CRÍTICA | INFESTAÇÃO
Infestação é um filme de terror dirigido por Sébastien Vanicek, que combina aracnofobia com uma leve crítica social, ambientado em um conjunto habitacional na periferia de Paris. A trama acompanha Kaleb (Théo Christine), um jovem colecionador de animais exóticos que, ao adquirir uma aranha venenosa em um bazar, vê sua vida e a de seus vizinhos se transformar em um pesadelo quando o animal escapa e começa a se reproduzir rapidamente. A partir daí, o prédio em ruínas onde vive se torna uma armadilha mortal, forçando os moradores a lutar por suas vidas enquanto a polícia isola a área.
A premissa é simples, mas eficaz: uma infestação de aranhas transforma o local em um cenário de horror. O filme utiliza o medo primitivo que muitos têm de aranhas para criar tensão crescente, e a direção de Vanicek consegue intensificar esse sentimento de pavor ao longo da narrativa. O uso de aranhas monstruosas e a referência a clássicos como Aracnofobia (1990) e Eight Legged Freaks (2002) são evidentes, mas Infestação busca adicionar um toque de realismo urbano, ao situar seus personagens em um contexto de marginalização social.
No entanto, um dos pontos fracos do filme é a superficialidade com que trata o desenvolvimento dos personagens e a crítica social que tenta abordar. Kaleb, por exemplo, está em conflito com sua irmã Manon (Lisa Nykaro) por questões de herança, mas essa trama não é explorada com profundidade. As tensões entre os moradores e as autoridades, representadas pela personagem Lila (Sofia Lesaffre), uma ex-amiga de Kaleb que agora trabalha como policial, são apenas insinuadas, sem se aprofundar nas críticas sociais sobre a desconfiança em relação às instituições públicas.
O roteiro, escrito por Vanicek e Florent Bernard, peca por não equilibrar adequadamente o desenvolvimento dos personagens e a ação de sobrevivência. As interações entre os personagens muitas vezes parecem forçadas e sem impacto emocional. Isso enfraquece o envolvimento do público com suas lutas para sobreviver à infestação de aranhas. Além disso, o filme parece hesitar entre se entregar completamente ao terror ou abordar mais diretamente as críticas sociais que esboça, o que resulta em uma narrativa inconsistente.
Visualmente, o filme é bem executado. A direção de fotografia de Alexandre Jamin cria uma atmosfera claustrofóbica e de pavor crescente, utilizando ângulos dinâmicos que capturam bem o horror da situação. As aranhas, em sua maioria criadas por CGI, são assustadoras o suficiente para incomodar até os mais aracnofóbicos, mas o uso irregular de efeitos digitais em algumas cenas pode quebrar a imersão do espectador.
Apesar dessas falhas, Infestação consegue entregar momentos de tensão e ação bem coreografados. As sequências de sobrevivência são intensas, e o sentimento de claustrofobia e impotência é palpável. No entanto, o filme perde força em sua segunda metade, quando a narrativa se torna uma simples corrida para sobreviver, deixando de lado os elementos mais promissores apresentados no início.
O final, ambíguo e sem respostas claras, pode deixar o público com uma sensação de frustração, sugerindo que o filme estava mais preocupado em abrir portas para uma possível continuação do que em fechar sua própria narrativa de maneira satisfatória.
Infestação é um filme que entrega o básico em termos de terror de monstros e aracnofobia, mas falha em se destacar como algo mais profundo. Enquanto oferece momentos de tensão genuína e algumas cenas de ação bem construídas, sua falta de desenvolvimento de personagens e a tentativa frustrada de balancear o terror com críticas sociais resultam em um filme que diverte, mas dificilmente será lembrado no gênero.
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