CRÍTICA | CONCLAVE
Conclave, dirigido por Edward Berger e baseado no best-seller de Robert Harris, é um thriller político ambientado nos bastidores da Igreja Católica, especificamente no processo de escolha de um novo Papa. Apesar do potencial intrínseco ao tema, o filme entrega uma narrativa previsível e, por vezes, absurda, que desperdiça a oportunidade de explorar os vieses e intrigas reais do Vaticano.
O filme acompanha o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), que lidera o conclave após a morte do Papa. Ele se encontra em meio a um grupo de cardeais que disputam secretamente o poder, incluindo figuras como o liberal Bellini (Stanley Tucci), o reacionário Tedesco (Sergio Castellitto) e o enigmático Benitez (Carlos Diehz), um recém-nomeado cardeal de Cabul. No entanto, à medida que as votações avançam, mistérios sobre corrupção e segredos pessoais vêm à tona, culminando em um desfecho inesperado e controverso.
Ralph Fiennes como Cardeal Lawrence entrega uma performance impecável (nem parece que um dia foi o temido Lord Voldemort), retratando um personagem torturado por dúvidas de fé e dividido entre sua responsabilidade institucional e os segredos que ameaçam a integridade do processo. Sua presença dá um ar de gravidade que eleva algumas das cenas mais tensas do filme.
A cinematografia de Stéphane Fontaine e o design de produção de Suzie Davies criam uma atmosfera esteticamente rica, com uma Capela Sistina recriada e ambientes que refletem o peso histórico do Vaticano. Apesar disso, o uso exagerado de locais como o distrito EUR de Roma, com sua arquitetura moderna e fria, diminui a autenticidade visual.
Adaptado por Peter Straughan, o roteiro se apoia em clichês que esvaziam a complexidade do material original. Intrigas que poderiam ser desenvolvidas com sofisticação se transformam em reviravoltas forçadas, como o uso de um relatório incriminador escondido na cama do Papa ou o discurso inspirador, mas genérico, do candidato "underdog".
Apesar de contar com um elenco renomado, incluindo Stanley Tucci e John Lithgow, os cardeais são caricaturais, representando arquétipos sem profundidade. O enredo reduz a narrativa a um duelo simplista entre bons e maus, sem explorar os dilemas morais ou políticos que poderiam enriquecer a história.
O final tenta surpreender ao revelar algo muito extremo, uma decisão que soa mais como uma provocação gratuita do que uma reflexão significativa. Essa reviravolta não só subverte o tom do filme, mas também carece de contexto narrativo, tornando-se uma escolha que parece forçada e desconectada do restante da trama.
Embora o filme pretenda capturar o mistério e a intriga do conclave, ele falha em transmitir a complexidade da Igreja Católica como instituição. Problemas reais, como as disputas de poder e as questões de corrupção dentro da Cúria, são abordados de forma simplista e pouco crível, de certa forma com o seu lastro apenas em blasfêmia.
O longa tinha todos os ingredientes para ser uma exploração fascinante das intrigas políticas e espirituais do Vaticano, uma das instituições mais poderosas do mundo, mas acaba se contentando com uma execução genérica e caricatural. Apesar das boas atuações e da direção incrivelmente sofisticada, o filme tropeça em seu roteiro mal desenvolvido e em reviravoltas que sacrificam credibilidade em troca de choque superficial. É um exemplo de como um conceito rico pode ser diluído quando a profundidade e a autenticidade são substituídas por fórmulas previsíveis. Um filme que começa com promessas de grandeza, mas termina como uma experiência esquecível.
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