CRÍTICA | Bridget Jones: Louca pelo Garoto
A cada novo filme da franquia Bridget Jones, a personagem de Renée Zellweger se reafirma como um ícone das comédias românticas, mas também como um reflexo das complexas questões da mulher moderna. Bridget Jones: Louca pelo Garoto, o quarto filme da saga, traz uma visão mais madura e densa da personagem, dando continuidade ao legado iniciado em 2001. Porém, enquanto o tom do filme se torna mais sério, as questões subjacentes sobre as expectativas sociais, o luto e a busca por amor se mantêm centrais, como uma marca registrada da franquia.
A principal mudança no enredo é o luto que permeia a vida de Bridget. Após a morte de seu amado Mark Darcy (Colin Firth), vítima de um acidente em uma missão humanitária, Bridget se vê desamparada, tentando reconstruir sua vida enquanto cuida de seus dois filhos. O filme explora a dor da perda, mas também o desafio de se reinventar após um golpe tão devastador. Esse tema de luto é executado com sensibilidade e, para muitos, poderá ser o grande trunfo do filme, apresentando uma Bridget mais introspectiva e menos caótica.
O que ainda se mantém é a famosa tensão romântica que permeia a franquia, agora mais interessante pela introdução de dois novos interesses amorosos: um jovem, flertador (Leo Woodall) e um professor de ciência, com um ar mais sensato (Chiwetel Ejiofor). A relação entre Bridget e esses novos personagens, especialmente a diferença de idade entre ela e Roxster (Leo Woodall), entra no radar de uma tendência cinematográfica recente de romances com uma mulher mais velha e um homem mais jovem, assim como o recente “Baby Girl”. Essa dinâmica é bem explorada e atualiza a fórmula já conhecida da franquia, mantendo a essência do que faz Bridget ser tão querida: sua autenticidade e vulnerabilidade.
A ausência de Mark Darcy e a ressurreição de Daniel Cleaver (Hugh Grant) trazem o tom de comédia leve de volta ao filme, com o charme irreverente de Cleaver sendo um contraste necessário para os momentos mais emocionais. Ainda que o personagem de Hugh Grant tenha um tom de nostalgia, ela também serve como um alívio para os momentos de intensidade dramática que surgem com o luto de Bridget.
É interessante notar a mudança no tom do filme. O diretor Michael Morris, conhecido por seu trabalho em dramas, trouxe uma sensibilidade mais sombria e realista ao filme, especialmente no que diz respeito à forma como Bridget lida com seus próprios sentimentos e com o processo de aceitar que a vida não se desenrola como o esperado. O filme, ao contrário de suas sequências anteriores, não é apenas uma comédia romântica descontraída, mas uma reflexão sobre crescimento, perda e a busca de autossuficiência.
Porém, é importante ressaltar que o filme não está imune às críticas que sempre acompanharam a personagem. Alguns pontos na franquia mostraram que Bridget representa um modelo antiquado de feminilidade, com sua obsessão por seu peso, sua busca constante por um romance idealizado e seu papel passivo em algumas situações. Contudo, a proposta do filme parece ser justamente a subversão dessa ideia, Bridget agora está ciente das suas falhas, e a trama não a apresenta mais como uma vítima da sociedade, mas sim como uma mulher que está aprendendo a lidar com as dificuldades da vida de forma mais equilibrada.
Bridget Jones: Louca pelo Garoto é uma espécie de tônico facial para quem busca um alívio emocional e uma celebração da imperfeição. A personagem se reinventa, mas sem perder sua essência. Embora o filme não seja uma revolução no gênero, ele faz jus à longa trajetória da personagem, trazendo uma mistura de comédia, drama e romance que certamente agradará aos fãs mais fieis. O filme é uma homenagem àqueles que cresceram com Bridget, mas também oferece uma nova perspectiva para uma geração mais jovem, que talvez veja na sua caótica busca por identidade algo mais atemporal do que nunca.
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