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Crítica | Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor

“Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor” é uma comédia romântica que surpreende justamente por não tratar sua premissa ousada como um mero gatilho para piadas fáceis. Partindo de um ménage à trois impulsivo entre Connor, Olivia e Jenny, o filme poderia seguir pelo caminho óbvio da comédia escrachada, mas opta por algo mais raro no gênero: humanidade, maturidade e uma cuidadosa construção emocional. O resultado é um filme leve e divertido, mas também atento às fragilidades e contradições de seus personagens, sempre guiado por um elenco afinado que sustenta tanto o caos quanto a ternura da narrativa.

A situação inicial parece saída de uma comédia adolescente, mas rapidamente se transforma em algo mais complexo quando Olivia e Jenny descobrem que estão grávidas. A partir daí, o que poderia virar moralismo ou melodrama se abre para uma investigação sensível sobre responsabilidade, afeto e escolhas que ninguém estava preparado para enfrentar. Connor, interpretado com uma bela doçura tímida por Jonah Hauer-King, tenta desesperadamente fazer a coisa certa mesmo quando não sabe qual é essa coisa. Sua bondade é genuína, mas também limitada pela própria insegurança, e o filme não tenta inflá-lo como herói. Ele é apenas um jovem completamente perdido em uma situação que o ultrapassa, tentando manter o equilíbrio emocional de duas mulheres tão complexas quanto fascinantes.

Olivia, vivida com por Zoey Deutch, é a força mais atraente do filme. Impulsiva, contraditória, caótica e vulnerável, ela é o tipo de personagem que poderia se tornar insuportável em mãos menos talentosas. Deutch, porém, encontra um espaço delicado entre a comédia e o drama, revelando a fragilidade por trás das explosões emocionais e o desejo sincero de não ferir ninguém, mesmo quando faz exatamente isso. Sua atuação sustenta as mudanças bruscas de humor de Olivia, tornando cada recuo, cada surto e cada gesto de afeto algo humano e reconhecível. Ela é, no melhor sentido, uma personagem imperfeita que sobrevive na fronteira entre a auto sabotagem e a procura genuína por amor.

Jenny, por sua vez, ganha contornos mais discretos, mas fundamentais. Ruby Cruz entrega uma performance contida e sensível, contrapondo o furacão emocional de Olivia com uma calma que nunca é passividade. Jenny é moldada por sua fé, pela pressão de uma família religiosa e por uma autopercepção conflitante que a faz oscilar entre culpa e desejo. Seu arco é menos barulhento, porém mais íntimo, e sua tentativa de apresentar Connor como namorado para agradar a família não soa como um artifício cômico, mas como uma reação real de alguém tentando sobreviver a expectativas sufocantes. Cruz dá profundidade a uma personagem que poderia ter se tornado apenas o terceiro lado de um triângulo amoroso, transformando-a em alguém igualmente digno de afeto e compreensão.

A direção de Chad Hartigan navega entre humor, drama e toques de comédia. Essa mistura nem sempre é totalmente fluida, e o filme ocasionalmente perde o ritmo ao oscilar entre tons muito distintos. Há cenas que parecem pertencer a uma comédia independente moderna, outras que lembram sitcoms familiares e outras que flertam com o melodrama. Ainda assim, essa irregularidade acaba refletindo a própria jornada dos personagens, que oscilam constantemente entre o riso, o desespero e a tentativa constante de reorganizar suas vidas. A estética suave e terrosa e a cinematografia de Sing Howe Yam ajudam a manter a coesão, dando ao filme uma aparência calorosa que contrasta com os conflitos internos dos protagonistas.

O que realmente diferencia “Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor” é a sua recusa em transformar a sexualidade dos personagens em piada ou punição. Embora o roteiro, em certos momentos, toque em temas que poderiam ser interpretados como moralizantes, ele não julga seus protagonistas. As consequências existem, mas não como castigo. São apenas consequências humanas, que exigem conversa, cuidado e coragem para enfrentar o que se deseja e o que se teme. O filme parece menos interessado em choques e mais preocupado em investigar como três jovens lidam com o impacto emocional de uma noite de aventura que se transforma em uma mudança profunda de vida.

No fim, o longa funciona porque acredita na capacidade de seus personagens de crescer. Não há vilões. Não há rivalidades artificiais. Não há disputas pelo amor de Connor que reduzam as mulheres à competição. Há, sim, três pessoas tentando encontrar espaço para suas necessidades e desejos em meio a circunstâncias inesperadas. Isso, somado a cenas verdadeiramente engraçadas, diálogos bons e momentos de ternura inesperada, faz de “Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor” uma joia rara no gênero.

É uma comédia romântica que ri, sim, da confusão emocional, mas que também a trata com respeito. E ao final, quando percebemos que torcemos por todos, entendemos que o filme cumpriu sua promessa: mostrar que o amor, mesmo nas situações mais improváveis, ainda pode ser generoso, confuso, engraçado e profundamente humano.

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