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CRÍTICA | UM COMPLETO DESCONHECIDO


Um completo desconhecido, dirigido por James Mangold, é um filme biográfico que foge da tradicional abordagem deste gênero, para focar em um momento crucial na vida de Bob Dylan. O longa captura a interseção entre arte e fama, explorando a evolução do cantor no início dos anos 1960 e culminando em sua controversa apresentação eletrificada no Newport Folk Festival de 1965.

Bob Dylan já foi objeto de diversas abordagens cinematográficas, desde o experimental I'm Not There (2007), de Todd Haynes, até documentários como Don't Look Back (1967), de D.A. Pennebaker. O que diferencia "Um Completo Desconhecido" é sua ênfase na transformação artística do músico e nos dilemas que ele enfrentou ao desafiar as expectativas do movimento folk.

O filme se inicia com Dylan (Timothée Chalamet) visitando Woody Guthrie (Scoot McNairy) no hospital, um momento simbólico que estabelece a passagem de bastão entre gerações. A partir daí, acompanhamos sua ascensão no circuito folk de Nova York, seus relacionamentos tumultuados com Sylvie Russo (Elle Fanning) e Joan Baez (Monica Barbaro), e sua amizade com ícones como Pete Seeger (Edward Norton) e Johnny Cash (Boyd Holbrook).

Timothée Chalamet entrega uma performance hipnótica, capturando a insolência, o carisma e o mistério de Dylan sem transformá-lo em uma caricatura. Mais do que apenas imitar maneirismos, o ator transmite a energia criativa do músico, especialmente em cenas de performance ao vivo, onde ele mesmo canta. Sua interpretação de The Times They Are A-Changin’ recria a sensação de novidade e impacto que a música teve em sua estreia.

O elenco de apoio é igualmente forte, Monica Barbaro faz uma Joan Baez perfeita, revelando tanto sua admiração quanto sua frustração com Dylan. Edward Norton traz uma presença sutil, mas marcante, como Seeger, um mentor dividido entre apoiar a inovação e preservar as tradições do folk.


James Mangold, que já dirigiu cinebiografias musicais como Johnny & June (2005), evita os clichês do gênero ao estruturar o filme como uma jornada de descoberta e rebeldia. O roteiro, co-escrito por Mangold e Jay Cocks, não tenta explicar Dylan, mas sim apresentar os eventos que moldaram sua trajetória, deixando espaço para o público interpretar suas motivações.

A montagem incorpora imagens de arquivo e eventos históricos para contextualizar a música de Dylan, como a crise dos mísseis cubanos, servindo de pano de fundo para “Masters of War”. Essa abordagem reforça o impacto social da obra do cantor sem recorrer a exposições óbvias.

"Um Completo Desconhecido" explora o choque entre tradição e inovação, individualidade e expectativas do público. A transição de Dylan para o som elétrico não é apenas uma escolha musical, mas um ato de afirmação artística contra as limitações impostas por fãs e críticos.

O filme também reflete sobre a relação entre arte e identidade. Dylan é retratado como um mestre da reinvenção, alguém que nunca se encaixa completamente nas categorias que tentam impor a ele. Sua recusa em ser rotulado o torna um ícone inquieto, sempre à deriva entre gêneros e influências.

"Um Completo Desconhecido" é uma cinebiografia que, assim como seu protagonista, desafia convenções e evita respostas fáceis. Com uma abordagem mais sensorial do que explicativa, Mangold entrega um filme vibrante e cheio de energia, impulsionado por uma performance inexplicável de Timothée Chalamet. Para fãs de Dylan e amantes de música, esta é uma experiência essencial, que captura a essência de um artista que marcou esse mundo.

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