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Crítica | Confinado


Confinado, o novo thriller psicológico dirigido por David Yaroevsky, apresenta uma premissa intrigante, mas que falha em aproveitar seu conceito com a profundidade e a tensão necessárias para realmente cativar o público. A trama, centrada em Eddie (Bill Skarsgård), um pequeno criminoso que acaba preso em um SUV de luxo enquanto tenta roubar o veículo, parece promissora à primeira vista. Contudo, logo se revela uma jornada repetitiva e rasa, sem o impacto que poderia ter sido gerado por suas potencialidades.

Bill Skarsgård, em um de seus papéis mais contidos, é a única estrela que brilha, carregando o filme nas costas. Seu Eddie é um personagem desajustado, um "cara comum" cujas decisões erradas o levam a um destino tortuoso. Ao contrário de outros filmes do gênero, onde o protagonista ganha a empatia do público pela sua luta contra o sistema ou as circunstâncias, Eddie não consegue conquistar o espectador, principalmente porque suas ações e falas não são suficientemente complexas para gerarem uma conexão genuína. O personagem carece da profundidade necessária para que seu sofrimento no interior do carro, onde é cruelmente torturado, seja realmente sentido. A tentativa de construir uma camada emocional em torno de sua relação com a filha, por exemplo, não é bem sucedida. A cena onde ele dá água a um cachorro, em uma tentativa de mostrar sua humanidade, parece mais forçada do que verdadeiramente reveladora do seu caráter.

Do outro lado da equação, temos William (Anthony Hopkins), o enigmático e implacável captor de Eddie. Hopkins, como sempre, é um ator de presença inegável, mas sua interpretação de William, um homem rico e amargurado, fica aquém das expectativas. O personagem carece de motivação convincente, e a história de fundo que tenta justificar sua obsessão por vingança soa mais como uma desculpa rasa para a violência que ele impõe a Eddie. O filme tenta transformar William em um reflexo da injustiça social e do ressentimento das classes abastadas, mas falha ao não explorar de maneira mais profunda essas questões. Sua abordagem fria e calculista em relação à tortura de Eddie não resulta em uma crítica eficaz à desigualdade social, mas sim em um exercício de brutalidade desnecessária e, por vezes, repetitiva.

O maior problema de “Confinado” é a falta de risco e ousadia em seu desenvolvimento. Embora o filme comece com uma boa ideia, rapidamente se perde em uma repetição de cenas de tortura que não servem a um propósito narrativo mais amplo. A tensão que poderia surgir da situação desesperadora de Eddie é diluída pela falta de evolução da trama. Cada tentativa de fuga ou resistência de Eddie se torna previsível, pois o filme se recusa a desafiar as expectativas do público. A promessa de um thriller psicológico, onde o confronto psicológico entre os personagens seria o centro do filme, é substituída por uma sucessão de torturas físicas que acabam por se tornar enfadonhas. Não há espaço para uma batalha de vontades, pois Eddie está constantemente à mercê de William, que exerce um controle absoluto sobre ele.

Além disso, a ausência de personagens pelos quais o público possa torcer é outro obstáculo significativo para a eficácia de “Confinado”. A história é estruturada de maneira a nos fazer questionar a moralidade dos dois protagonistas, mas sem construir um cenário onde a empatia por um ou outro se faça valer. Enquanto Eddie é um criminoso de segunda classe, William é um justiceiro doente e insensível. Ambos são desprovidos de qualidades redentoras genuínas, o que enfraquece o impacto do filme. O roteiro de Michael Arlen Ross tenta fazer com que o público sinta compaixão por Eddie, mas isso se perde em sua construção, que o retrata como um homem sem muita redenção.

Por fim, a direção de Yaroevsky, tenta criar uma atmosfera de claustrofobia, utilizando o espaço restrito do SUV de maneira eficaz. As cenas que exploram o interior do carro são bem filmadas, e há uma tentativa inicial de construir uma sensação de confinamento angustiante. No entanto, essa sensação logo se perde, à medida que o filme se arrasta com cenas de tortura e monólogos intermináveis de William. O filme não consegue construir uma tensão que realmente prenda o espectador. Em vez disso, torna-se um exercício de resistência, com o público esperando ansiosamente pelo final, que, infelizmente, chega de forma abrupta e insatisfatória.

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