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CRÍTICA | Vitória


"Vitória" acompanha a jornada de Nina, uma senhora solitária que, aflita com a escalada da violência em sua vizinhança, decide registrar a movimentação dos traficantes da região com sua câmera, na tentativa de cooperar com a polícia. Sua iniciativa desperta o interesse de um jornalista, que se aproxima dela e tenta ajudá-la em sua missão. No entanto, essa decisão tem consequências graves, obrigando-a a mudar de identidade e passar a se chamar Vitória. O longa se assume como um drama intenso e realista, conduzido com maestria por Fernanda Montenegro.

A atriz de 95 anos carrega o filme nas costas, sendo o grande destaque da produção. Seu desempenho é arrebatador, dando vida a uma personagem forte, vulnerável e incrivelmente humana. Com sua presença quase onipresente em cena, Montenegro nos conduz por um retrato sensível e doloroso da solidão e da impotência diante da violência urbana. A forma como sua atuação transita entre momentos de fragilidade e determinação torna a experiência ainda mais envolvente e emocional.


A cinematografia do filme também merece destaque. O uso de planos-sequência valoriza o carisma da protagonista e nos aproxima ainda mais da realidade brutal que ela enfrenta. A direção aposta em uma abordagem que mergulha o espectador na perspectiva da personagem, tornando cada detalhe da ambientação ainda mais impactante.

Embora o filme se mantenha firme em sua proposta dramática, há momentos em que a narrativa se distancia do realismo estabelecido. Um exemplo claro disso é uma cena específica de tom cômico que, apesar de não comprometer a trama, cria uma quebra de ritmo desnecessária. Ainda assim, essa escolha não chega a comprometer a imersão geral da história.


O filme também toca em questões sociais relevantes, como o descaso da polícia diante dos relatos da população. Seja por interesses próprios ou discriminação, essa realidade ainda difícil de ser discutida é exposta de forma contundente. Além disso, o longa retrata com sensibilidade a dura realidade de idosos que, após uma vida de esforço para manter suas moradias, se veem forçados a abandoná-las devido à insegurança crescente.

Apesar da predominância de Fernanda Montenegro em cena, o elenco de apoio também entrega bons momentos. Uma das surpresas da produção é a participação de Linn da Quebrada no papel de Bibiana, que, mesmo com pouco tempo de tela, se destaca com uma performance marcante.

"Vitória" é uma experiência poderosa e emocionante que deixa o espectador sem fôlego diante da sua dura realidade. Mais do que um filme, é um espelho da sociedade, uma história sobre medo e coragem, sobre quem pode falar e quem é silenciado.

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