CRÍTICA | É ASSIM QUE ACABA
A adaptação cinematográfica de "É Assim Que Acaba," dirigida por Justin Baldoni, enfrenta o enorme desafio de transpor a complexa e densa narrativa de Colleen Hoover para as telas, tratando de temas delicados como abuso doméstico, trauma e superação. Baldoni, que também interpreta o personagem Ryle Kincaid, optou por envelhecer os protagonistas, uma decisão que adiciona uma camada de maturidade à trama, mas que também trouxe algumas controvérsias, especialmente em relação à fidelidade ao livro e à representação dos personagens.
A escolha de Blake Lively para o papel de Lily Bloom é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. Lively traz uma intensidade emocional necessária para representar uma mulher marcada por um passado doloroso, mas que busca reconstruir sua vida com esperança. Sua performance é sincera, especialmente nas cenas em que Lily se confronta com os fantasmas de seu passado e as cicatrizes emocionais que eles deixaram.
Justin Baldoni, por outro lado, entrega uma performance convincente como Ryle, um personagem que exala charme e carisma, mas que gradualmente revela um lado sombrio e perturbador. No entanto, a decisão de Baldoni de também dirigir o filme pode ter influenciado na forma como o personagem é tratado. O Ryle do filme, embora problemático, parece mais suavizado em comparação com sua versão literária, o que pode gerar críticas por não abordar com a mesma intensidade a gravidade de suas ações abusivas.
Brandon Sklenar, interpretando Atlas Corrigan, o primeiro amor de Lily, oferece uma presença calmante e gentil, representando uma figura de estabilidade em meio ao caos emocional de Lily. Sua química com Lively é palpável, mas o filme não aprofunda suficientemente sua história e motivação, o que poderia ter enriquecido ainda mais a narrativa.
A direção de Baldoni é competente ao criar um ambiente visualmente atraente, com uma cinematografia que destaca a dualidade na vida de Lily: o sonho de uma nova vida em Boston versus os pesadelos persistentes de seu passado. No entanto, o roteiro, ao tentar condensar uma história rica e complexa em um filme de duas horas, acaba por sacrificar nuances importantes da trama original.
Enquanto o livro de Hoover explora de forma mais profunda os traumas e a jornada emocional de Lily, o filme por vezes simplifica questões que exigiam um tratamento mais delicado. A abordagem do abuso doméstico, por exemplo, é um tema que demanda sensibilidade e profundidade. No entanto, o filme, em sua tentativa de não se tornar excessivamente sombrio, por vezes flerta com uma romantização perigosa desses relacionamentos, algo que já era um ponto de crítica na obra original.
"É Assim Que Acaba" é, em sua essência, uma história sobre sobrevivência e a luta para quebrar ciclos de violência e trauma. O filme tem momentos impactantes que mostram a devastação emocional causada pelo abuso doméstico e o quão difícil é para as vítimas escaparem dessas situações.
A narrativa também se depara com o desafio de equilibrar o romance com a realidade dura que Lily enfrenta. A reentrada de Atlas na vida de Lily serve como um contraponto necessário à toxicidade de seu relacionamento com Ryle, mas o filme não tem tempo de explorar plenamente as complexidades que essa dinâmica traz. Como resultado, a mensagem sobre a importância de tomar decisões saudáveis e romper com padrões prejudiciais pode não ressoar tão fortemente quanto poderia.
"É Assim Que Acaba" é um retrato emocionante de como os relacionamentos e o passado moldam nosso presente e futuro, revelando as complexidades e desafios enfrentados por uma mulher que luta para romper com ciclos de abuso e trauma. Através de performances intensas e uma narrativa envolvente, o filme nos lembra de como várias formas de abuso contra a mulher ainda são perigosamente normalizadas em nossa sociedade, desafiando-nos a refletir sobre as consequências dessas relações e a importância de tomar decisões que promovam a saúde emocional e a libertação pessoal.
Nota: 4.5/5.0
Nota: 4.5/5.0
Deixe o seu comentário