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CRÍTICA | MISSÃO IMPOSSÍVEL: O ACERTO FINAL

Depois de quase três décadas redefinindo os limites do que um filme de ação pode ser, “Missão Impossível - O Acerto Final” chega aos cinemas com o peso simbólico de um encerramento ou ao menos, a promessa de um. Sob o comando de Christopher McQuarrie e com Tom Cruise no auge de sua devoção kamikaze ao espetáculo, o oitavo (e talvez não último) filme da franquia é ao mesmo tempo grandioso, ambicioso, exaustivo e, por vezes, esquecível.

A ação continua sendo o motor principal da franquia, e isso o filme entrega com maestria. A sequência no submarino Sevastpol e o clímax aéreo em IMAX são “absolute cinema”, com a câmera bem coreografada e Tom Cruise desafiando a gravidade com uma entrega quase esplêndida. Não há dúvidas, ainda é impressionante ver tudo isso em um ator que se recusa a ser dublado por computação gráfica.

Mas enquanto o corpo do filme se move com vigor, sua alma tropeça. A primeira hora é um engessado "Previously on Missão Impossível", uma colagem expositiva que sacrifica ritmo e frescor em nome de uma recapitulação que parece desconfiar da memória do público. A franquia sempre flertou com a mitificação de Ethan Hunt, mas aqui o personagem vira quase uma entidade messiânica, alçado ao panteão não só da espionagem, mas da própria existência cinematográfica.

Essa gravidade auto imposta é o maior calcanhar de Aquiles do filme. O tom sombrio, os diálogos sussurrados com peso shakespeariano e o vilão digital onipresente "A Entidade" são tratados com tamanha seriedade que o charme brincalhão da franquia se esvai. O que sempre distinguiu Missão Impossível de seus pares era a consciência do absurdo, sabíamos que era tudo uma grande dança de risco, e o filme sabia que sabíamos. Em “O Acerto Final”, essa cumplicidade se perde.

O elenco veterano Simon Pegg, Ving Rhames, Hayley Atwell faz o possível para manter a leveza que o roteiro parece ter esquecido em algum lugar entre o segundo e o sétimo filme. Angela Bassett e Trammell Tillman são adições bem-vindas, com autoridade e presença, enquanto Pom Klementieff rouba cenas com uma fisicalidade ameaçadora que deixa no ar o desejo por um spin-off.

Já o antagonista humano, Gabriel (Esai Morales), é funcional, mas nada memorável. Seu papel como avatar da IA é mais simbólico do que ameaçador. E a IA, apesar de representar "todas as ameaças possíveis à humanidade", é tão abstrata que se torna quase irrelevante. O conceito de vilão digital não é novo, e aqui falta densidade para torná-lo interessante.

O subtexto do filme é claro, Missão Impossível se posiciona como bastião do "cinema de verdade" contra a desumanização digital. É Tom Cruise contra o algoritmo. A Entidade é tanto vilã narrativa quanto semiótica para um mundo dominado por inteligência artificial e deepfakes, uma mensagem relevante, mas que o filme martela com didatismo quase cômico.

Missão Impossível - O Acerto Final é tecnicamente impecável, visualmente impactante e, sim, vale o ingresso IMAX. Mas sua tentativa de ser o “Ultimato” da franquia o torna um épico que quer ser mais importante do que divertido. Em vez de confiar no charme que construiu ao longo de sete filmes, o filme tenta justificar sua própria existência com solenidade demais.

Felizmente, nos momentos em que Tom Cruise corre, pula, se pendura em aviões, mergulha em submarinos ou está de cuequinha, a velha mágica ainda está lá. Só é preciso paciência para atravessar a seriedade forçada que cerca esse universo de adrenalina.

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