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CRÍTICA | ANORA



Anora, dirigido e roteirizado por Sean Baker, é uma montanha-russa emocional que desafia expectativas e transcende gêneros de forma magistral. O filme apresenta a história de Anora (Mikey Madison), uma jovem trabalhadora do sexo em Brooklyn, que, ao se casar impulsivamente com Ivan (Mark Eidelshtein), herdeiro de um oligarca russo, acredita ter encontrado sua chance de mudar de vida. No entanto, o que parecia um conto de fadas rapidamente se transforma em uma narrativa cheia de camadas e surpresas.

Baker sabe como capturar o público desde o início. Em menos de 10 minutos, somos introduzidos ao mundo de Anora de maneira sutil, mas intrigante, sem rodeios excessivos. O roteiro é uma aula de como manter o espectador curioso, evitando previsibilidades e entregando reviravoltas que chocam e encantam na mesma medida.


Mikey Madison entrega uma performance visceral e cativante. Sua Anora é uma mistura de vulnerabilidade e determinação, uma mulher jovem com sonhos e esperanças, mas marcada por uma realidade dura. Madison comunica muito mais com olhares e gestos do que com palavras, e suas emoções transbordam para a tela de maneira comovente. 

Mark Eidelshtein, por sua vez, interpreta Ivan com uma infantilidade que inicialmente soa peculiar, mas que logo revela ser um traço intrínseco ao personagem. Sua atuação dá peso à dinâmica do casal, ao mesmo tempo inocente e complexa.

O que realmente diferencia Anora é sua habilidade em navegar por diversos gêneros. Baker inicia o filme como um drama romântico, transforma-o em uma comédia hilária e, finalmente, mergulha o público em um drama psicológico denso e perturbador. Essa transição é feita de forma orgânica e fluida, sem jamais perder o ritmo. A comédia atinge seu auge no meio do filme, arrancando risadas genuínas, enquanto o desfecho força o espectador a refletir sobre os traumas de Anora e os efeitos que eles terão em sua vida.


Visualmente, Anora é deslumbrante. A cinematografia utiliza closes nos olhos dos personagens para transmitir emoções profundas, enquanto os planos abertos das cenas mais picantes adicionam uma camada estética ao filme. As cenas de sexo, longe de serem gratuitas, são construídas com cuidado, revelando intimidade e vulnerabilidade. 

A trilha sonora, embora funcional, não se destaca. Cumpre seu papel em ambientar o público nas boates e nas situações mais intensas, mas carece de momentos memoráveis que poderiam elevar ainda mais a experiência.

Anora é um filme denso, multifacetado e impactante. faz você rir, relaxar e se envolver com seus momentos mais leves, apenas para, no final, cravar uma lâmina afiada em sua consciência. Sean Baker conduz a trama com maestria, transformando uma história de amor improvável em uma reflexão brutal sobre escolhas, traumas e o peso das cicatrizes emocionais.

Nota: 5.0/5.0

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