhos de sua carreira, capturando magistralmente a dualidade de sua personagem, uma mulher com o cérebro de uma criança. O toque de tremor de Frankenstein em seu andar revela a maestria de Stone ao retratar a essência complexa de Bella.
A trama, centrada na jornada de Bella pelo mundo, ganha profundidade através de personagens secundários cativantes, como o libertino Duncan Wedderburn, interpretado por Mark Ruffalo. A história se desenrola como uma alegoria da feminilidade vitoriana infantilizada, à medida que Bella assume o controle de seu destino, corpo e mente.
Apesar do encanto constante, o ato final, que explora a vida anterior de Bella, pode parecer excessivo para alguns espectadores, diminuindo um pouco o impacto emocional. No entanto, essa ressalva não diminui a alegria visual e emocional que permeia o filme, com Bella navegando pelo seu mundo peculiar de maneira encantadora.
Os créditos finais, com suas belas pinturas imersas na arte francesa, contribuem para a atmosfera única do filme. A habilidade de retratar locais como Lisboa e Paris, mesmo com um toque de surrealismo, adiciona uma camada de autenticidade a beleza que vemos aqui.
A fotografia impecável e a trilha sonora perfeitamente cronometrada complementam o conjunto, criando uma verdadeira obra de arte. Pobres Criaturas é uma experiência única, uma jornada encantadora através da mente radiante de Bella Baxter, que adiciona um toque especial ao repertório do talentoso Yorgos Lanthimos.
Nota: 5.0/5.0
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