Crítica | Hurry Up Tomorrow — Além dos Holofotes
Em Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes, The Weeknd (agora caminhando para assumir oficialmente o nome Abel Tesfaye) entrega um thriller psicológico que é tão enigmático quanto revelador. Inspirado em seu sexto álbum de estúdio, o filme propõe uma imersão na mente de uma estrela em crise — e mais do que isso, sugere, em tom simbólico, a transição definitiva do artista da persona The Weeknd para sua identidade real: Abel.
A trama acompanha uma noite intensa de insônia vivida por um músico famoso, que encontra uma jovem obcecada por sua obra (interpretada com intensidade por Jenna Ortega). A partir desse encontro, o cantor mergulha em uma espiral emocional que desafia sua sanidade, seu ego e sua própria percepção de realidade. O que parece um suspense sobre obsessão logo se revela um drama introspectivo sobre identidade, solidão e a pressão da fama.
A direção opta por um estilo sensorial, com cortes não lineares, visuais carregados de simbolismo e uma trilha sonora que mistura faixas do álbum com composições inéditas. O resultado é uma experiência audiovisual hipnótica, mas que exige do espectador uma leitura subjetiva. Não há respostas fáceis — e isso pode dividir opiniões.
Embora o filme aponte claramente para o esgotamento emocional causado pela persona The Weeknd, a obra evita explicitar demais essa transição. Tudo está nas entrelinhas: as alucinações, os espelhos quebrados, os momentos de silêncio, a desconexão com o palco e o fascínio ambíguo da jovem que o acompanha — talvez uma projeção, talvez uma metáfora para o próprio público.
Esse simbolismo pode agradar profundamente aos fãs do artista, que encontrarão camadas de significado ligadas à trajetória musical e pessoal de Abel. No entanto, para o público geral, a falta de clareza narrativa e o excesso de pontas soltas podem soar frustrantes.
Apesar disso, Hurry Up Tomorrow é uma obra corajosa, que foge do óbvio e arrisca ao transformar um álbum em uma peça audiovisual complexa. Não é um filme sobre música: é sobre identidade, sobre o preço de um personagem público e sobre o momento em que o artista decide se despir dos holofotes e reencontrar a si mesmo.
Para fãs de The Weeknd, um prato cheio. Para os demais, uma viagem densa, mas nem sempre acessível
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