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Crítica | Truque de Mestre: O 3º Ato


Truque de Mestre: O 3º Ato, chega aos cinemas como uma continuação que respeita o legado da franquia e reafirma o fascínio do público por narrativas que misturam ilusionismo, um belo espetáculo visual e muita crítica social. Dirigido por Ruben Fleischer, conhecido pelo senso de humor e seu ritmo acelerado, o novo capítulo dos Quatro Cavaleiros aposta em um enredo que combina nostalgia e renovação, equilibrando o retorno do elenco original com a introdução de uma nova geração de mágicos. O resultado é um filme bonito, visualmente exuberante e repleto de reviravoltas que, embora previsíveis em alguns momentos, mantêm o público encantado até o último truque. 

A trama se inicia após a separação do grupo original. Daniel Atlas, interpretado novamente por Jesse Eisenberg, tenta reconstruir sua carreira e seu propósito ao liderar um trio de jovens ilusionistas interpretados por Justice Smith, Ariana Greenblatt e Dominic Sessa. Sua missão é audaciosa: roubar um diamante de valor inestimável enquanto enfrenta a poderosa vilã Veronika Vanderberg, vivida lindamente por Rosamund Pike, cuja presença marcante adiciona um novo tipo de antagonismo à franquia. A jornada de Atlas acaba forçando uma inevitável reunião com seus antigos companheiros Merritt McKinney (Woody Harrelson), Jack Wilder (Dave Franco) e Henley Reeves (Isla Fisher, que retorna ao papel após sua ausência no segundo filme), resultando em um reencontro cheio de tensão, humor e cumplicidade.

O grande trunfo do longa está na forma como Fleischer consegue equilibrar o espetáculo da mágica com a inteligência narrativa. As cenas de ilusão, embora fortemente apoiadas em efeitos digitais, conservam o mesmo senso de encantamento dos filmes anteriores. Há um domínio técnico notável no uso da computação gráfica, que permite criar sequências visualmente hipnóticas, sem abandonar completamente o charme dos truques físicos e da manipulação manual. É um cinema que brinca com o olhar, desafiando o espectador a distinguir o que é real e o que é ilusão, exatamente como deve ser em um filme sobre mágicos que enganam para revelar verdades.


O roteiro, assinado por Michael Lesslie, Rhett Reese e Seth Grahame-Smith, aposta em um ritmo dinâmico, alternando entre momentos de humor leve e passagens de pura tensão. Os diálogos são afiados, e a trama, embora cheia de conveniências típicas de Hollywood, mantém uma coerência interna admirável. O enredo funciona como uma metáfora sobre a própria arte do entretenimento: cada ato é uma performance cuidadosamente calculada, e o público, mesmo sabendo que está sendo enganado, continua aplaudindo. Essa camada metalinguística reforça o charme da franquia, que sempre tratou o espetáculo como um ato de rebeldia contra o poder e a ganância.

O elenco, mais uma vez, demonstra entrosamento e carisma. Jesse Eisenberg reprisa seu papel com a mesma energia, enquanto Woody Harrelson continua a ser o alívio cômico essencial que equilibra a seriedade do grupo. Isla Fisher brilha ao retomar o papel de Henley, conferindo à personagem um misto de elegância e audácia que havia feito falta no segundo filme. Dave Franco mantém sua leveza natural, enquanto Morgan Freeman, como Thaddeus Bradley, surge como a ponte entre o passado e o presente da história. Rosamund Pike, por sua vez, é uma adição inspirada, sua vilã é sofisticada, perigosa e absolutamente hipnotizante, conferindo ao longa uma densidade dramática que o diferencia dos anteriores.

Visualmente, “O 3º Ato” é um deleite. A direção de arte aposta em cenários deslumbrantes que evocam tanto o glamour dos palcos quanto a atmosfera conspiratória das histórias de espionagem. Há referências explícitas a obras de arte e ilusões clássicas, como as escadarias de Escher, que reforçam o caráter lúdico do filme. Fleischer filma com fluidez, utilizando movimentos de câmera que simulam a sensação de um truque sendo executado diante de nossos olhos. Cada sequência é construída como uma mágica em três etapas: preparação, confusão e revelação. E quando a última chega, o espectador sente o prazer de ter sido enganado com estilo.


O filme também mantém viva a essência que tornou a franquia tão popular, a ideia de justiça poética travestida de espetáculo. Os Cavaleiros continuam a usar a mágica como instrumento de subversão, desafiando elites corruptas e desmascarando o poder por meio da ilusão. Essa combinação de entretenimento e crítica social é o que dá relevância à série em meio ao mar de produções de ação genéricas. Ainda que “O 3º Ato” suavize algumas de suas tensões políticas em prol de um tom mais leve e familiar, a crítica à manipulação e à desigualdade permanece como pano de fundo.

O desfecho do filme entrega o que promete: um clímax repleto de surpresas e reviravoltas que brincam com as expectativas do público. O “plot twist” final, sem entrar em spoilers, é digno da reputação da franquia e garante aquele momento de espanto que faz o público sair da sala comentando o que acabou de ver. Há, ainda, uma evidente abertura para uma nova continuação, sugerida pela reaparição do lendário Olho, símbolo maior da organização que guia os Cavaleiros desde o início.

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