Crítica | The Alto Knights: Máfia e Poder
Em um cenário saturado de filmes sobre máfia, onde as tramas de traição, lealdade e poder se entrelaçam em um fio tenso de violência, "The Alto Knights: Máfia e Poder" tenta se destacar como uma reflexão sobre o declínio dos grandes nomes do crime organizado. Dirigido por Barry Levinson e com um roteiro de Nicholas Pileggi o mesmo de Goodfellas e Casino o filme aposta no carisma de Robert De Niro, que interpreta, nada menos, do que dois dos maiores mafiosos da história: Frank Costello e Vito Genovese. Porém, enquanto o filme oferece uma performance impressionante de De Niro, o resultado final acaba se perdendo no próprio excesso, revelando-se uma proposta interessante, mas que não cumpre totalmente o seu potencial.
A história, baseada em eventos reais, inicia-se em 1959, com uma tentativa de assassinato falha contra Frank Costello, um dos chefes mais respeitados da máfia, e logo se desenrola como um estudo de personagens sobre a rivalidade com Vito Genovese, seu antigo amigo e agora inimigo. A tentativa de assassinato é uma sequência tensa e promissora, que nos insere diretamente na ação, mas à medida que o filme avança, o ritmo se arrasta. O que poderia ser uma narrativa empolgante sobre os bastidores do poder mafioso se transforma em um mar de diálogos e explicações, sem conseguir manter a intensidade necessária para capturar o espectador.
A escolha de De Niro para interpretar dois papeis principais é o grande atrativo da produção, mas acaba soando mais como uma curiosidade de casting do que uma escolha narrativa substancial. O uso de maquiagem e próteses para criar as diferenças visuais entre Costello e Genovese, embora tecnicamente eficaz, acaba por ressaltar o aspecto artificial da experiência, fazendo com que o espectador se distraia com o truque em vez de se envolver com a trama. O fato de De Niro estar o tempo todo diante de si mesmo em cena, em duplas interpretações, gera uma estranha sensação de distanciamento, como se estivéssemos assistindo a uma farsa mais do que a um estudo genuíno de duas figuras históricas complexas.
A direção de Levinson, embora competente, não consegue imprimir a força dramática necessária para sustentar o filme ao longo de suas mais de duas horas de duração. A estética visual, que mistura cenas em preto e branco com filmagens de arquivo, lembra um pouco o estilo dos grandes filmes de máfia de outrora, mas sem o mesmo impacto. Em vez de oferecer uma sensação de nostalgia ou homenagem ao gênero, acaba por parecer um truque visual repetido, que não acrescenta nada à narrativa, apenas a torna mais arrastada. A ideia de utilizar imagens de arquivo é interessante, mas raramente se sente integrada de forma orgânica à história.
Os personagens, principalmente Frank e Vito, são apresentados de maneira quase didática, o que reduz sua complexidade. Enquanto Frank é retratado como o homem refinado, com uma fachada de respeitabilidade, Vito é o temperamental e violento, impulsivo e incontrolável. Essas características são claramente delineadas, mas a dinâmica entre os dois, o que uma amizade transformada em rivalidade de fato significa não é suficientemente explorada para que a grande tragédia ou drama da história se concretize. O filme busca, em alguns momentos, ser uma meditação sobre o envelhecimento e o desgaste do poder, mas não alcança a profundidade que poderia ter se tivesse mais foco nos aspectos humanos e emocionais das figuras retratadas.
De Niro, claro, está impecável em ambas as atuações, mas o fato de estarmos constantemente cientes de que ele está interpretando os dois personagens dificulta a imersão na história. As confrontações entre os dois são momentos de grande tensão, mas o efeito final é mais o de um truque de cinema do que uma exploração real dos conflitos internos de Costello e Genovese. Se há um ponto positivo nisso tudo, é o excelente trabalho de maquiagem e prostéticos que permite que De Niro, mesmo sob camadas de maquiagem, ainda transmita uma presença muito marcante.
A grande questão que paira sobre The Alto Knights é a falta de ambição narrativa. O filme, apesar de ter todos os ingredientes para se tornar um épico da máfia com o roteiro de Pileggi, a direção de Levinson e a interpretação de De Niro, parece contentar-se em seguir uma fórmula que já foi bem explorada em outras produções do gênero. O resultado é um filme que, apesar de ser satisfatório em sua estética e atuações, não consegue se firmar como uma obra relevante ou inovadora dentro do vasto universo do cinema de máfia.
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