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CRÍTICA | Jurassic World: Recomeço


Depois de sete filmes, incontáveis dinossauros digitais e mais tentativas de reboot do que podemos contar nos dedos de um velociraptor, Jurassic World: Recomeço surge prometendo exatamente aquilo que seu título sugere, um novo começo. O problema é que, ao final dos seus 125 minutos, o que temos é um elegante e caro déjà vu, embalado com mais do mesmo, mas sem a alma que tornou o original de 1993 inesquecível.

Gareth Edwards, diretor com talento já comprovado pelo feito em Godzilla e Rogue One, entrega aqui um trabalho competente do ponto de vista visual. O uso de locações reais, película e efeitos práticos (misturados com CGI) conferem a Jurassic World: Recomeço um tom mais sombrio e tangível do que os três filmes anteriores da saga. Há um esforço visível em voltar à tensão mais contida e ao senso de perigo real do parque jurássico original e em parte, isso funciona. Sequências como a da loja de conveniência abandonada ou o ataque marítimo com o Mosassauro evocam um suspense de filme B que Edwards parece saber manejar bem. Mas isso só nos leva a desejar que o filme tivesse coragem de abraçar inteiramente essa pegada mais modesta e centrada.


O elenco é estelar e subutilizado. Scarlett Johansson, como a durona Zora Bennett, é uma presença importante, ainda que sua aparência imaculada (mesmo em meio à lama e garras de raptores) reduza um pouco a credibilidade da personagem. Mahershala Ali, como o estoico Duncan Kincaid, injeta camadas emocionais em um papel que facilmente poderia ser genérico. Jonathan Bailey, de suéter e jargão paleontológico, faz o melhor possível com um personagem que parece mais uma homenagem a Alan Grant do que um novo protagonista com identidade própria. Porém o roteiro, infelizmente, não ajuda.

E é aqui que o filme tropeça feio. David Koepp, roteirista do clássico de 1993, retorna, mas parece ter se perdido na própria selva. O texto é inchado, com personagens demais (a família Delgado, por exemplo, é simpática mas absolutamente dispensável) e cenas explicativas que soam mais como recapitulações do universo Jurassic World do que desenvolvimento real de enredo ou personagem. Ao tentar equilibrar a trama da equipe de mercenários contratada pela Big Pharma com a odisseia acidental da família náufraga, o filme quebra seu ritmo e fragmenta a atenção do espectador dividindo a história.

Há também uma sensação de artificialidade emocional. Uma cena que deveria evocar o impacto do famoso encontro com o braquiossauro em Jurassic Park, um momento de pura maravilha e conexão dos personagens com a criatura, aqui é mostrada com um plano aéreo grandioso, porém impessoal. A emoção não vem dos olhos de ninguém. É o tipo de detalhe que revela uma falha central de Jurassic World: Recomeço, a incapacidade de conectar o espectador à experiência dos personagens.


Quanto aos dinossauros, a grande atração, o saldo é misto. A nova criatura híbrida, Distortus Rex que lembra mais um Alien, surge como promessa de ameaça e novidade, mas sua presença flutua entre o genuinamente assustador e o incoerente (parece mudar de tamanho conforme a cena exige). Ainda assim, há boas ideias, um Aquilops dócil e carismático chamado Dolores serve como contraponto emocional, quase uma releitura do velho "cão fiel", e introduz um debate surpreendente sobre o direito à existência dessas criaturas.

A trilha de Alexandre Desplat, que flerta com o tema original de John Williams mas o distorce em direção ao suspense, acompanha bem esse tom mais sombrio, embora a nostalgia sinta falta da grandiosidade melódica da trilogia original.

No final, Jurassic World: Recomeço é um filme dividido. Ele quer ser uma reinvenção e uma homenagem. Quer criticar o capitalismo predatório, mas não resiste a vender um balde de pipoca em forma de T-Rex. Quer retomar a tensão do original, mas se apega demais à estrutura previsível da franquia. Como um filme de férias, é competente. Como reinício de franquia, é morno. Como sucessor de Jurassic Park, falha em capturar o elemento mais raro de todos, o assombro vindo de uma espécie monumental.

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