CRÍTICA | SUPERMAN
James Gunn, conhecido por revitalizar personagens de segunda linha na Marvel com Guardiões da Galáxia, agora tenta reanimar aquele que deveria ser o mais incontestável dos super-heróis, o grande Superman. Com seu reboot, o primeiro filme do novo Universo DC sob sua supervisão criativa, Gunn acerta em algumas escolhas, mas tropeça justamente onde o personagem mais precisava de firmeza, propósito narrativo e clareza de identidade.
O novo Superman vive na incômoda intersecção entre o cansaço da fórmula dos blockbusters e a artificialidade de um roteiro que, apesar de bem-intencionado, frequentemente se esconde sob camadas de efeitos visuais, intertítulos explicativos e ambições maiores que seu escopo emocional permite sustentar. O filme abre com uma tentativa ousada de pular os aspectos mais conhecidos da mitologia do herói Krypton e o Planeta Diário, optando por um salto direto em uma crise geopolítica envolvendo dois países fictícios, Boravia e Jarhanpur, evidentemente análogos a Rússia e Ucrânia. No entanto, a superficialidade com que esses conflitos são tratados denuncia uma tentativa frustrada de comentar o mundo real sem a coragem de encará-lo de frente.
David Corenswet assume o papel do Homem de Aço com a entrega de quem carrega não só o peso do mundo, mas o de décadas de interpretações melhores. Sua atuação é básica, por vezes até tocante, especialmente em momentos de vulnerabilidade emocional, mas carece do carisma desarmante de Christopher Reeve ou da presença estoica de Henry Cavill. Sua química com Lois Lane (Rachel Brosnahan) é eficaz, embora Brosnahan frequentemente deslize para um registro cômico excessivamente referencial, como se Monica Geller tivesse conseguido um emprego no Planeta Diário.
Lex Luthor, interpretado com uma mistura de cinismo tecnológico e fascismo corporativo por Nicholas Hoult, emerge como um vilão contemporâneo, moldado à imagem de CEOs amorais e megalomaníacos. Embora suas motivações sejam pertinentes, sua execução narrativa se dispersa em subtramas e discursos que raramente encontram ressonância dramática. O mesmo pode ser dito da introdução da "Gangue da Justiça" um grupo de meta-humanos liderado por um Lanterna Verde cartunesco interpretado por Nathan Fillion, que injeta energia e humor, mas dilui a centralidade do Superman em seu próprio filme.
Gunn tenta equilibrar reverência e reinvenção, buscando inspiração na Era de Prata dos quadrinhos e em blockbusters setentistas como o Superman de Richard Donner. E quando acerta, acerta bonito, há cenas que trazem o maravilhamento dos quadrinhos clássicos, como o confronto com um kaiju em Metrópolis ou a interação com o Supercão Krypto. Gunn tem o mérito de tentar resgatar o encantamento de um gênero saturado, tratando o Superman com a solenidade pop que o personagem merece, um ser superpoderoso com um coração fundamentalmente humano.
No entanto, esse esforço é minado por uma estrutura narrativa inchada e expositiva, que avança aos trancos entre batalhas digitais repetitivas, dilemas éticos mal desenvolvidos e um emaranhado de personagens secundários que competem pelo tempo de tela. O CGI, como de praxe, reina soberano e muitas vezes sufoca qualquer autenticidade. O clímax se perde em mais um colapso de prédios e raios de energia coloridos, padrão que se tornou mais uma convenção preguiçosa do que uma exigência épica.
Apesar de tudo, Superman de Gunn não é um ruim, apenas traz algumas falhas. Um sintoma de uma Hollywood que, mesmo com todos os recursos, ainda luta para justificar a existência de seus reboots além do branding. O filme é divertido, exuberante em sua estética e ambicioso em seus temas. Mas, assim como seu protagonista após mais uma luta intergaláctica, ele emerge combalido, com a capa rasgada e um olhar que pergunta: "Era isso que queriam de mim?
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