CRÍTICA | KARATÊ KID: LENDAS
Mais do que uma simples continuação, “Karatê Kid: Lendas” é uma carta de amor ao legado das artes marciais no cinema e, surpreendentemente, uma ponte bem construída entre gerações. Com direção de Jonathan Entwistle e roteiro de Rob Lieber, o filme une o passado e o presente da franquia em uma narrativa que equilibra nostalgia, lutas coreografadas com precisão e uma nova camada emocional.
O maior trunfo de “Karatê Kid: Lendas” está na improvável, porém carismática parceria entre Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e o Sr. Han (Jackie Chan). Macchio, retornando ao papel que o consagrou nos anos 1980, mostra domínio absoluto de seu personagem, agora mais maduro, mentor e consciente de seu papel na jornada dos mais jovens. Jackie Chan, por sua vez, continua uma força cinematográfica. Mesmo aos 70 anos, suas sequências de luta têm o mesmo brilho criativo de sempre, e sua presença como mestre é surreal, sensível e espirituosa.
O novato Ben Wang, interpretando Li Fong, é a alma renovada do filme. Trazendo uma atuação genuína, Li é um protagonista empático, um jovem deslocado entre culturas e ferido por uma perda recente, mas que encontra no karatê e no kung fu não apenas uma forma de autodefesa, mas de reconexão emocional e identidade. A trama acerta ao unir estilos de luta (karatê e kung fu) como metáfora para a fusão de origens, gerações e caminhos. Isso transforma o “confronto final” em algo mais do que um espetáculo atlético, torna-se o clímax de uma jornada pessoal e cultural.
Tecnicamente, o filme é bem acabado. As cenas de luta, como a sequência na cozinha com Chan, são coreografadas com maestria e inventividade. A cinematografia mescla o urbano de Nova York com referências visuais asiáticas, enquanto a trilha sonora alterna entre tons tradicionais e batidas contemporâneas, dando ao longa um dinamismo que sustenta sua proposta de modernizar sem trair as raízes.
No entanto, Karatê Kid: Lendas não está imune a tropeços. Alguns personagens coadjuvantes, especialmente os colegas de escola e antagonistas são pouco desenvolvidos, funcionando mais como catalisadores para o crescimento de Li do que como figuras memoráveis. Além disso, certos diálogos escorregam para o sentimentalismo excessivo, especialmente quando o filme se esforça para explicar suas metáforas em vez de simplesmente mostrá-las.
Ainda assim, esses deslizes não comprometem o impacto emocional da obra. “Karatê Kid: Lendas” consegue ser um filme que respeita o passado sem depender dele. Em tempos de franquias recicladas até a exaustão, é refrescante ver um projeto que entende sua herança, mas tem algo novo a dizer com coração, respeito e muito suor no tatame.
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