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Crítica | Grand Prix: A Toda Velocidade


Grand Prix: A toda velocidade, é uma animação bem familiar que acelera com muito entusiasmo, mas raramente alcança a linha de chegada com originalidade ou profundidade emocional. Produzido em comemoração ao 50º aniversário do parque temático alemão Europa-Park, o filme é tanto um produto de marketing quanto uma tentativa legítima de entretenimento infantil. E embora possua um elenco vocal de peso e algumas ideias encantadoras, o resultado é uma mistura previsível de clichês, personagens simpáticos e uma narrativa que segue o piloto automático.

A história gira em torno de Edda, uma ratinha sonhadora que trabalha com o pai em um parque temático decadente. Enquanto o pai tenta manter o negócio de pé, ela sonha em se tornar uma grande piloto, inspirada em seu ídolo Ed, um astro arrogante e vaidoso das corridas, dublado por Thomas Brodie-Sangster. Gemma Arterton empresta sua voz a Edda, conferindo à personagem um tom inocente, mas também muito teimosa que combina bem com sua ambição juvenil. Quando Edda decide fugir para Paris para assistir ao seu herói competir, sua jornada se transforma em uma aventura de autodescoberta, marcada por acidentes, disfarces e uma improvável ascensão ao mundo das corridas. 

O enredo é eficiente em sua simplicidade, algo raro em animações recentes que frequentemente se complicam com subtramas excessivas. Depois de um acidente causado por Edda, Ed fica ferido e, em um arranjo pouco convincente, ela acaba assumindo o lugar dele nas competições. A partir daí, a história segue o caminho previsível de superação e amizade, temperado por um mistério leve sobre sabotagens nas pistas. A trama de detetive é rasa, mas cumpre seu papel de manter as crianças atentas, com suspeitos caricatos como um corvo de ar ameaçador e um urso suíço sorridente que pronuncia “muffins” como “mooofins”.


O maior mérito de “Grand Prix: A toda velocidade” está em seu elenco de vozes. Thomas Brodie-Sangster diverte ao interpretar Ed, equilibrando arrogância e carisma em uma performance que ironiza os estereótipos de atletas celebridades. Gemma Arterton traz doçura e determinação à protagonista, enquanto Lenny Henry, na voz do pai de Edda, confere calor e humanidade ao filme. Colin McFarlane, como o corvo Nachtkraab, é uma presença enigmática e necessária, adicionando um leve toque de suspense. Já Hayley Atwell dá um tom espirituoso à personagem Cindy, cuja presença garante momentos de humor. O destaque, porém, é Böckli, o urso dublado por DJ Bobo, um coadjuvante adorável e leal que acaba se tornando o verdadeiro coração da narrativa.

Visualmente, o filme apresenta altos e baixos. Os cenários são exuberantes e bem renderizados, capturando com beleza pontos icônicos da Europa, como a Torre Eiffel, o Big Ben e os Alpes suíços. As paisagens são cheias de cor e energia, mas a animação dos personagens, por outro lado, carece de expressividade. As feições rígidas e os movimentos limitados contrastam com o vigor das vozes, enfraquecendo o impacto emocional de certas cenas. Há momentos em que o público sente mais o talento do elenco do que a emoção transmitida pelas imagens. 

Narrativamente, o longa carece de imaginação. A trama repete estruturas familiares a qualquer fã de animação infantil: a protagonista que sonha alto, o mentor arrogante que aprende humildade, a competição que termina em lições de amizade. Tudo é previsível, ainda que contado com simpatia e bom humor. Há ecos de “Carros”, da Pixar, e de “Turbo”, da DreamWorks, mas sem a mesma inventividade ou refinamento técnico. A sensação é de que “Grand Prix: A toda velocidade” se contenta em ser agradável, sem arriscar nada realmente novo.


Ainda assim, o filme tem momentos encantadores. A relação entre Edda e seu pai é tocante, especialmente pela forma como o amor familiar se manifesta em gestos simples e pela mensagem de apoio incondicional aos sonhos. Mesmo com a previsibilidade do roteiro, há sinceridade na forma como o filme fala sobre coragem e perseverança. As crianças certamente se identificarão com a protagonista determinada e encontrarão diversão nas corridas e nas trapalhadas dos personagens secundários.

O problema é que falta alma. Os ratos de “Grand Prix: A toda velocidade” parecem mais mascotes de parque do que personagens com vida própria. Diferente de clássicos como “Os Aventureiros do Bairro Proibido” ou “Fievel: Um Conto Americano”, que transformam pequenos roedores em espelhos das emoções humanas, aqui os protagonistas são veículos para mensagens genéricas. O resultado é um produto polido, mas sem o calor ou a originalidade que tornaram outros filmes do gênero memoráveis.  

Grand Prix: A toda velocidade é uma animação charmosa, porém esquecível. Cumpre seu papel como entretenimento leve e visualmente atraente, ideal para crianças pequenas e para famílias em busca de diversão sem grandes exigências. Não reinventa nada, mas também não ofende. Seu maior combustível está no elenco talentoso (e na dublagem brasileira, sempre muito bem alinhada ao original) e na vibração otimista que atravessa cada cena. É um passeio previsível, mas conduzido com o suficiente de energia e simpatia para não sair da pista

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