CRÍTICA | TEMPOS DE BARBÁRIE - ATO I: TERAPIA DA VINGANÇA
O cinema nacional que tem seus altos e baixos nos apresenta um thriller diferente e provocador, que mergulha de cabeça em um tema pesado e o entrelaça habilmente com varias nuances políticas do país. A primeira parte de uma trilogia traz uma visão pensativa ao abordar de forma corajosa a busca por justiça em uma sociedade onde o sistema falha em oferecer respostas satisfatórias.
No cerne da trama, Cláudia Abreu se destaca entregando uma atuação visceral como Carla, uma mãe devastada pela tragédia que se desenrola no início do filme. Sua interpretação transmite a angústia e a revolta que a situação precisa, levando o público a uma jornada emocional poderosa. À medida que Carla confronta a impotência da polícia e o descaso da justiça, sua transformação em uma figura movida pela vingança é construída com riqueza de detalhes, tornando-a uma protagonista profundamente crível.
Ao lado dela, Júlia Lemmertz interpreta uma terapeuta que se torna um contraponto crucial para os impulsos de Carla. Sua atuação sutil, mas impactante, oferece uma outra perspectiva ao desejo de vingança, explorando a possibilidade de usar a terapia como uma ferramenta para domar a fúria e buscar um caminho mais construtivo. A dinâmica entre as duas atrizes é magnética, representando uma batalha entre o instinto de justiça e a busca por um entendimento mais profundo.
Com uma trama bem instaurada e boas atrizes segurando o público, o que realmente falha é o roteiro, que apesar de suas qualidades, falha justamente na narrativa que por vezes se arrasta, criando uma barriga desnecessária que prejudica o ritmo do filme. A oscilação entre momentos de intensidade e outros mais monótonos causam um desequilíbrio no engajamento do espectador, daria facilmente para deixar o filme mais dinâmico se cortássemos uns 40 minutos de filme que não levam a absolutamente nada.
A direção de fotografia abusa de tons escuros e sombrios, que capturam perfeitamente a atmosfera opressiva que permeia a vida da protagonista. Os tons pretos se tornam quase palpáveis, espelhando os sentimentos de Carla e sua busca incessante por justiça. Essa estética contribui para a sensação de desconforto que permeia o filme, colocando os espectadores no lugar das personagens e tornando-os quase cúmplices das suas angústias.
O ápice do filme, seu último ato, é onde as questões provocadoras emergem com força total. A abordagem ousada da terapia como uma ferramenta para mitigar a vingança levanta debates morais e éticos, convidando o público a questionar o próprio senso de justiça. Embora essa abordagem possa ser polarizadora, ela traz uma riqueza de significados que vai além do que é comumente explorado em narrativas do gênero.
Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança é um filme que explora temas complexos de forma audaciosa com atuações cativantes de Cláudia Abreu e Júlia Lemmertz. Apesar de suas oscilações de ritmo, o filme se destaca por sua capacidade de provocar reflexões sobre justiça, vingança e os limites da busca por justiça. Como início de uma trilogia, ele estabelece uma base intrigante e promissora para futuras explorações dessas questões impactantes.
Nota 3.0/5.0
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