Crítica | X-Men : Fênix Negra
Precisamos falar sobre Fênix Negra, falar sério diga-se de passagem. Então se você espera “hate” gratuito ou uma resenha rala de um parágrafo ou dois, com palavras esdrúxulas em um roteiro ensaiado sobre o filme “alvo de críticas” do momento, não vou poder nutrir sua satisfação. Senta que lá vem “textão”.
A internet abre espaço de fala para todos, sejam eles convidados a opinar ou não (e eu não me ausento de culpa nesse segundo grupo). Neste espaço por exemplo (o Nerdeza), eu sou convidado a dar a palavra inicial, e o público de soltar o verbo nos comentários (sobre o assunto em questão, é bom lembrar). Porém é imperceptível se parar para pensar que a um bom tempo, grandes sites sobre entretenimento ditam regras e as pessoas acompanham em uma enxurrada de repetições que não parecem sinceras, por um simples fato: a falta de argumento.
Então, a partir desse ponto convido a você leitor, argumentar junto, de maneira sincera, após assistir ao filme, e depois de ter lido minha crítica. Sendo ela a mais sincera possível em cima das minhas próprias percepções e sentimentos.
MUTANTES EM CRISE
X-Men: Fênix Negra, do original “Dark Phoenix”, já deixa claro no título sobre em quem o foco da história estará. Dez anos após seu antecessor, o filme mostra uma década de 90, onde os mutantes são bem aceitos pela sociedade, num molde “Quarteto Fantástico”: “enquanto vocês bancam os super-heróis e nos salvam de todas as encrencas que nos metemos, vocês são bem vindos entre nós”. E é aí que Raven (Jennifer Lawrence, já nem mais chamada de Mística), confronta um Professor Xavier (James McAvoy) egocêntrico que se esqueceu de seus princípios e usa seus alunos como peças em uma aceitação maquiada vinda dos humanos comuns. É quando um acidente espacial acontece, que os então heróis, partem para um resgate sem muito planejamento e com dúvidas de seu sucesso. Na evento, Jean Grey (Sophie Turner) é atingida por uma força cósmica e a partir daí começa a ser levada por ela; entre puro desejo e ódio, segredos do passado e o peso de uma morte, onde o sangue derramado está nas mãos de mais de uma pessoa, irão separar o que uma vez era uma família. Em meio disso seres de outro mundo estão atrás deste poder.
Amigo ou Inimigo? Os X-Men se preparam para enfrentar a própria família |
A CULPA É DO PILOTO...
Estabelecido o que iria acontecer neste filme, desde a derrota de Apocalipse no anterior, a ansiedade ficava por saber como seria essa nova adaptação. “A Saga da Fênix Negra”, já havia sido mostrada em 2006, da forma mais insossa possível em “X-Men: O Confronto Final”. Convenhamos que adaptar uma “saga” em apenas um filme é trabalho duro, estabelecer e concluir a história de um dos personagens mais marcantes dos quadrinhos, não deveria ser feito assim. Mas isso é cinema, isso é hollywood, isso é business meu caro, e assim será feito queira você ou não.
Quem tomou as rédeas foi Simon Kinberg, e é aí que talvez more o maior problema. Entregar a conclusão de uma série de filmes que perdura a quase 20 anos, na mão de um roterista/produtor, inexperiente em direção (esse é seu primeiro longa metragem), é dar um tiro no pé. Ele já havia escrito a frustrante adaptação anterior da história em 2006, o que ele poderia fazer de diferente dessa vez? Anos de experiência como roteirista e produtor dos filmes dos mutantes? O.K, ele teve seus altos e baixos com super heróis nas telas de cinema, mas nunca espere muito de um produtor, é ele que faz a ponte entre e a parte criativa e o dinheiro do estúdio, e vimos o que acontece claramente no final regravado e destoante de “Quarteto Fantástico” em 2015. A mesma história se repete aqui; o filme está sendo produzido desde 2017, e sofreu com mais de um adiamento. A preocupação era óbvia, mas de qualquer maneira, precisávamos assistir antes para julgar depois.
