CRÍTICA | Kind Of Kindness
"Tipos de Gentileza", dirigido por Yorgos Lanthimos, é mais uma incursão do cineasta no cinema de arte que desafia as convenções e mergulha em territórios desconfortáveis. Conhecido por seu estilo peculiar, Lanthimos entrega aqui um filme que mistura humor negro, violência e surrealismo, compondo uma obra que exige atenção plena e um gosto apurado pelo bizarro.
A narrativa se desdobra em três histórias entrelaçadas, cada uma explorando temas profundos como controle, transformação e fé. No entanto, é preciso paciência e interesse pelos detalhes para seguir o fio condutor dessas tramas, já que o roteiro é denso e se recusa a entregar respostas fáceis. Esse é, ao mesmo tempo, o ponto forte e a fraqueza do filme: enquanto a complexidade pode fascinar os entusiastas do cinema de Lanthimos, pode também afastar o espectador que busca uma experiência mais convencional.
Visualmente, "Tipos de Gentileza" é um espetáculo. Lanthimos usa e abusa de planos-detalhe que enriquecem a estética do filme, criando uma imersão visual que complementa o tom surreal e perturbador da narrativa. A cinematografia é impecável, fazendo uso de ângulos e composições que acentuam o desconforto e a estranheza que permeiam a obra.
A trilha sonora merece destaque por sua capacidade de intensificar a tensão nas cenas-chave. Utilizando sons agudos de forma precisa, Lanthimos manipula o espectador, criando uma sensação de desconforto que ressoa com o tom geral do filme. Além disso, a escolha de "Sweet Dreams" como um fio condutor musical é brilhante. A canção, já conhecida por seu clima etéreo e um tanto sombrio, se entrelaça com o elemento do sonho, que é central nas três histórias. Essa integração da música com a narrativa adiciona uma camada extra de significado e coesão à trama, fazendo com que a canção se torne quase um personagem em si.
O elenco, como era de se esperar, entrega performances memoráveis. Jesse Plemons, em particular, destaca-se ao interpretar três personagens com estilos de atuação distintos em cada uma das histórias. Sua versatilidade brilha, mostrando um talento que vai além do que já vimos em seus papéis anteriores. Emma Stone, que foi o grande nome em "Poor Things", aqui cede o holofote para Plemons, embora o elenco como um todo esteja afiado e em sintonia com a visão do diretor.
Apesar de suas qualidades, "Tipos de Gentileza" não é um filme para todos. O ritmo lento, a falta de explicações claras e o tom sombrio podem alienar parte do público. No entanto, para os apreciadores do trabalho de Lanthimos e do cinema de arte, é uma experiência rica e provocadora que vale cada minuto de atenção. O filme não busca agradar, mas sim desafiar e instigar reflexões sobre os caminhos imprevisíveis da vida e o papel da gentileza em meio ao caos.
"Tipos de Gentileza" é um filme complexo e visualmente fascinante, que consolida Yorgos Lanthimos como um dos diretores mais ousados de sua geração. Contudo, sua natureza densa e desafiadora faz dele um filme que, embora brilhante, é destinado a um público seleto, apaixonado pelo cinema como forma de arte e expressão.
Nota: 3.0/5.0
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