CRÍTICA | INEXPLICÁVEL
Dirigido por Fabrício Bittar, Inexplicável se apresenta como um melodrama que mistura os dilemas familiares com a temática da fé e da superação diante de uma tragédia. Baseado no livro “O menino que queria jogar futebol: uma história de fé e superação”, de Phelipe Caldas, o filme acompanha a história da família Varandas, que enfrenta a dor e a incerteza de um diagnóstico terminal do filho mais velho, Gabriel (Miguel Venerabile), de apenas oito anos. A trama, centrada na luta contra um tumor cerebral, explora as complexas relações familiares e a tensão entre ciência e fé.
O ponto forte do filme está na atuação do elenco, com Letícia Spiller e Eriberto Leão trazendo uma intensidade emocional à complexa dinâmica de Yanna e Marcus, pais que se veem forçados a fazer escolhas extremas para salvar a vida do filho. Yanna, uma mãe devota e profundamente religiosa, encontra na fé a força para lutar, enquanto Marcus, cético e descrente, se vê arrastado para esse universo que inicialmente rejeita. Essa dicotomia entre os dois personagens é o cerne do drama, e, em muitos momentos, parece que o filme força o espectador a refletir sobre os limites entre a fé e a razão.
A narrativa segue uma estrutura bem conhecida nos filmes de superação, marcada pela constante luta pela vida do personagem principal. O conflito de Yanna entre o cuidado com Gabriel e suas responsabilidades com o outro filho é uma das facetas mais humanas do filme, trazendo à tona a exaustão emocional e os sacrifícios de uma mãe. Essa situação se torna ainda mais difícil quando, ao mesmo tempo, ela lida com a gravidez e a constante sensação de culpa por não poder dar atenção suficiente ao filho mais novo.
No entanto, o ponto que mais pode dividir opiniões é a forma como o filme aborda a fé. Enquanto Yanna é mostrada como alguém que vê em Deus a única esperança, Marcus, o pai, se opõe a essa visão, tratando com sarcasmo e ironia as tentativas de oração e o discurso religioso. A conversão do personagem de Eriberto Leão, que, eventualmente, passa a acreditar em Deus como solução para a cura do filho, soa quase como uma imposição do roteiro, que se apoia em uma visão simplificada de que a fé pode sobrepor os avanços da medicina. A frase "não acreditar é tão louco quanto acreditar", embora impactante, acaba servindo como um ponto de virada quetransforma a trama em um questionamento moral sobre o quanto a vida e a morte estão interligadas ao acreditar ou não em um poder superior.
O dilema central do filme o questionamento sobre a relação entre ciência e fé poderia ser mais explorado com mais nuances. A transformação de Marcus, que passa de um ateu cético a um homem de fé, embora compreensível dentro da lógica do drama, acaba parecendo um tanto forçada e previsível. Isso pode fazer com que o filme perca um pouco de sua força emocional ao se concentrar em temas mais transcendentais, como a salvação divina, em vez de aprofundar a luta pessoal e familiar pela sobrevivência de Gabriel de forma mais universal.
Visualmente, o filme não se destaca de maneira marcante, mantendo uma fotografia simples e eficaz, que foca mais nas expressões e reações dos personagens do que em grandes cenas de ação ou momentos grandiosos. A edição e a montagem também contribuem para o ritmo tenso, alternando entre cenas de esperança e desespero, com uma ênfase no sofrimento físico e emocional de Gabriel e seus pais.
Inexplicável é um drama emocional que pode tocar aqueles que buscam uma história de superação e fé, mas sua abordagem, muitas vezes, peca pela previsibilidade e pela ênfase excessiva nos aspectos religiosos, deixando de lado uma exploração mais profunda das complexidades humanas e científicas envolvidas em uma situação de vida ou morte. O filme parece se apoiar em uma visão dicotômica de fé e razão, onde a única resposta para a cura é a crença em um poder superior, algo que pode não ressoar com todos os espectadores, especialmente aqueles que buscam uma abordagem mais equilibrada e realista sobre os desafios enfrentados por famílias em situações de crise, porém é um filme super emocionante.
Deixe o seu comentário