Nem de longe “X-Men: Fênix Negra” pode carregar adjetivos como “lixo”, ou “pior filme dos mutantes”, nas costas. Ao meu ver, a história é boa, existem cenas ótimas, e o resultado é o esperado para qualquer pessoa que sabe juntar “2+2”. O problema é realmente na direção do filme. Kinberg não consegue manter o ritmo do drama de ação e parte para o drama arrastado. Sou adepto e concordo com as mudanças nos tons de filmes de super-heróis. Não vamos entrar em questões da concorrência, e sim da própria casa, repartida em estúdios.
A FOX trouxe com “Deadpool” e “Logan”, novas opções e maneiras de se abrir um leque. Filmes de super-heróis considerando a enxurrada de lançamentos nos cinemas, já podem ser considerados um gênero à parte. Então porque não criar sub-gêneros? Um “+18”, uma Comédia, um Terror (até então o que seria de “Novos Mutantes”), e um Drama : “Fênix Negra”. Vá ao cinema, consciente do que vai assistir, que sua “decepção” será com aspectos da produção, e não com ela num todo.
Simon Kinberg e Michael Fassbender nas gravações de "Fênix Negra" |
OS ALTOS E OS BAIXOS
O sétimo filme dos X-Men (12º em sua totalidade), sofre dos mesmos problemas que os anteriores. Quando Kinberg não é responsável pelo roteiro dos filmes, vemos personagens sendo tratados dignamente e tendo suas participações lembradas, mesmo quando coadjuvantes, caso de “Primeira Classe”; quando ele assume o controle, vemos personagens entrarem e saírem sem nem sabermos os nomes. Dois personagens que sempre aparecem ao lado de Magneto (Michael Fassbender, repetindo o mesmo arco do personagem “recluso” pela terceira vez na saga) por exemplo, uma que julgava ser a “Arco Voltaico”, pela caracterização, e o outro que parecia mais o “Amarra” de “Esquadrão Suicida”, na verdade são “Selene” e “Red Lótus” (que apareceu em forma de easter egg em “Deadpool 2”) … Pois é… Quem também entra e sai sem muita importância em repetir os louros anteriores, é Mercúrio (Evan Peters), uma pena.
Mas já estamos acostumados com isso, o descarte de personagens é gigante na saga. Agora fazer isso com uma das vilãs do filme? É escorregar feio e sem desculpas, apesar de termos algumas… A personagem de Jessica Chastain era o grande mistério na história do filme desde o início de sua produção. Antes especulada como “Lilandra Neramani” a Imperatriz do “Império Shi’ar”; depois creditada como “Smith” em alguns lugares. Por fim tem sua identidade revelada de forma simplória e sem muito significado para o expectador durante o longa. Porém caros leitores, e um porém muito grande, é que a “culpa” disso tudo, na verdade é a da própria Marvel, no caso a “Mickeylandia” do monopólio chamada Disney/Marvel Studios.
A grande revelação acontece pra você aqui no Nerdeza, e não durante o filme. O texto invisível abaixo contém spoilers, então leia por sua conta e risco. ||| Originalmente e pelo andar da carruagem, e por conta também das regravações e adiamento; especula-se que na verdade a personagem de Chastain seria um Skrull, e não “Vuk”, da raça dos D’Bari, que nos quadrinhos realmente segue a entidade da Fênix, que destruiu o sol de seu mundo exterminando praticamente todos do seu planeta. É de conhecimento que esse não seria o último filme dos X-Men, se não fosse a compra da FOX pela Disney, transação ocorrida entre o final da produção deste filme e o lançamento do mesmo. As mudanças tiveram que vir por conta de “Capitã Marvel” que introduziu (de maneira nada satisfatória ao meu ver) os Skrulls. Foi uma rasteira inesperada, e a maneira foi modificar tudo, o que acabou não saindo lá muito bem. Os planos de Vuk são básicos como de qualquer vilã de filmes de super herói (nem adianta citar Thanos e seu plano que durou vinte e tantos filmes), mas aqui eles são tão dispensáveis, e só reproduzem o que a própria “Jean Grey encapetada” faz (andar de um lado para o outro), que os X-Men só vão saber da sua existência no final do segundo ato, e sua maior ameaça é descarrilhar um trem antes que a mutante descontrolada recupere sua consciência. |||. O que Jessica Chastain consegue trazer para o personagem é sua inexpressividade (e isso não é ruim), fria e calculista; mas nada memorável.
