Header Ads

crítica | Estômago 2: O Poderoso Chef

Estômago 2: O Poderoso Chef é uma sequência que, mesmo carregando o peso de um antecessor icônico, consegue se destacar com uma identidade própria e uma ambição internacional que poucos filmes brasileiros ousaram atingir. Dirigido por Marcos Jorge, o filme leva os espectadores de volta ao mundo gastronômico e criminal que cativou o público em 2007, mas com uma nova abordagem que, ao mesmo tempo que homenageia, também ousa se desviar das expectativas estabelecidas pelo primeiro filme.

A trama, que se desenrola em duas linhas temporais simultâneas, continua a explorar a interseção entre comida e poder, mas desta vez com um foco renovado. Em vez de seguir o querido Raimundo Nonato, interpretado por João Miguel, o filme nos apresenta Roberto, interpretado por Nicola Siri, um ator fracassado que se transforma em Don Caroglio, um chefe da máfia siciliana. Essa mudança de protagonista pode desagradar alguns fãs do original, mas é justamente essa ousadia que dá ao filme sua força e originalidade. Roberto é um personagem complexo, cuja jornada de ator decadente a mafioso é marcada por uma dualidade crescente e complexa.

O filme faz uso eficaz de uma narrativa fragmentada, que não apenas mantém o espectador atento, mas também permite que a história de Roberto se desenrole de forma rica e interessante. A fotografia impecável colabora para criar uma atmosfera tensa e cinematograficamente sofisticada, que dialoga diretamente com o imaginário popular sobre a máfia italiana. No entanto, a decisão de relegar Raimundo Nonato a um papel secundário pode ser vista como um ponto fraco. Embora João Miguel brilhe sempre que está em cena, a trama principal acaba por ofuscá-lo, transformando-o em um coadjuvante de luxo em seu próprio universo.

O grande destaque, no entanto, vai para a atuação de Nicola Siri, cuja interpretação de Don Caroglio é simultaneamente carismática e ameaçadora. Siri transita com fluidez entre o português, italiano e inglês, trazendo uma autenticidade rara e necessária para um filme que aspira a um público global. A sua performance é o verdadeiro prato principal deste banquete cinematográfico, e é ela que mantém o filme em pé, mesmo quando o roteiro deixa algumas pontas soltas.

Embora "Estômago 2: O Poderoso Chef" não seja perfeito e apresente alguns momentos em que a narrativa se torna empacada ou perde o foco, ele ainda assim oferece uma experiência rica e satisfatória. O filme se mantém fiel ao espírito do original, mas com uma nova roupagem que dialoga com as tendências atuais do cinema e o crescente nicho por narrativas culinárias. 

Estômago 2: O Poderoso Chef é uma prova do amadurecimento do cinema nacional. Com uma produção mais ambiciosa que seu antecessor, o filme consegue ser ao mesmo tempo divertido e reflexivo, e tem potencial para conquistar audiências tanto no Brasil quanto no exterior. Raimundo Nonato, com sua faca e seu talento, mais uma vez mostra que a comida pode ser uma poderosa arma — e o cinema brasileiro, um banquete para os cinéfilos.

Nenhum comentário