Crítica | Gran Turismo: De Jogador a Corredor
Como transformar um jogo que se concentra em simular corridas, sem uma narrativa ou personagem central em um filme? Essa pergunta pairou no ar quando a notícia sobre a adaptação de Gran Turismo em filme surgiu. Agora, com o filme chegando aos cinemas, essa questão é respondida. A abordagem encontrada é surpreendentemente perspicaz: se o jogo carece de uma trama ou personagem central, por que não explorar uma história real de um gamer viciado em Gran Turismo que sofreu e lutou bastante para se transformar em um piloto profissional? E é assim que Gran Turismo oferece uma solução engenhosa, transformando o que poderia ser apenas o universo "vazio" do jogo em um enredo real e instigante.
Toda a trama gira em torno de Jann Mardenborough, interpretado por Archie Madekwe, um jovem talentoso no renomado jogo de PlayStation, Gran Turismo que vê a sua vida mudar ao receber um convite para participar da GT Academy, um programa de competição criado pelas empresas Nissan e Polyphony Digital, que busca transformar jogadores habilidosos de Gran Turismo em pilotos de corrida profissionais.
"Gran Turismo: De Jogador a Corredor" representa uma virada de página significativa no universo das adaptações de videogames para o cinema, trazendo consigo não apenas uma narrativa inspiradora, mas também uma experiência cinematográfica agitada e emocionante que abre novas portas para adaptações. Neill Blomkamp assume a direção, conhecido por sua habilidade em criar mundos distópicos e futurísticos, o diretor mostra sua versatilidade ao trazer uma história baseada em eventos reais, mergulhando nas aspirações de um jovem gamer que transformou um sonho em realidade.
De longe um dos principais méritos do filme é redefinir o significado da expressão: "Te prende do início ao fim". Ao longo das duas horas de duração, somos imersos em um turbilhão de emoções, adrenalina e intensidade que realmente se equipara a estar pilotando um Nissan GT-R. A habilidade de Blomkamp em criar cenas frenéticas e momentos de tensão é notável, levando o público a sentir o ronco dos motores, o vento na pista e a pressão de cada curva. É impressionante como o filme realmente prende o público do início ao fim, sem pausas nem para pegar um fôlego. vale ressaltar que, desde "Vingadores: Ultimato" eu não via reações tão intensas de um público no cinema, e essa é uma experiência reservada a poucos filmes.
O elenco abraça o projeto e se destaca ao trazer autenticidade aos personagens. A performance de Archie Madekwe como Jann Mardenborough captura a inocência e a paixão de um jogador adolescente que se vê no centro de um sonho improvável. David Harbour interpreta Jack Salter, um ex-piloto fundamental na jornada de Jann, trazendo a profundidade e a orientação necessárias ao personagem, pesando a mão no momento certo e inspirando técnicos por ai com seu jeito único. A presença de Orlando Bloom como Danny Moore e Djimon Hounsou como o pai de Jann contribuem para a complexidade emocional do protagonista.
O roteiro habilmente costura a narrativa, mantendo o ritmo acelerado e dinâmico, ao mesmo tempo em que presta homenagem ao universo dos jogos Gran Turismo e Playstation por meio de referências sutis e inteligentes. A transformação de um gamer em um piloto de elite é transmitida com emoção genuína, deixando a mensagem de que sonhos podem virar realidade, mesmo quando parecem impossíveis.
Outro grande trunfo é a trilha sonora que desempenha um papel vital na intensificação das emoções do filme. Desde os momentos de corrida até os momentos de alívio cômico, a escolha musical é astuta e ajuda a construir a atmosfera do filme. A inclusão do saxofonista Kenny G no enredo se torna um elemento chave, e demonstra a importância de músicas como parte integral da narrativa. E obviamente existe um fanservice com os sons clássicos do game que vão fazer os mais fãs mais íntimos de Gran Turismo se arrepiarem.
Mas saindo dos games e indo para a vida real, as cenas de corrida são um triunfo visual, capturando perfeitamente a sensação de velocidade e o êxtase de dominar um carro de corrida. Os efeitos especiais são empregados com maestria para transmitir as emoções de Jann, conectando o público não apenas à ação, mas também à jornada pessoal do protagonista.
"Gran Turismo: De Jogador a Corredor" transcende as barreiras dos jogos de videogame e alcança uma audiência mais ampla, oferecendo uma história de determinação, superação e paixão. O filme inspira tanto fãs de videogames quanto aqueles que não estão familiarizados com o mundo virtual, com sua narrativa emocionante e impactante. Neill Blomkamp, sai de sua zona de conforto e demonstra sua habilidade como um diretor versátil, proporcionando uma experiência que fica gravada na memória e instiga sua curiosidade ao pesquisar sobre Jann Mardenborough.
Nota: 5.0/5.0
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