O grande mistério envolta ao personagem de Jessica Chastain |
Todo o primeiro ato do filme tem seu mérito, é denso e tenso,embalado pelas dúvidas de Raven e Hank/Fera (Nicholas Hoult) sobre as atitudes do Professor X e aquela famosa decisão que mudaria o destino dos dois, que infelizmente não é tomada na hora certa. A carga dramática está ali, é construída e entregue de maneira satisfatória, o problema é esquecer que depois do choro a gente tem que levantar e partir pro ataque, e não ficar no lenga-lenga que desestabiliza o ritmo. Fênix Negra tem as cenas de ação mais elaboradas dos mutantes. Os poderes de cada um são usados em conjunto para chegarem ao seu objetivo. Aqui, ninguém fica no banco de reserva. Tudo que Halle Berry não fez em quatro filmes, Alexandra Shipp faz nesse, é “Tempestade” no verdadeiro significado de seu nome. Outro destaque vai para Noturno (Kodi Smit-McPhee), que sempre se conteve enquanto “Kurt Wagner”, em respeito ao seu ideal religioso, mas quando se vê em uma situação sem caminho, ativa o modo “fogo no zóio” e parte pro ataque. Tye Sheridan é o famoso galãzinho, mas também tem seus momentos como Scott, imparável na busca de salvar sua amada. Talvez tudo fosse um pouquinho melhor se o espaço onde isso acontecesse não fosse limitado. Se a batalha acontecesse junto com a conclusão da “Fênix”, a reação seria ainda mais vibrante. Poderia ser mais enérgica.
Sente a dor de cabeça! |
Conclusão essa que é inevitável, ao meu ver, como disse anteriormente. Decepcionante para mim seria mentir. Certos personagens, em circunstâncias como essas (é o último filme, “se finit”), não tem outro destino senão os que mostrados aqui. Supera, a vida não é um conto de fadas com final bonitinho onde todo mundo sai sem cicatrizes.
Ah! E em respeito a Hans Zimmer e suas excelentes trilhas sonoras, vou resumir meu sentimento com essa em questão, em: “quem deixou você retirar o tema maravilhoso de John Ottman que arrepiava em cada abertura dos filmes?” Chateado…
MUTANTE VAI COM AS OUTRAS? AQUI NÃO...
O filme vai desagradar muitos e tudo bem. O filme vai satisfazer muitos, e tudo bem. Deixar outros em cima do muro que precisam de mais observações para expressar o que sentiu, e mais uma vez, tudo bem também. Eu não assisti sozinho, e ao final da exibição escutei três opiniões diferentes, e após digerir a minha, absorvi as outras para pontuar o que concordava e o que discordava, do que EU pensava. Nem vou atrás de todo mundo, como também não estou aqui para bancar o “do contra”.. A arte causa sentimentos, e cada um percebe, recebe e absorve de maneira diferente. Da mesma maneira que eu percebi, recebi e absorvi vários aspectos que não me agradaram como outros vários que me deixaram satisfeito, e que assistindo novamente podem mudar. Você deve fazer o mesmo. Assista com ou sem expectativas; mas ao final, avalie com argumentos próprios.
Avaliação - 4/5
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